Expresso

Gareth Southgate duvidou do respeito pelos direitos humanos no Catar. O líder do Mundial 2022 aconselhou-o a “escolher bem as palavras”

Gareth Southgate duvidou do respeito pelos direitos humanos no Catar. O líder do Mundial 2022 aconselhou-o a “escolher bem as palavras”
Catherine Ivill/Getty

Southgate já tinha falado sobre o tema, colocando a hipótese de não ser uma boa ideia organizar um Campeonato do Mundo num país do Golfo Pérsico. Num evento que reuniu as estrelas da seleção inglesa para falar sobre o Catar, o técnico referiu o desrespeito pelos direitos humanos no país. A organização do Mundial deixou um aviso

O antigo internacional inglês e atual selecionador da sua nação, Gareth Southgate, tinha vindo a demonstrar preocupação com o facto de o país que organiza o Mundial 2022 ser suspeito de desrespeito pelos direitos humanos. Southgate mostrou-se cético em relação à ocorrência de um torneio desta envergadura num estado daquela parte do mundo.

Mais recentemente, num encontro entre os elementos que compõem a seleção inglesa, com o objetivo de falar precisamente sobre o Catar, o técnico voltou a referir as suspeitas de violação dos direitos humanos. A resposta de Nasser Al Khater, CEO do Mundial, não se fez esperar. O líder da organização do Mundial aconselhou Gareth Southgate a “escolher bem as palavras”.

As acusações relativas ao tratamento desumano de trabalhadores migrantes estão longe de ser novas — o ano passado, o "The Guardian" avançou que cerca de 6.500 já teriam morrido desde 2010, ano em que o Catar foi escolhido para organizar o Mundial. Os maus-tratos a trabalhadores, principalmente da construção civil, estarão longe de ser o único problema.

No Catar, a homossexualidade é crime, punível com pena de prisão, lembra o mesmo jornal inglês. O casamento entre pessoas do mesmo sexo não é reconhecido pelo regime catari e, um pouco por toda a região, há evidências de que as mulheres têm direitos extremamente limitados.

Southgate já tinha lamentado a ausência anunciada de vários grupos de adeptos ingleses, que não se sentem confortáveis num país com tantas limitações. O selecionador inglês fez questão de lembrar que ninguém é “cúmplice” das situações que ocorrem no país árabe.

O evento que juntou os jogadores e a equipa técnica de Inglaterra serviu para dialogar sobre formas de mostrar a sua oposição à forma controversa de atuar por parte do Governo catari. O selecionador questionou o que poderia resultar de um eventual boicote inglês ao Campeonato do Mundo. Southgate, que já está no Catar para o sorteio de sexta-feira, admitiu que qualquer atitude tomada pela Federação Inglesa de Futebol neste âmbito acabaria por ser criticada.

Al Khater expressou o desejo de falar cara a cara com o selecionador inglês, em Doha, durante o congresso da FIFA. “A minha pergunta será: Quem, da equipa inglesa, já esteve no Catar? O treinador já esteve no Catar?”, questionou o dirigente, em entrevista à Sky Sports. “Ele está a basear as suas opiniões e as suas declarações públicas no que leu? Porque é problemático quando se baseia uma opinião (…) em coisas que se leram”, disse Al Khater, que deixou um conselho: “Alguém com a influência de Southgate, com uma grande audiência que ouve o que ele diz, tem de escolher bem as palavras”.

O dirigente catari admitiu que “há casos isolados” em relação ao desrespeito pelos direitos humanos. “Se ele vier cá falar com a maioria dos trabalhadores, eles vão dizer-lhe como puseram os filhos na universidade, como construíram casas para eles e para as suas famílias. Estas são as histórias que ninguém ouve”, lamentou Al Khater.

Apesar da troca de argumentos à distância, o líder da organização do Mundial 2022 garante que está “ansioso por dar as boas-vindas [a Southgate]”. “Respeito-o como treinador e como ser humano. Não tenho problemas com as opiniões das pessoas. Obviamente, quando alguém tem uma opinião diferente, há que mostrar-lhe o outro lado da história. Podemos concordar em discordar”, disse Al Khater. No Catar, algumas “diferenças de opinião” continuam a dar prisão ou castigos que vão mais longe.

Tem alguma questão? Envie um email ao jornalista: clubeexpresso@expresso.impresa.pt