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A rolha da garrafa de Girmay junta-se ao perfume de Cañizares ou ao travão de mão de Banega: uma lista de lesões peculiares

A rolha da garrafa de Girmay junta-se ao perfume de Cañizares ou ao travão de mão de Banega: uma lista de lesões peculiares
LUCA BETTINI/Getty

Fora das normais mazelas sofridas na prática desportiva, há casos que, se não fossem infelizes e dolorosos para os infetados, dariam bons pedaços de humor. Abrir caixas de DVDs com facas afiadas ou jogar demasiado "Guitar Hero" são atividades desaconselhadas. E não adormecer no solário

A rolha da garrafa de Girmay junta-se ao perfume de Cañizares ou ao travão de mão de Banega: uma lista de lesões peculiares

Pedro Barata

Jornalista

Santiago Cañizares era, em 2002, um dos mais reputados guarda-redes do futebol internacional. O dono das redes do Valência tinha sido, em 2000 e 2001, vice-campeão europeu com a equipa do Mestalla e preparava-se para disputar o Mundial da Coreia e Japão com a seleção espanhola.

Como para as ocasiões importantes é importante ir bem aperaltado, nas vésperas do torneio que decorreria no Extremo Oriente, Cañizares estava a colocar água de colónia. No entanto, o guarda-redes deixou o frasco cair-lhe em cima do pé, o que lhe provocou um corte profundo que afetou o tendão e obrigaria, mesmo, a intervenção cirúrgica. Devido à mazela, Cañete não pode disputar o Mundial, sendo substituído na convocatória de José Antonio Camacho por Pedro Contreras.

A história de como a água de colónia impediu um dos principais guarda-redes do momento de ir ao Mundial 2002 é uma das mais conhecidas na lista das lesões peculiares sofridas por desportistas. Para esta categoria entrou agora Biniam Girmay, o primeiro ciclista negro a vencer uma etapa numa grande volta. Pouco depois do triunfo, no pódio, ao abrir a garrafa de Prosecco que lhe foi dada, a rolha voou rumo ao olho esquerdo do corredor da Eritreia, provocando-lhe uma "hemorragia na câmara anterior" que o impediu de continuar no Giro de Itália.

Do ciclismo ao futebol, passando pelo basebol ou o basquetebol, são vários os desportistas afetados por lesões pouco comuns.

Zion Williamson depois de se lesionar em 2019 devido à sola do sapato se ter rasgado
Streeter Lecka/Getty

Em 2019, Zion Williamson era uma estrela do basquetebol universitário, atuando pelos Duke Blue Devils. A 20 de fevereiro, num jogo contra a Universidade da Carolina do Norte, a sola do seu sapato rasgou-se, separando-se do resto do calçado. Como consequência, Zion caiu, sofrendo uma entorse no joelho.

O episódio levou mesmo a Nike, marca que o jogador estava a utilizar, a fazer um comunicado, esclarecendo que se tratava de um "caso isolado", mas garantindo "trabalhar para identificar o problema".

Quem só se pode queixar de si mesmo nestas situações de lesões pouco comuns é Ever Banega. Em fevereiro 2012, o talentoso argentino atuava no Valência quando foi, rotineiramente, atestar o depósito de combustível do seu carro. No entanto, o médio esqueceu-se de colocar o travão de mão, passando o veículo por cima do seu tornozelo.

Resultado? "Um desprendimento de fragmentos que transformam a lesão em algo complexo e cujo tempo de baixa previsível, indo tudo bem, é de seis meses", disse Enrique Gastaldi, médico responsável pela cirurgia à qual Banega foi submetido. O agora jogador do Al-Shabab, da Arábia Saudita, esteve oito meses de fora dos relvados, só voltando a entrar em campo de maneira oficial a 20 de outubro de 2012.

As celebrações podem ser palco preferencial de diversos tipos de imprudência. Em 2015, após o Chelsea de José Mourinho bater o Tottenham na final da Taça da Liga, Nemanja Matic lesionou-se nos festejos, ainda no relvado. O técnico português revelaria depois que o sérvio torceu o tornozelo, sendo baixa para a partida seguinte dos blues.

Mas o descanso também pode esconder armadilhas. Em setembro de 2016, o Sporting de Gijón regressava, de autocarro, à sua cidade asturiana depois de uma partida em Vigo, contra o Celta, trajeto aproveitado pelo brasileiro Douglas para repor energias. O lateral, então cedido pelo Barcelona e que também passaria pelo Benfica, dormiu numa má posição, o que lhe causou uma lesão na anca. Quem o confirmou foi Gerardo Ruiz, preparador físico do Sporting de Gijón.

Carlo Cudicini, guardião italiano que atuou, na primeira década do século XXI, no Chelsea e Tottenham, foi vítima da força do seu animal de estimação. Em 2001, Cudicini estava a passear o seu cão com este preso à trela quando, subitamente, o animal fez uma aceleração brusca, levando o italiano a lesionar-se no joelho.

"Não sei se o cão dele é um rottweiler, mas deve ter visto um coelho ou qualquer coisa e puxou com muita força a trela. O Carlo sentiu uma dor no joelho e está com alguns problemas nessa zona", disse, na altura, Gwyn Williams, treinador-adjunto do Chelsea.

Brandon Marshall, nos Denver Broncos
Icon Sportswire/Getty

Os clubes costumam ter preocupações com a forma como os atletas passam o seu tempo livre, sendo normais cláusulas contratuais que proíbem, por exemplo, praticar desportos considerados de alto risco. E certamente jogar "Guitar Hero" não estará enquadrado nesta categoria.

Em 2007, o jogador de basebol Joel Zumaya, dos Detroit Tigers, desfalcou a sua equipa devido a uma lesão no pulso. O diagnóstico? "Jogar constantemente Guitar Hero".

Mais furioso estava Amar'e Stoudemire quando, em 2012, os New York Knicks perderam por 104-94 contra os Miami Heat. Com a raiva da derrota, o jogador de basquetebol esmurrou uma pequena porta de vidro que protegia um extintor. Como resultado, Stoudemire sofreu vários cortes na mão esquerda, precisando de ser suturado e falhando o seguinte jogo do conjunto nova-iorquino.

As mais rotineiras tarefas domésticas podem esconder perigosos e provocar lesões. Em junho de 2001, Adam Eaton, jogador de basebol dos San Diego Padres, queria abrir uma caixa de DVD, que desejava levar para uma viagem com a equipa. Mas a embalagem "era uma daquelas impossíveis de abrir", disse Eaton. Então, o jogador usou uma faca para tentar sacar de lá os DVDs. A força aplicada foi tanta que se cortou a si mesmo no estômago. Adam Eaton foi suturado com dois pontos para fechar o corte.

Em março de 2008, Brandon Marshall, jogador dos Denver Broncos, da NFL, estava num resort na Flórida, quando escorregou numa embalagem do McDonalds. A aparatosa queda levou-o a ficar com o braço engessado durante duas semanas.

Esta galeria de incidentes peculiares é fechada com Marty Cordova. Em maio de 2002, o jogador de basebol dos Baltimore Orioles foi ao solário. Só que Cordova adormeceu, sofrendo queimaduras na pele. Quando a sua equipa foi disputar partidas à Califórnia, os médicos recomendaram que Marty não viajasse, para o proteger do sol.

Garrafas de Prosecco, "Guitar Hero", solários, festejos, bancos de autocarros, sacos do McDonalds: a vida dos desportistas esconde armadilhas a cada esquina.

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