Infantino e os trabalhadores migrantes no Catar: “Quando dás trabalho a alguém em condições difíceis, dás-lhes dignidade, não é caridade”
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O presidente da FIFA aproveitou uma conferência para se pronunciar sobre os mais de 6.500 trabalhadores estrangeiros que terão morrido a construir os estádios do próximo Campeonato do Mundo de futebol. Gianni Infantino disse que a organização a que preside “não é a polícia do mundo”, nem é “responsável por tudo o que acontece”
Gianni Infantino, presidente do órgão máximo do futebol mundial, esteve numa conferência em Los Angeles e voltou a falar sobre os migrantes que morreram a trabalhar na construção das infraestruturas que vão receber o Mundial 2022, no Catar. Apesar dos números assustadores, Infantino conseguiu optar por um discurso otimista: “Quando dás trabalho a alguém em condições difíceis, dás-lhes dignidade e orgulho e não caridade”.
Como relata a televisão "France24", o líder da FIFA foi questionado se assumiria “algum tipo de compromisso” para ajudar as famílias dos trabalhadores que morreram no Catar. Infantino não respondeu diretamente, mas referiu a introdução de um salário mínimo e da melhoria dos direitos laborais no país árabe.
“Não nos esqueçamos disto quando falamos sobre este tópico: é trabalho, mesmo trabalho duro. A América é um país de imigrantes. Os meus pais emigraram de Itália para a Suíça. Não é tão longe, mas ainda assim. (…) Não se dá trabalho a alguém dizendo, ‘OK, fica onde estás. Eu sinto-me bem porque posso dar-te algo’”, disse Gianni Infantino, que acrescentou que a FIFA “não é a polícia do mundo” nem é “responsável por tudo o que acontece”.
Segundo publicou o jornal inglês “The Guardian” em dezembro de 2021, mais de 6.500 trabalhadores migrantes perderam a vida no Catar desde 2010, ano em que foi divulgada a sede do Mundial 2022. A partir dessa altura, o país iniciou a construção de grandes infraestruturas, como estádios, mas também hotéis, aeroportos ou redes de transporte.
A Amnistia Internacional acusa o Catar de não ter concretizado as mudanças prometidas sobre o sistema laboral, ao contrário do que afirma o presidente da FIFA, mantendo “práticas abusivas” em relação à mão de obra migrante. A ONG fala de dois milhões de pessoas sujeitas a “exploração, trabalho forçado, falhas no pagamento de ordenados e condições de vida miseráveis”.