“Por melhor ou pior que seja a carreira, acho que sou uma ótima pessoa e essa é a mensagem”: Coco Gauff já está nas meias de Roland-Garros

Jornalista
É daqueles nomes que se ouvem há tanto, tanto tempo que quando redescobrimos a realidade os olhos batem recordes de dilatação. Coco Gauff só tem 18 anos, é natural de Atlanta, na Geórgia, e no topo da página do Twitter ainda mantém afixada uma petição a exigir justiça para a família de George Floyd, o norte-americano negro que foi morto pelo joelho de Derek Chauvin.
Depois de celebrar, perto da Torre Eiffel, a conclusão do ensino secundário, a jovem tenista norte-americana alcançou pela primeira vez umas meias-finais de um Grand Slam. Roland-Garros é o primeiro grande palco da carreira da lutadora e elegante Gauff, depois da vitória desta tarde, por 7-5 e 6-2, contra a compatriota Sloane Stephens.
As tenistas estiveram, ao longo de 1h30, a trocar bolas para conquistarem um lugar nas derradeiras quatro vagas do torneio gaulês, disputado em Paris, a cidade preferida da jovem atleta por causa da história, arquitetura e comida. Coco Gauff (23 do ranking) foi muito superior contra a experiente Stephens (64), de 29 anos, e demonstrou uma leveza nos movimentos, uma variabilidade e um ténis muito sólidos. Até quando o encontro esteve interrompido durante alguns minutos, o foco parecia férreo, saltitando para manter o atlético corpo quente e preparado.
Filha de dois desportistas — o pai Corey, atual treinador, jogou basquetebol e a mãe, Candi, foi ginasta —, começou a jogar ténis aos seis anos, o que, vendo bem, foi só há 12 anos. O norte que leva na bússola espiritual aponta para as irmãs Williams como referentes máximas. Venus e Serena foram as responsáveis por esta menina querer ser tenista profissional. Fora dos courts é Beyonce que admira, por aquele jeito único de atuar.
Agora é Coco Gauff quem dá espetáculo nos campos de ténis e não só. Depois da vitória desta tarde e de atingir um novo céu na carreira, a norte-americana deixou ainda uma mensagem interessante.
Mats Wilander, já no court e munido de um microfone, fez algumas questões a Gauff. Ela admitiu estar “tão feliz” que as palavras nem chegam para descrever o momento. A derrota no ano passado na mesma fase, explicou, foi “dura” e serviu para se preparar melhor para o que aconteceu hoje e o que vem aí. Esta terça-feira, em Roland-Garros, foi um “desafio mental”, garantiu.
Wilander tocou então na tal história de ouvirmos o nome dela há uma eternidade. É como se alguém tivesse lido o futuro e, passados alguns anos, ali está ela, esperam-se grandes coisas. Será que ela também vê assim?, questionou.
“Sim, obviamente acredito em mim, mas acho que, mesmo no ano passado, estava demasiado focada em corresponder às expetativas de outras pessoas”, começou por explicar. “Acho que [o importante] é só desfrutar a vida. Por melhor ou pior [fez aspas com os dedos nesta parte] que seja a minha carreira, acho que sou uma ótima pessoa e essa é a mensagem para os jovens jogadores por aí. Até na vida é assim. Os resultados, o teu trabalho, o dinheiro que fazes não te definem como pessoa. Que saibam que se gostarem de vocês próprios, o que importa o que os outros pensam?”. Aplausos, muitos, e um sorriso importante e impecável da tenista. Estava a vestir a pele de embaixadora da normalidade.
E continuou.
O ex-tenista sueco, agora perguntador oficial, falou-lhe então da escola secundária e do que representa acabar aquela etapa da vida. É mesmo mais difícil do que atingir a semifinal de um glorioso torneio como Roland-Garros? “Sim”. Gargalhada de menina.
“Porque sei quão difícil foi estar na escola e jogar ténis pela estrada fora”, ia refletindo. “Às vezes, os outros tenistas acham que o ténis é a coisa mais importante do mundo e não é. Receber o meu diploma significa muito para mim.”
Coco Gauff, que vai jogando com uma autoridade que augura uma escalada no ranking, vai defrontar nas ‘meias’ Martina Trevisan, a italiana que esta terça-feira derrotou a canadiana Leylah Fernandez.
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