Alguém nas bancadas de Indian Wells provocou Naomi Osaka, depois da japonesa perder o seu jogo de serviço logo no início do encontro com Veronika Kudermetova. E a japonesa não mais se encontrou, no palco onde um dia as irmãs Williams também sofreram abusos raciais
Jornalista
Jogavam-se ainda os primeiros pontos do 1.º set do embate de Naomi Osaka com Veronika Kudermetova, em Indian Wells, quando das bancas alguém gritou: “Naomi, não prestas”. A japonesa tinha acabado de ser quebrada no jogo de abertura e quando voltou a servir as lágrimas corriam pela sua cara. A antiga número 1 mundial queixou-se à árbitra de cadeira, pediu a expulsão do autor do insulto do estádio, mas este permaneceu incógnito.
E Osaka não mais se levantou.
Há muito que a japonesa de 24 anos fala abertamente da luta contra os seus demónios, da sua saúde mental. Em 2021, depois de começar o ano com uma estrondosa vitória no Open da Austrália, Naomi viveu tormentos: desistiu de Roland Garros após um braço de ferro com a organização, por não querer dar conferências de imprensa, citando a proteção da sua saúde mental. Wimbledon ficou também de parte e o regresso à competição, nos Jogos Olímpicos de Tóquio, onde acendeu a pira olímpica, também não foi feliz, ao ser eliminada cedo. No último torneio do Grand Slam do ano, o US Open, nova derrota prematura, na 3.ª ronda.
Na reação a esse desaire com a tenista que seria finalista, Leylah Fernandez, Osaka disse que ia parar, que as vitórias no ténis só a faziam ainda mais triste, que um tempo afastada do ténis seria importante para se reencontrar. O tombo no ranking foi inevitável, Naomi é por estes dias apenas a 78.ª do Mundo e 2022 não tem sido bom. Na 2.ª ronda do torneio de Indian Wells, torneio que venceu em 2018, o primeiro grande resultado da carreira, defrontava a n.º 24 do ranking quando tudo aconteceu. No primeiro set, perdeu por claros 6-0. No segundo deu mais réplica, mas perderia por 6-4.
No final do encontro, a vencedora de quatro torneios do Grand Slam ficou para as entrevistas, algo normalmente reservado à vencedora. E aí, Osaka revelou que a provocação que sofreu trouxe à sua cabeça aquilo que as irmãs Williams viveram naquele mesmo palco em 2001.
Na final desse ano, Serena Williams foi fortemente assobiada e diz ter sofrido abusos raciais. A mais nova das Williams não tinha sido obrigada ao esforço da meia-final, depois de Venus, a mais velha, ter desistido do jogo ainda antes deste começar, a contas com uma lesão no joelho. O público não acreditou na lesão e puniu Serena, então com apenas 19 anos, durante toda a final. Depois disso, a norte-americana esteve 14 anos sem meter os pés naquele que é considerado o 5.º Grand Slam.
“Para ser honesta, já fui insultada antes, não me incomoda muito. Mas ser provocada aqui… eu vi o vídeo da Venus e da Serena a serem abusadas aqui, se nunca o viram devem vê-lo. Não sei porquê, mas aquilo ficou na minha cabeça e repetiu-se muito”, explicou Osaka, de lágrimas nos olhos.
“Estou a tentar não chorar”, frisou ainda a tenista nipónica, que agradeceu o apoio do público, que se colocou do seu lado após o insulto. Não seria, no entanto, suficiente para Naomi Osaka dar a volta.
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