Jornalista
Biniam Girmay tinha acabado de bater Mathieu van der Poel, na chegada da 10.ª etapa do Giro de Itália, triunfo que o fazia entrar nos livros de história do ciclismo. Ao erguer os braços ao alto em Jesi, o eritreu tornava-se no primeiro africano a vencer uma tirada numa das três grandes voltas, outro feito para um atleta que, aos 22 anos, tem tornado rotineiro isto de quebrar barreiras e alcançar o que ninguém antes de si tinha conseguido.
O rival neerlandês foi o primeiro a congratulá-lo, com um gesto de apreço quando ambos ainda pedalavam. Seguiram-se os habituais protocolos e cerimoniais que envolvem os vencedores de etapa, com a consagratória subida ao pódio. Mas, no palco em que se homenageiam os heróis, a tarde de Girmay deixou de ser tão perfeita.
Quando o eritreu abriu a garrafa de Prosecco que lhe foi dada, a rolha do espumante italiano voou disparada rumo ao olho esquerdo do corredor da Intermarché Wanty Gobert. O incómodo de ‘Bini’ foi notório, com um constante esfregar do olho que tornava evidente que aquela rolha voadora deixara marcas.
Após uma primeira observação médica, foi decidido que o eritreu teria de ir ao hospital, sendo a habitual conferência de imprensa feita pelos vencedores de etapa cancelada. E quando Girmay saiu do hospital de Jesi parecia muito difícil que as sequelas provocadas pela rolha de Prosecco o permitissem partir para a 11.ª etapa do Giro.
A confirmação da ausência do eritreu no arranque para a jornada que começou em Santarcangelo di Romagna foi dada por Piet Daneels, médico da equipa de 'Bini', ao dizer que os exames revelaram que o impacto da rolha provocou "uma hemorragia na câmara anterior do olho esquerdo" do ciclista. O médico garantiu que a lesão "está a evoluir na direção correta", mas, para "minimizar riscos", é "fortemente recomendado evitar atividade física". Assim, em "conjunto com o atleta e a direção da equipa", foi decidido que o eritreu abandonaria o Giro de Itália antes da 11.ª jornada.
Já quando era conhecida a decisão do abandono, a Intermarché-Wanty-Gobert, equipa de Girmay, publicou um vídeo com uma mensagem de uma das novas estrelas do pelotão. O jovem agradece "à equipa e ao staff" pelo apoio, dizendo que os seus companheiros fizeram "99% do trabalho desde o início até à chegada" da etapa que venceu.
Girmay assume que quando regressou do hospital "estava um pouco triste", mas que já "está mais feliz", assumindo precisar de "algum descanso" para recuperar do impacto da rolha. Impacto é o que o ciclista tem tido no seu país, onde já é herói nacional. Em Asmara, capital da Eritreia, o triunfo foi efusivamente celebrado pelos seus compatriotas.
Na sua conta pessoa no Twitter, 'Bini' escreveu uma mensagem na língua tigrínia, um dos idiomas oficiais da Eritreia e, também, da Etiópia. A rede social do passarinho azul não estará familiarizada com esta língua, pelo que o seu sistema de tradução, feito pela Google, não traduz o que foi escrito por Girmay.
Recorrendo diretamente ao Google Tradutor, lá conseguimos sacar algum significado em português do texto, ainda que numa tradução pouco amiga de gramática correta. Mas é possível entender que Girmay "está bem" e "agradece pelas mensagens de apoio". E promete "voltar em breve". Já no Tour, com arranque agendado para 1 de julho? Acidentes com garrafas de Prosecco à parte, 'Bini' promete obrigar-nos a ficarmos familiarizados com a língua tigrínia.
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