Expresso

Wimbledon proíbe presença de tenistas russos e bielorrussos. Kremlin considera decisão “inaceitável”

Wimbledon proíbe presença de tenistas russos e bielorrussos. Kremlin considera decisão “inaceitável”
John Walton - PA Images/Getty
O Grand Slam londrino anunciou que atletas dos dois países não poderão participar na competição, que decorrerá em junho e julho. Cinco jogadores do top 100 masculino, incluindo o n.º 2 Daniil Medvedev, e 11 do top 100 feminino, como a n.º 4 Aryna Sabalenka ou a antiga n.º1 Victoria Azarenka, ficarão de fora de um dos quatro majors da temporada
Wimbledon proíbe presença de tenistas russos e bielorrussos. Kremlin considera decisão “inaceitável”

Pedro Barata

Jornalista

É mais uma consequência desportiva da invasão da Ucrânia feita pela Rússia: Wimbledon, torneio inglês que é um dos quatro mais importantes do ténis, baniu os jogadores e jogadoras da Rússia e da Bielorrússia de participarem na competição. Assim, os atletas dos dois países não estarão no terceiro major da temporada, que começa a 27 de junho e termina a 10 de julho.

A decisão foi oficializada através de um comunicado, no qual a organização de Wimbledon explica ter a "responsabilidade" de participar nos "esforços do governo, da indústria, das instituições desportivas e criativas" no sentido de "limitar a influência global da Rússia". Neste sentido, lê-se, seria "inaceitável" que o "regime russo beneficiasse" da participação de atletas da Rússia e da Bielorrússia.

Esta medida segue-se a muitas semanas de especulação. Pouco depois do começo da guerra, a 1 de março, foi anunciado que os jogadores russos e bielorrussos poderiam continuar a disputar torneios ATP e WTA, mas não sob a bandeira dos respetivos países, que foram banidos das provas por seleções — a Taça Davis para os homens e a Billie Jean King Cup para as mulheres.

Desde então, os atletas provenientes de ambos os países têm jogado sem qualquer referência aos seus países de origem, competindo como jogadores neutrais.

No entanto, duas semanas depois deste anúncio por parte das entidades que organizam os circuitos profissionais feminino e masculino, Nigel Huddleston, ministro britânico do desporto, avançou a possibilidade de os atletas de modalidades individuais, caso quisessem competir no Reino Unido, darem uma "garantia" de que não defendem o regime de Vladimir Putin. O governante disse, então, estar em "conversações" com os organizadores do torneio de Wimbledon sobre a questão.

Na sequência destas declarações de Huddleston, o presidente da WTA, Steve Simon, defendeu que os tenistas da Rússia e da Bielorrússia deveriam ser autorizados a competir, dado que não têm nada a ver com as “decisões de uma liderança autoritária”, referindo-se ao regime de Vladimir Putin. A 5 de abril, o "Telegraph" voltou a noticiar a hipótese de Wimbledon fechar mesmo as portas aos atletas de ambos os países.

Inicialmente, a organização do Grand Slam assinou o já referido comunicado no qual se permitia que russos e bielorrussos continuassem a jogar — o texto foi subscrito pela ATP (organizadora do circuito masculino), WTA (responsável pelo circuito feminino), ITF (federação internacional) e os quatro torneios do Grand Slam (Open da Austrália, Roland-Garros, Wimbledon e US Open).

Aryna Sabalenka, tenista bielorrussa, n.º4 do ranking WTA, em Wimbledon 2021
ADRIAN DENNIS/Getty

No entanto, ao serem organizados de forma independente e separada do resto dos circuitos profissionais do ténis, os majors possuem autonomia para tomarem decisões autónomas. Segundo o "The Times", a decisão de Wimbledon segue-se a "dois meses de discussão" entre o All England Club, organizador do torneio, e o governo britânico.

De acordo com o jornal, os responsáveis por Wimbledon descartaram a sugestão do executivo de Londres — indicando que os atletas ter-se-iam de distanciar de Putin para competirem — por "colocar em risco as famílias" dos tenistas. Vários membros do All England Club, um clube privado, terão expressado preocupação quanto ao cenário de haver russos ou bielorrussos a triunfarem em Wimbledon, particularmente no ano em que se celebra o 100.º aniversário do icónico centre court do torneio, podendo esses êxitos ser aproveitados pelos regimes de Vladimir Putin ou Aleksandr Lukashenko.

O governo russo já reagiu a esta medida tomada por uma das principais competições do calendário desportivo. Citado pela "AFP", Dmitry Peskov, um porta-voz do Kremlin, classificou a decisão como sendo "inaceitável", considerando que "atletas são feitos reféns de intrigas políticas" por a Rússia ser "um país muito forte no ténis" e Wimbledon "será prejudicado" por esta proibição.

Desde o pós-II Guerra Mundial, quando tenistas da Alemanha e Japão foram impedidos de competir, que Wimbledon não decretava uma proibição a participantes de um país em específico. Nos anos 70 e 80, houve pressão para que atletas da África do Sul fossem excluídos devido ao regime de apartheid existente, mas nunca se verificou qualquer exclusão.

De Medvedev a Sabalenka

A decisão de excluir russos e bielorrussos terá muito impacto desportivo em Wimbledon, uma vez que há tenistas de ambos os países em posições de destaque no mundo da bola amarela.

Assim, no lado masculino, este impedimento impossibilita a presença de Daniil Medvedev, n.º 2 do mundo e líder do ranking ATP entre 28 de fevereiro e 20 de março. O vencedor do US Open 2021 é um de cinco russos ou bielorrussos entre os 100 primeiros da hierarquia mundial — regra geral, os 104 melhores do mundo têm entrada direta nos quadros principais dos majors.

Além de Medvedev, há outros três russos entre os 30 primeiros: Andrey Rublev (n.º 8), Karen Kachanov (n.º 26) e Aslan Karatsev (n.º 30). A 25 de fevereiro, depois de vencer um encontro no Dubai, Rublev escreveu na lente de uma câmera de televisão "no war, please" ("não à guerra, por favor).

No circuito feminino, a marca das atletas de ambos os países é ainda mais forte. Há 11 russas ou bielorrussas entre as 100 melhores do ranking WTA, entre as quais a atual n.º 4 do mundo, Aryna Sabalenka, da Bielorrússia. Victoria Azarenka, também natural do país liderado por Lukashenko, é a 18.ª da hierarquia, mas já foi a n.º 1 do mundo. Anastasia Pavlyuchenkova, 15.ª do ranking e melhor jogadora russa da atualidade, já pediu publicamente que "a guerra acabasse".

Tem alguma questão? Envie um email ao jornalista: tribuna@expresso.impresa.pt