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Benítez e a final da Champions: “O mérito do Real é não desistir e a qualidade dos jogadores. A mística e o ADN é apenas para vender mais”

Benítez e a final da Champions: “O mérito do Real é não desistir e a qualidade dos jogadores. A mística e o ADN é apenas para vender mais”
Stephen Pond

Já treinou Liverpool e Real Madrid e, com o primeiro, venceu uma das finais mais memoráveis da história da Liga dos Campeões. Desta vez de fora, Rafa Benítez espera um jogo equilibrado, com ambos os clubes capazes de desequilibrar a partida dada a qualidade que têm no plantel, e deixa elogios para Courtois, Benzema e Luis Díaz

Daqui a quatro dias, dois clubes que Rafa Benítez conhece bem vão jogar a final de uma competição que também não é de todo estranha para o treinador espanhol. Na hora das últimas decisões da Liga dos Campeões, são o Real Madrid e o Liverpool que vão pisar o relvado do Stade de France, em Paris. Dois clubes que Benítez treinou numa final que o próprio venceu ao serviço do Liverpool em 2005, ou o difícil de esquecer “milagre de Istambul”, decidido nos penáltis frente ao Milan de Carlo Ancelotti.

Dezassete anos mais tarde, com Ancelotti desta vez no banco do Real Madrid, Benítez atribui o favoritismo ao Liverpool, algo que não teve em 2005, mas não descarta a equipa de Madrid. “Eu diria que o Liverpool é favorito por causa do que tem feito esta temporada, mas o Real Madrid já demonstrou que nunca desiste e que tem qualidade suficiente para desequilibrar uma partida”, disse ao “El Mundo”.

Ao que tudo indica será uma final bastante diferente da de 2018, quando ambos os clubes lá chegaram. O treinador espanhol considerou que se na altura o Real Madrid ganhava em experiência quando comparado com o Liverpool, algo que foi uma vantagem, neste momento as coisas estão muito mais equilibradas e os jogadores do clube inglês têm também essa bagagem.

Olhando para trás, o Liverpool venceu um grupo onde estavam também Atlético Madrid, Porto e Milan, e o Real Madrid terminou a fase de grupos em primeiro, mas teve como adversários Inter, Sheriff e Shakhtar Donetsk. Seguiram-se Inter, Benfica e Villarreal no caminho do clube inglês até à final, e Paris Saint-Germain, Chelsea e Manchester City no caminho do Real. Para Benítez, tratando-se de chegar a uma final, não há um caminho fácil para ninguém.

“Se olharmos para os nomes dos adversários, parece uma coisa, mas os jogos podem ser outra, como mostrou o Villarreal no [estádio] La Cerámica. Ninguém pode dizer que foi um jogo fácil para o Liverpool”, disse.

Mas talvez sejam as reviravoltas do Real Madrid no Bernabéu um dos tópicos que mais tem marcado esta edição da Champions, algo que não deixa Benítez totalmente convencido.

“Vivi muitas das famosas noites de reviravoltas no Bernabéu desde jovem, mas nestes casos, cada um de uma forma, têm um denominador comum: a qualidade ou desequilíbrio de um jogador. Não esqueçamos que os guarda-redes do PSG e do Chelsea cometeram erros que mudaram esses jogos. O City teve inclusivamente mais oportunidades. Penso que o mérito do Madrid e do Bernabéu reside em não desistir, na experiência e na qualidade dos jogadores para resolver sob pressão nos minutos finais. A mística e o ADN é apenas para vender mais”, afirmou.

Do lado de Madrid, o guarda-redes e o avançado são os que podem mais facilmente desequilibrar a partida, segundo Benítez. “Benzema sempre teve movimentos inteligentes e qualidade técnica, mas agora, além disso, tem mais precisão na cara do golo, aproveita ao máximo as suas hipóteses. O Courtois, devido à sua dimensão, já é imponente, mas também é ágil, reage rapidamente e é tecnicamente bom. Ele é muito completo”, disse o treinador.

Luis Díaz é um dos destaques do Liverpool. O jogador “adaptou-se rapidamente, não tem medo de enfrentar adversários e faz as coisas de forma diferente dos outros atacantes, por isso tem sido uma contratação muito bem sucedida”. Mas talvez o maior destaque seja a capacidade a nível físico dos jogadores do clube inglês.

“Essa é a grande diferença entre o Liverpool e muitas outras equipas da Premier League. O Real Madrid enfrentou apenas uma equipa semelhante ao Liverpool em termos de intensidade, o Chelsea, e vimos como foi difícil. O Liverpool é um desafio diferente para este Real Madrid”, realçou Rafa Benítez.

E se fosse um dos treinadores no banco da grande final europeia, o que diria aos jogadores? “O treinador de cada equipa conhece melhor os seus jogadores e, a partir do exterior, por muito que queiramos saber ou pensar que sabemos sobre as duas equipas, nunca conheceremos os jogadores ou seremos capazes de lidar com o momento como eles o fazem. Por experiência, penso que ambos [os treinadores] lhes dirão para serem fiéis à sua maneira de fazer as coisas. É por isso que chegaram à final”, concluiu.

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