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A Liga dos Campeões terá nova revolução em 2024. Mas não será a primeira, numa história que começa em 1955

A Liga dos Campeões terá nova revolução em 2024. Mas não será a primeira, numa história que começa em 1955
Charlotte Wilson/Offside/Getty

Da sua fundação até 1991, a então Taça dos Campeões Europeus foi uma competição praticamente inamovível, com eliminatórias até à final. Apareceu então a fase de grupos, em diferentes formatos. Em 2024 chega nova alteração de fundo: 36 equipas vão competir numa liga única, a decorrer no chamado "sistema suíço". O que foi mudando ao longo dos anos na mais importante competição de clubes do mundo?

O futebol europeu prepara-se para abraçar as maiores mudanças no formato da Liga dos Campeões desde que em 1991 a UEFA introduziu a fase de grupos na competição então ainda denominada de Taça dos Campeões Europeus - só em 1992 passámos a tratá-la por Champions League.

As alterações acordadas pelos clubes e reveladas na terça-feira terão como efeito mais direto, a partir de 2024, o alargamento de 32 para 36 equipas da Liga dos Campeões, mas mais relevante será o fim da fase de grupos que, nas suas mais diversas roupagens, tem sido uma das constantes do formato há mais de 30 anos.

A Liga dos Campeões passará assim a disputar-se numa única liga, com classificação também ela única, com as equipas a fazerem oito jogos (quatro em casa e quatro fora) com diferentes adversários. Ao contrário do inicialmente veiculado, dois dos quatro novos lugares na Champions não irão para equipas com coeficiente alto no ranking e que não se tenham qualificado para a prova por mérito desportivo. A UEFA deixou cair essa ideia, que seria um passo em direção ao formato da infame Superliga: esses dois lugares serão atribuídos a equipas dos dois países com melhor desempenho global nas provas da UEFA do ano anterior. Caso o novo formato entrasse em vigor já no próximo ano, Inglaterra e Países Baixos teriam mais uma equipa na Champions de 2022/23.

Os outros dois lugares extra irão para o terceiro classificado do campeonato da associação colocada no 5.º lugar do ranking da UEFA - neste momento é a França, que quase sempre disputa esse lugar com Portugal -, e para mais uma equipa vinda do chamado “Caminho dos Campeões” das pré-eliminatórias, dedicado a campeões nacionais que não têm entrada direta na Liga dos Campeões. Neste momento são quatro os lugares, vão passar a ser cinco, o que assegurará que pelo menos mais uma equipa saída de um campeonato tradicionalmente mais fraco estará na liga milionária.

Quanto à questão “mas quem joga com quem?”, a UEFA não deu respostas concretas, apenas que a competição vai decorrer no chamado “sistema suíço”, criado inicialmente para torneios de xadrez. Se se seguir à risca esse sistema, haverá sorteios e emparelhamentos constantes: na primeira jornada, os rivais deverão ser definidos através de algum tipo de ranking, mas a partir daí tudo dependerá do resultado anterior. Ou seja, na jornada 2, os vencedores jogam com os vencedores e os vencidos com os vencidos e assim sucessivamente até todas as equipas terem oito jogos. E duas equipas nunca podem repetir um confronto nesta liga de 36 emblemas. No final, as pontuações vão para uma tabela única, com os oito primeiros a passarem diretamente para a fase a eliminar, enquanto as equipas classificadas do 9.º ao 24.º lugar terão de disputar ainda um play-off a duas mãos para chegar aos oitavos de final.

Um formato em renovação

Tudo isto parece altamente complexo se olharmos para as origens da prova, nos idos de 1955. Nessa fase, o formato era muito direto, sem espinhas: entravam os campeões de cada país, mais o campeão em título da Taça dos Campeões Europeus. E as equipas defrontavam-se em eliminatórias a duas mãos até à final.

A primeira grande revolução aconteceu em 1991, com a chegada da fase de grupos. A prova passava a ser verdadeiramente uma liga, mas o nome só mudou na temporada seguinte. O formato fase de grupos teve então uma série de variantes: entre 1991 e 1993, a seguir a três eliminatórias seguia-se uma fase de dois grupos, com os dois primeiros a seguirem para a final. No ano seguinte foram introduzidas as meias-finais.

Entre 1994-1997, diminuíram-se as eliminatórias e passaram a quatro os grupos. A edição de 1997 foi a primeira a admitir não só os campeões dos países como também os segundos classificados das principais ligas, número que iria aumentar exponencialmente com o decorrer dos anos. E com mais equipas, aumentaram também para seis os grupos desta fase.

Desde 2018 que os quatro primeiros das quatro principais ligas têm acesso direto à Champions
Alex Livesey - Danehouse/Getty

Em 1999, nova mudança: depois de uma primeira fase de grupos de oito equipas, os primeiros e segundos classificados seguiam para uma segunda fase de grupos, com os principais países a terem já quatro equipas por edição. Desde 2003 que o formato permanece praticamente inalterado: após as fases de qualificação, apenas uma fase de grupos com oito grupos, com os primeiros e segundos classificados a seguirem para os oitavos de final.

Daí para cá as alterações têm acontecido nos pormenores. Seja nas pré-eliminatórias, com a introdução de um play-off final, ou na possibilidade dos quatro primeiros classificados dos quatro principais campeonatos entrarem diretamente na fase de grupos, tal como o vencedor da Liga Europa (desde 2018).

Mais receitas

Agora a revolução é profunda, permitindo a qualquer clube que entre na Liga dos Campeões fazer, no mínimo dos mínimos, oito jogos, ao contrário dos seis atuais. O aumento de jogos vai também ter impacto nas contas da UEFA. De acordo com a ESPN, as receitas do organismo que rege o futebol europeu podem subir até 40%.

De 2005 até ao final da época de 2019/20 (já afetada pela pandemia), as receitas da UEFA cresceram de 700 milhões de euros para mais de €3 mil milhões, número que poderá ser ainda mais potenciado com o novo formato. Ainda assim, apesar do aumento de jogos, a UEFA frisa várias vezes no comunicado em que explica as novas regras o seu compromisso e "reconhecimento da importância do calendário doméstico por toda a Europa", mantendo por isso todos os jogos europeus a meio da semana. Porque nem todas as tradições têm de cair.

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