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Agora é certo: as mulheres vão receber o mesmo prémio de jogo que os homens nas seleções dos EUA

Agora é certo: as mulheres vão receber o mesmo prémio de jogo que os homens nas seleções dos EUA
Icon Sportswire

Mesmo que as seleções recebam prémios de jogo distintos da FIFA, mediante a respetiva participação em Campeonatos do Mundo, a Federação de Futebol dos EUA pagará o mesmo a homens e mulheres. O histórico acordo para o futebol feminino, que vigorará até 2028, foi anunciado esta quarta-feira: “Nenhum outro país já fez isto”

Agora é certo: as mulheres vão receber o mesmo prémio de jogo que os homens nas seleções dos EUA

Diogo Pombo

Editor de Desporto

As balizas, a relva e a dimensão do campo, tudo é o mesmo para homens e mulheres, sem tirar nem pôr, todos fazem vida a pontapear a mesma bola, mas o que lhes chega à carteira — entre tantos outros fatores — é distinto. E por diferença entenda-se desigual. Há quase uma década que as jogadoras da seleção norte-americana lutavam em tribunais, salas de reuniões e intervenções públicas pela igualdade de pagamento, e as derrotas entremearam-se com as vitórias até ao anúncio feito, esta quarta-feira, pela Federação de Futebol dos EUA.

Pela primeira vez, homens e mulheres vão partilhar equitativamente os prémios de jogo que a entidade receber da FIFA pela participação em Campeonatos do Mundo. Ou seja, será criado uma espécie de bolo do qual se retirará, depois, o valor a pagar a cada futebolista de forma igual, coisa que jamais sucedeu por, no seu cerne, estar logo uma desigualdade.

Em 2019, para as 24 seleções que competiram no Mundial de futebol feminino, em França, houve um prémio total de 30 milhões de dólares (cerca de €28 milhões). Este ano, no Catar, a entidade que segura nas rédeas do futebol terá uns 450 milhões de dólares (€427 milhões) a distribuir pelas 32 equipas nacionais que jogarão no torneio masculino, escreve o “The New York Times”. O abismo entre homens e mulheres, em contexto de seleção, é este.

Mas, nos EUA, o dinheiro recebido como prémio de jogo pela participação em qualquer competição passará a reverter para um pote comum, venha ele da seleção masculina ou feminino. Depois, os e as futebolistas serão pagos por igual. “Este é, verdadeiramente, um momento histórico. Estes acordos mudarão para sempre o jogo nos EUA e têm o potencial de mudar o jogo em todo o mundo”, congratulou Cindy Cone, a presidente da Federação de Futebol americana, via comunicado.

Este acordo, que vigorará até 2028 e abrangerá dois ciclos de Mundiais e de Jogos Olímpicos para a seleção feminina é um culminar de uma acérrima disputa que se acentuou, sobretudo, desde 2019, quando a equipa conquistou o segundo Campeonato do Mundo consecutivo — e o país nem se tinha qualificado para o último Mundial masculino. “Disseram que igualdade de pagamento não era possível, mas isso não nos parou, fomos em frente e conseguimos”, realçou Walker Zimmerman, internacional americana e membro do grupo de jogadoras que assumiu as negociações.

Para lá da partilha em partes iguais dos prémios obtidos em competições e Mundiais, o acordo que agora conseguiram fará com que as mulheres recebam as mesmas quantias por convocatória, jogos, objetivos de desempenho; “uma porção” das receitas televisivas, comerciais e de publicidade será também “dividida 50/50” pelas duas seleções; e receberão “uma parte” das receitas de bilheteira em jogos organizados pela federação, nos EUA, além de um bónus nos casos em que os recintos fiquem com a lotação esgotada. “Estes Acordos Coletivos de Trabalho vão manter os e as futebolistas [americanos/as] entre os mais bem pagos do mundo”, lê-se, no anúncio feito pela federação americana.

Em 2020, as jogadoras lograram uma cedência da parte da entidade e melhores condições em coisas como hospedagem e viagens. Já em fevereiro deste ano, assinaram um acordo com a federação, que lhes pagou €21 milhões de compensação para terminar com uma disputa legal na qual seis jogadoras a acusavam de discriminação salarial e de género — o valor correspondia a cerca de um terço da quantia que exigiram inicialmente.

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