Entre os poucos minutos na NBA e as boas prestações na G League, “há potencial para que Neemias Queta seja um jogador regular da NBA”

Em julho de 2021 foi escolhido no draft da NBA pelos Sacramento Kings, em dezembro jogou os seus primeiros minutos na principal liga de basquetebol norte-americana e, em janeiro, somou os seus primeiros pontos (11), frente aos Cleveland Cavaliers. Com os Sacramento Kings e os Stockton Kings fora do play-off da NBA e da G League, respetivamente, chega agora ao fim a primeira época de Neemias Queta nas duas ligas.
Os Kings foram a equipa que receberam o primeiro português a alinhar na NBA, mas o comentador Ricardo Brito Reis considera, em declarações à Tribuna Expresso, que o jogador foi "escolhido por uma equipa com um contexto difícil", uma vez que “não são uma equipa considerada das mais organizadas da NBA, nem uma das que melhor desenvolvem os jogadores mais jovens”. Para um rookie, escolhido na segunda ronda do draft, esse trabalho junto da equipa técnica é muito importante. A G League acabou por ser o local onde conseguiu jogar mais minutos.
“A equipa da G League faz 47 jogos oficiais e, desses, o Neemias participou em 25, entre Showcase Cup e fase regular. A equipa no geral teve mais derrotas do que vitórias, mas nos 25 jogos em que o Neemias participou: 15 vitórias e 10 derrotas. O impacto do Neemias foi evidente”, afirma Reis.
O jornalista norte-americano James Ham, insider na ESPN 1320 e fundador da newsletter e podcast ‘The Kings Beat’, também não consegue evitar mencionar a G League quando se trata de fazer uma avaliação à primeira época do português. “Onde encontrou sucesso foi ao nível da G League, onde conseguiu uma média de 17,1 pontos, 7,7 ressaltos e 1,6 desarmes de lançamento em 26 minutos por jogo. Ele melhorou claramente à medida que a época continuava a decorrer. Foi o melhor jogador dos Stockton Kings durante grande parte da época e eles tiveram dificuldades quando ele não estava no campo”, disse à Tribuna Expresso.
Nos Sacramento Kings, a competição pela posição de poste foi grande desde o início e nem as mudanças no plantel aumentaram as chances do português. Saiu Tristan Thompson, mas chegou Domantas Sabonis diretamente para o lugar de titular. As duas alturas em que teve direito a mais minutos foram quando a covid-19 levou vários jogadores a ficar em isolamento e no final da época, quando, feitas as contas, a equipa já tinha perdido a esperança de jogar o torneio play-in. Mas até aí se falhou na questão de desenvolvimento dos jogadores.
“Sendo que já se percebia há algum tempo que a equipa não tinha grandes hipóteses de lutar pelo play-in, o que fazia sentido era a equipa começar a desenvolver jovens, os rookies Davion Mitchell e o Neemias. Em relação aos postes, fazia sentido que ele passasse à frente na rotação de um ou dois postes que por lá andavam. Eles não fizeram isso e acho que o Neemias acabou por ser prejudicado pela gestão do plantel que foi feita, uma gestão do treinador, que é um dos culpados da pouca utilização do Neemias, mas também o próprio front office acaba por ter uma quota-parte de responsabilidade porque mantiveram muitos postes no plantel mesmo quando tentaram reajustar a equipa”, diz o comentador.
O crescimento do jogador passou muito pela dedicação do próprio fora do calendário dos Kings. Longe da quadra, Ricardo conta que Neemias se dedicou bastante aos treinos individuais e físicos. “Acho que ele, ao contrário de nós que vivemos aqui as coisas um bocadinho com mais sofrimento, mais paixão, não se deixou afetar por nada do que estava a acontecer em Sacramento e manteve-se sempre muito focado. Era evidente que ele estava sempre satisfeito por estar na equipa principal mesmo não jogando, era sempre o primeiro a levantar-se para motivar os colegas, estava genuinamente feliz por estar ali”, diz.
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