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Ciclista transgénero proibida pela UCI de competir no campeonato britânico

Ciclista transgénero proibida pela UCI de competir no campeonato britânico
Huw Fairclough/Getty

Emily Bridges, de 21 anos, não foi autorizada a participar no campeonato britânico, que seria a sua estreia em provas femininas. A União Ciclista Internacional considerou que Emily só poderá competir após o seu registo masculino caducar

A ciclista transgénero Emily Bridges, de 21 anos, foi impedida de participar no campeonato britânico por ainda estar registada na UCI como homem. Bridges que, como júnior, bateu um recorde masculino em 2018, começou a tomar hormonas há cerca de um ano e contava participar na sua primeira prova feminina. No entanto, a União Ciclista Internacional alega que isso só poderá acontecer quando o seu registo masculino caducar.

A decisão da UCI poderá ser mais uma acha para a fogueira crescente sobre a participação de atletas trans em provas correspondentes ao seu género atual. O jornal inglês “The Guardian” menciona que alguns grupos de ciclistas femininas puseram a hipótese de boicotar o evento na cidade de Derby, por considerarem que Bridges, que correu como homem até 2020, tem uma vantagem injusta sobre elas.

Numa declaração que confirmou a notícia, dirigentes da British Cycling, federação britânica de ciclismo, confessaram-se “desiludidos” com a decisão do organismo internacional: “Temos mantido uma conversa com a UCI em relação à participação da Emily na prova do próximo fim de semana. Também temos estado empenhados, com a Emily e a sua família, em ajudar na transição e no seu envolvimento em competições de elite. Aceitamos a decisão da UCI, mas reconhecemos a desilusão”.

A British Cycling tem pedido que seja formada uma “coligação” para discutir o problema dos atletas transgénero e não-binários. A questão “é maior do que uma prova e uma atleta; é um desafio para todos os desportos de elite”, pode ler-se num comunicado. “Acreditamos que todos os envolvidos no nosso desporto merecem mais clareza e compreensão sobre a participação em competições de elite”, refere a BC.

A questão da inclusão de atletas trans e não-binários em provas que não se referem ao género com que foram registados logo após nascerem tem sido colocada em várias modalidades. Em março, a nadadora americana Lia Thomas fez história ao tornar-se a primeira atleta transgénero a vencer uma medalha de ouro no campeonato universitário dos EUA.

Na cerimónia do pódio, as olímpicas Emma Weyant, Erica Sullivan e Brooke Forde juntaram-se no terceiro lugar e tiraram fotografias que não incluíram a vencedora da prova. Lia não terá ficado surpreendida. Quando o seu nome foi anunciado, os insultos vindos das bancadas ou a indiferença dos poucos aplausos não deixaram dúvidas: há um longo caminho a percorrer para a inclusão de desportistas transgénero na alta competição.

Lia Thomas foi recentemente capa da revista “Sports Illustrated”. Em entrevista à publicação, a atleta disse: “Só quero mostrar às crianças e aos jovens atletas transgénero que não estão sozinhos”.

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