Exclusivo

Expresso

AC Leão, o rei do Milan

AC Leão, o rei do Milan

Tomás da Cunha

Analista e comentador de futebol

Eventualmente, partilhar balneário com Zlatan Ibrahimovic, o rei da auto-estima, ajudou-o a inspirar-se e a querer ser melhor. Rafael Leão soltou-se de amarras e assumiu o papel de estrela do AC Milan com toda a naturalidade, escreve Tomás da Cunha sobre o português que foi eleito o melhor jogador da Série A

Ser considerado o melhor jogador da Serie A, em 2022, não é o mesmo que ser considerado o melhor jogador da Serie A no final dos anos 80 ou na década de 90, quando muitas estrelas se concentravam no calcio. Mas receber essa distinção enquanto se leva o Milan — que não era, nem de perto, o conjunto favorito — ao fim de um jejum que durava há 11 anos torna tudo muito especial. Não se entende o sucesso rossoneri sem o talento de Rafael Leão, agora com a continuidade de que precisava para dar o salto definitivo.

Faz parte da famosa geração de 1999, mas nunca teve o estatuto de figura destacada. Isto porque o nível de determinação (ambição, se preferirem) não parecia acompanhar o potencial físico e técnico que revelou desde cedo na formação do Sporting. Fica a sensação de que o avançado de 22 anos percebeu, finalmente, aquilo que estava destinado a ser. Já não o vemos tão desligado da equipa, com um ar quase sonolento em campo. Eventualmente, partilhar balneário com Zlatan Ibrahimovic, o rei da auto-estima, ajudou-o a inspirar-se e a querer ser melhor. Soltou-se de amarras e assumiu o papel de estrela com toda a naturalidade.

Num Milan de muita consistência defensiva, a qualidade individual foi a chave para desbloquear inúmeras vitórias. Rafael Leão, juntando características de um extremo desequilibrador e de um avançado finalizador, resolveu problemas por conta própria e virou ídolo em San Siro. Tem a mesma altura de Thierry Henry (1,88 m), usando as pernas longas para proteger a bola e mudar de velocidade. É difícil travá-lo em campo aberto, sobretudo quando acelera da esquerda para dentro. Vai ganhando uma capacidade de improviso só ao alcance dos predestinados — quem ainda não viu, experimente ver o pontapé de bicicleta que fez contra o Atlético de Madrid.

É um avançado que ganha se tiver espaço e liberdade para se movimentar, não tanto sendo a referência ofensiva da equipa. Pioli entende esse lado rebelde e o português retribui a confiança. Jogando maioritariamente entre a esquerda e o centro, também em função das arrancadas de Theo Hernández, torna-se altamente imprevisível. A reta final de campeonato aumentou a exigência e a resposta não podia ter sido mais positiva. Havia espaço para recear que Rafael Leão se ‘encolhesse’ na altura das decisões. Foi ao contrário, fazendo disparar a própria credibilidade — junto dos próprios adeptos e, inevitavelmente, do mercado.

Comprou o Expresso?Insira o código presente na Revista E para continuar a ler

Tem alguma questão? Envie um email ao jornalista: tribuna@expresso.impresa.pt