Gregg Popovich. O rezingão de coração enorme é o treinador com mais vitórias na história da NBA
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Tem fama de mal-humorado, mas a forma como gere os San Antonio Spurs desde 1996, com cinco títulos da NBA conquistados pelo meio, colocam-no entre os grandes treinadores da história do basquetebol. Popovich é agora o que tem mais vitórias na fase regular, com 1.336 triunfos, ultrapassando Don Nelson, o homem que um dia lhe deu o cargo de treinador assistente nos Warriors
Não podia ser de outra maneira. O jogo acaba, um ou outro jogador aproxima-se de sorriso cheio e dá-lhe os parabéns. Depois até vem um adversário, que já foi seu jogador, o veterano Rudy Gay. Dá-lhe um abraço. Há como uma bolha de alegria prestes a rebentar. É Jakob Poltl, o gigante austríaco, que chega lá com uma agulha e a perfura, como que farto daquele festejo contido quando se está perante um momento histórico. Começa a abanar o treinador e logo se aproxima toda a equipa, que irrompe num festejo louco de saltos e berros. Dura apenas uns segundos. Gregg Popovich sorri, mas rapidamente foge para o balneário. As celebrações atoleimadas não são para ele, mesmo que os gráficos digam ao mundo que acabou de se tornar no treinador com mais vitórias na história da NBA.
Tudo aconteceu na apertada vitória por 104-102 frente aos Utah Jazz, o triunfo 1.336 de Popovich em 2.030 jogos na fase regular, ultrapassando assim Don Nelson, o homem que um dia o contratou para ser seu assistente nos Golden State Warriors, antes do treinador nascido no estado do Indiana há 73 anos tomar conta dos San Antonio Spurs, que treina de uma forma muito própria desde 1996.
Em San Antonio, ganhou cinco títulos e tornou gente como Tim Duncan, Manu Ginóbili, Tony Parker ou Kawhi Leonard em estrelas, sempre dentro do espírito de equipa e comunhão que é a marca de água de Popovich. Contou DeMar DeRozan, seu antigo jogador, hoje nos Bulls, à ESPN que Popovich obrigava os jogadores, por exemplo, a ver documentários da National Geographic sobre o comportamento em grupo dos pinguins, para que a equipa aprendesse a importância do trabalho de cada um para o objetivo comum. Tony Parker, ao mesmo canal, referiu a capacidade do técnico de “gerir a equipa e todos os seus egos” que fazem dele, para o francês, o melhor treinador da história.
Não há portanto fanfarra ou holofotes que encandeiem a vista de Pop, para quem nunca houve eu. “Todos nós partilhamos este recorde. Não é meu. É nosso, desta cidade”, sublinhou o técnico, que falou do feito como “um testamento de uma série de pessoas”.
“Algo assim não pertence a um indivíduo. O basquetebol é um desporto de equipa. Dás o discurso aos teus jogadores e eles têm de fazê-lo juntos e é isso que me tem acontecido na vida, com todos os fantásticos jogadores, treinadores e staff com os quais fui abençoado. E com o apoio desta incrível cidade”, frisou ainda o veterano treinador, que no último verão levou também a seleção norte-americana ao título olímpico em Tóquio.
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Conhecido pela sua pouca paciência para tudo o que está para lá do jogo e pelas suas entrevistas em modo rezingão, Gregg Popovich é também protagonista de inúmeras histórias de sensibilidade e coração aberto. Nunca reprimiu o seu apoio a causas como o feminismo (Becky Hammon foi durante anos e anos sua treinadora adjunta nos Spurs) e justiça social. Foi um crítico de Donald Trump e faz parte de diversas associações de caridade em San Antonio. Dele sobram pequenos contos de humanismo, como aquele contado por Chad Forcier, seu antigo assistente, sobre o dia em que Pop, numa gelada noite de inverno em Toronto, despiu o seu casaco de pele, encheu-o nos bolsos com notas e entregou-o a um sem-abrigo.
E a NBA também vai usufruindo da sua enorme capacidade de formar homens e mulheres. E não só nos jogadores. Mike Budenholzer, treinador campeão pelos Milwaukee Bucks na temporada passada, foi assistente de Popovich. Do outro lado na final estava Monty Williams, treinador que foi jogador de Popovich nos Spurs e deu os primeiros passos nos bancos como estagiário do treinador. Steve Kerr, treinador três vezes campeão com os Golden State Warriors, foi também jogador de Pop nos Spurs, contribuindo para o título de 2003 da equipa.