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O génio dos tacos, Ronnie O’Sullivan: o Mr. Snooker foi “de férias” para os Mundiais e ganhou o sétimo título aos 46 anos

O génio dos tacos, Ronnie O’Sullivan: o Mr. Snooker foi “de férias” para os Mundiais e ganhou o sétimo título aos 46 anos
Lewis Storey/Getty

Foi viciado em drogas e álcool, tratou-se, voltou e ainda é o único jogador a ultrapassar a marca dos 1.000 century breaks, além de ser o mais rápido a superar 147 pontos numa jogada. Ronnie O’Sullivan tem 46 anos, hoje tem o vício de correr e conquistou o sétimo título mundial de snooker sem pensar em recordes. Quando deixar o jogo (algo que ameaça fazer há mais de uma década), diz que pretende dedicar-se a ajudar pessoas que tenham os mesmos problemas de saúde mental que ele teve

O génio dos tacos, Ronnie O’Sullivan: o Mr. Snooker foi “de férias” para os Mundiais e ganhou o sétimo título aos 46 anos

Diogo Pombo

Editor de Desporto

Integralmente ornamentado de preto, uma perna cruzada sobre a outra e sentado a um canto, ele espera. Fita o adversário ao longe mas ainda tão perto, com um certo ar de quem se aborrece com a mesma facilidade de uma criança hiperativa a brincar com peças Lego. Mesmo com o traseiro no descanso, o olhar paira sobre a mesa e mal reage, o taco repousa ao seu lado enquanto faz a cabeça tombar ao de leve sobre uma das mãos que se ergue do ângulo reto desenhado com os braços. Ronnie O’Sullivan parece um enigmático e mero cidadão resignado à solidão num beco de um daqueles bares obscuros, meio salão de jogos, meio albergue para afogamento de problemas.

Nada de mais errado. Às tantas, colocou-se de pé e caminhou na direção de Judd Trump. O mais novo, sem cabelos brancos e mais aperaltado tipo contra quem jogava a final do World Championship ainda não batera a última bola para entrar num dos buracos da mesa e o inglês já esticara um punho fechado para o cumprimentar e seguir dali para hora. A decisão ia em 14-10 a favor do quarentão quando os finalistas foram descansar. Três horas depois voltariam para O’Sullivan dar outra tacada na sua estória dentro da história: um sétimo título mundial, que o fez igualar o escocês Stephen Hendry e ficarem como os dois tipos ainda vivos com mais conquistas.

O inglês é, contudo, distinto em várias coisas e o ponto de partida é a habilidade que carrega para ser um alquimista do jogo das bolas vermelhas misturadas com a verde, a rosa, a amarela e a castanha, essas ditas “bolas de cor” que fazem o trânsito por onde a branca passa a mando de Ronnie O’Sullivan. Com o seu ar de quem poderia ser o irmão a mediar as pazes entre os manos Gallagher para reunir de volta os Oasis, desde os 15 anos, quando começou a competir, que deu às mesas o seu estilo frenético e acelerado de jogo, de quem é quase indiferente a mão que usa para guiar o taco e lograr jogadas ligadas com precisão geométrica.

Hoje está com 46, grisalho nas patilhas que lhe descem nas bordas da cara e nas várias marcas que detém no jogo onde o suor fica para o intelecto, a destreza e os neurónios que se espremem para se tentar visualizar mais adiante. O’Sullivan é o único a ter superado a marca dos 1.000 century — quando um jogador faz mais de 100 pontos numa mesma ida à mesa — e o mais rápido da história a ter compilado um break máximo, conseguido se o dono do taco chegar ao teto dos 147 pontos possíveis numa mesma jogada. A explicação por extenso agiganta a tarefa: implica intercalar, sem falhas, uma bola vermelha no buraco seguida da preta e assim sucessivamente, além das restantes bolas de cor, sem que o adversário jogue pelo meio. Demorou cinco minutos e oito segundos.

Quando ele e Judd Trump retornaram, na segunda-feira, às redondezas da mesa em cuja órbita se decidiria o título mundial, vimo-lo de novo com a sua expressão franzida a polvilhar o taco com o giz azul depois de cada demonstração absurdamente enganadora, tão falsa, de que o snooker é um jogo fácil. O espantoso quando está O’Sullivan a segurar na régua é essa ilusão vinda do constante controlo da bola branca, sempre deixada a jeito para o próximo ricochete que levará outra bola para um outro buraco — parece estar ao alcance de qualquer um que treine o suficiente, bastará paciência e dedicação. Qual quê, é enganador.

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