Monika Staab, a alemã que foi à Arábia Saudita fundar a seleção feminina: “As mulheres são livres, não conheci uma que não seja feliz”

Editor de Desporto
Monika Staab fala pelos cotovelos. É árduo travá-la e contraria qualquer pergunta que tente ser em vírgula no discurso que lhe sai fluído, acelerado e com ideias a atropelarem-se umas às outras, mas por nada que seja criticável. A alemã, de 63 anos, quer contar histórias, explicar caminhos e nada deixar por dizer, vítima da aceleração irrequieta que parece ser a sua vida. De facto, só podia.
Já trabalhou para mais de 80 federações de futebol e azáfama é a nacionalidade que deve constar no seu passaporte. Em 2002, era a treinadora do Eintracht de Frankfurt, clube da sua terra onde ocupou tudo quanto era cargo e conquistou a primeira edição da Liga dos Campeões feminina. Só por isso, já seriam históricos os olhos azuis filtrados pelos óculos de quem nasceu ainda nos tempos em que as mulheres não podiam jogar futebol na Alemanha.
Quando, aos 13 anos, lhe detetaram o jeito para a bola, teve de ir logo para uma equipa sénior fazer pela vida entre mulheres graúdas, “era tão pequena que corria entre as pernas” e lhe chamavam “embrião”. Fala dessa alcunha como “engraçada”, mas hoje merecia outras que puxassem por conotações mais simpáticas face ao que Monika Staab tem lutado para desbravar “nos últimos 53 anos”. E não parece estar para breve o dia em que vai parar.
Com o sorriso facílimo de irradiar, o cabelo grisalho e curto e um inglês apressado, em constante recoleção do que tem feito, a conversa por vídeochamada que dura mais de uma hora serve de reportório em direto de tudo o que a alemã já fez por outras mulheres. Ela fala a partir de uma sala na Arábia Saudita, onde está desde o final do ano passado, depois de ter recebido uma chamada com um indicativo que não conhecia. Feitas as aventuras no Gabão, Catar, Irão, Paquistão ou Bahrain, a treinador foi para o país onde, até 2018, as mulheres não eram autorizadas a conduzir ou sequer entrar em estádios de futebol.
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