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Temos de falar sobre Carlos Alcaraz, o novo prodígio do ténis, mas ele prefere que lhe chamem Carlitos

Temos de falar sobre Carlos Alcaraz, o novo prodígio do ténis, mas ele prefere que lhe chamem Carlitos
Clive Brunskill/Getty
Ganhou ao número um, dois e quatro do ranking em jogos seguidos, em Madrid, mas esta série está longe de encapsular o que já é Carlos Alcaraz. Aos 19 anos e três dias, o espanhol ganhou o segundo torneio Masters da época, destruindo com os seus músculos, pancadas-martelo e amortis feitos como se nada fosse quem lhe apareceu do outro lado da rede. Não se trata de estarmos a testemunhar o futuro do ténis: o presente já o tem como um dos melhores do mundo, sem que alguém ouse balizar-lhe a evolução. A próxima paragem é Roland Garros
Temos de falar sobre Carlos Alcaraz, o novo prodígio do ténis, mas ele prefere que lhe chamem Carlitos

Diogo Pombo

Editor de Desporto

Verdade seja escrita, o volley de Rafael Nadal não saiu brilhante: a bola foi bater a meio do campo, apenas rápida em vez de rapidíssima, decidida sem ser resoluta e apesar de ser batida com a direita e com ele embalado, a correr em direção à rede. Mas, claro, ele é Rafael Nadal, há pontos em que até a gravidade sentirá o peso intangível deste lendário que segura a raquete, ainda mais estando ele a defender-se de um match point, a tentar resistir a um acosso aplicado a um dos maiores que já existiram. Quando se suplanta um certo patamar de grandeza, também se joga com, ou contra isso, coisas que se sentem sem se verem e testam a dureza de espírito.

Ou, porventura, isto sejam apenas balelas, meros pesos dados como adquiridos na cabeça de desportistas devido às tantas estórias contadas por atletas que os precederam, sobre como o tico e o teco são atazanados por essa multitude de coisas que se costumam resumir como pressão.

Mas não, neste caso nem por isso, a bola batida pelo ganhador de vinte e um Grand Slams foi respondida pelo esquadro do rapaz bruto, musculado e vascularizado nos braços, que no direito segurava a raquete que parecia o instrumento de geometria — nesse derradeiro ponto, abeirado na hipótese de ganhar na terra batida ao imperador do pó de tijolo, Carlos Alcaraz inventou um passing shot que caiu no canto do campo.

A cara que cobriu de espanto maquilhou-se com tanto de franqueza, como de estupefação enganadora.

Com 19 anos feitos na véspera, o mais novo dos espanhóis vencia, pela primeira vez (6-2, 1-6, 6-3) e nos quartos-de-final do Masters 1000 de Madrid, o laureado-mor dos tenistas alguma vez nascidos em Espanha. E o que o terá surpreendido foi a vitória, não propriamente a absurda bola que a confirmou.

Regressado a si, apressou-se rumo à rede para abraçar a lenda tombada, trocarem umas palavras e cada um ir para o seu banco. Nadal pouco demorou a arrumar os seus pertences e a caminhar em direção ao balneário. Ao reparar, Alcaraz levantou-se com algum atabalhoamento e começou a aplaudi-lo; parecia mais um fã do que um adversário a demonstrar o brio de vencedor, com as suas marcas de acne e a imitação de barba na cara. “Estou feliz por ele”, diria depois o campeão de tantas batalhas. “Penso que tem nível para bater qualquer um, sem dúvida. Quando a sua adrenalina sobe, é praticamente imbatível”, acrescentou o raramente derrotado espanhol, de 35 anos, quando debaixo dos pés está a superfície alaranjada que o sublima. Pelos vistos, também lhe dá poderes de vaticínio.

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