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Indian Wells. As “mil vidas” de Nadal superaram o vento e o incontrolável Alcaraz: “Recorda-me a minha energia e paixão”

Indian Wells. As “mil vidas” de Nadal superaram o vento e o incontrolável Alcaraz: “Recorda-me a minha energia e paixão”
Clive Brunskill

Durante mais de três horas, os dois espanhóis bateram bolas de todos os feitos e ideias e ofereceram um jogão de ténis, que só foi beliscado no segundo set pela enorme ventania que assolou a arena. Nadal vai disputar a quinta final em Indian Wells. Do outro lado terá Taylor Fritz: um norte-americano não vence ali desde 2001, quando Agassi bateu Sampras

Era quase como se ambos tivessem viajado no tempo, encontrando-se a meio caminho. O prodígio contra a lenda eterna. O miúdo contra o velho sábio. Reveem-se um no outro e esse é talvez um daqueles abraços de alma. A energia de ambos estava nos píncaros, assim como a qualidade e maturidade das bolas que iam trocando.

Aos 35 anos, Rafael Nadal estava à procura da quinta final em Indian Wells e foi isso mesmo que encontrou depois de 3h13: 6-4, 4-6, 6-3. O nível do ténis, que era assombroso, foi beliscado pela ventania que atacou no segundo set. Os tenistas chegaram a sorrir um para o outro, no início desse violento e repetido suspiro dos céus. Voaram toalhas, sacos, até partes da rede saltaram. A bola aterrava onde não era suposto aterrar, transtornando o perfeito posicionamento dos atletas. Foi um exercício de resistência, mental sobretudo, já que se deram muitos e muitos erros não forçados. Bom, forçados pelo vento.

“Foi o meu melhor jogo no torneio, esta vitória significa muito para mim”, começou por dizer Nadal, que teve de ser assistido durante a partida, porventura “por um mau gesto”. Rafa admitiu que se diverte a jogar sacudido pelo vento, pois tem de “encontrar soluções” a toda a hora. “Mas não desfruto quando temos de parar a cada momento. O problema é que não existe uma norma que obrigue a suspender o jogo.”

Nadal deparou-se com um leão que disparava direitas e esquerdas com uma potência importante, e que aguentava a troca de bolas como um tal de Rafa, o seu ídolo. E salvava tanto, correndo de um lado para o outro, parecia voar no court. Era um espelho. “Eu estava a jogar bem no início, mas foi tão difícil pará-lo com as suas pancadas incríveis”, admitiu o maior vencedor de majors da história. “Depois disso, não posso dizer que estive em controlo, porque é impossível controlar contra um jogador como ele.”

FREDERIC J. BROWN

Sobre Alcaraz, de 18 anos, o menino com olhos sérios e compromisso e músculos e coração para ficar num court até amanhã de manhã, sobraram elogios a Nadal: “Entrei com o máximo respeito. É muito agressivo e defende bolas incríveis. A qualidade com a bola é muito alta. Em termos de nível, a minha sensação é a de ter jogado contra um top-8. Recorda-me a minha energia, paixão e determinação que tem para converter-se num grande campeão.”

É certo que não há vitórias morais, que Alcaraz quereria jogar a final em Indian Wells, mas estas palavras são para imprimir e colar em qualquer lado. “Foi renhido e vou embora contente”, concedeu o jovem tenista. “Estive perto. Em alguns momentos, pensei que lhe podia ganhar, mas o Rafa tem mil vidas. No primeiro set joguei contra ele e contra mim, mas no segundo e terceiro queria demonstrar o meu nível para ganhar-lhe ou ficar perto.”

Nadal, que mantém a invencibilidade em 2022 (20 jogos), tenta agora o quarto título em Indian Wells, o que lhe permitiria empatar com Novak Djokovic no que toca a torneios Masters 1000 (37). Na final terá pela frente o norte-americano Taylor Fritz, que derrotou o russo Andrey Rublev por 7-5 e 6-4. Não se via um tenista dos Estados Unidos na final do torneio desde John Isner (2012). Para recordar o último vencedor norte-americano é preciso recuar a 2001, quando André Agassi bateu Pete Sampras.

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