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O tio Nadal voltou a falar do sobrinho e como não quer “ajudar ninguém a ganhar-lhe”

O tio Nadal voltou a falar do sobrinho e como não quer “ajudar ninguém a ganhar-lhe”
NurPhoto

Desde finais de 2017 que Toni Nadal deixou de treinar Rafael, mas, neste Roland-Garros, deparou-se com a situação que deixara acautelada desde que aceitou trabalhar com Felix Auger-Aliassime: "Se houvesse um jogo entre os dois, não iria dizer nada contra o sobrinho". O tio do rei da terra batida voltou a falar sobre como lidou com a situação e do atual estado físico de Rafa

O tio Nadal voltou a falar do sobrinho e como não quer “ajudar ninguém a ganhar-lhe”

Diogo Pombo

Editor de Desporto

Toni Nadal é uma sumidade do ténis e parte da explicação reside no apelido, onde está o nome da família que ele, na companhia do sobrinho, elevaram aos píncaros da vida de raquete na mão: Rafael ganhou 16 dos 21 torneios do Grand Slam com o tio a treiná-lo e a ser figura omnipresente no canto do espanhol, em qualquer torneio. Essa parelha terminou no final de 2017, quando o mais senhorial dos Nadal deixou de trabalhar com o sobrinho, acabando com uma parceria que começara quando o canhoto tinha quatro anos.

Desde então, Toni manteve a sua vida de escriba no “El País”, jornal onde para o qual já escrevia sobre ténis e não só, e continuou a trabalhar na academia de Rafa em Manacor, na ilha de Maiorca. Mas, em abril de 2021, um esguio e ágil canadiano abordou-o com um convite para tirar o pó às aptidões de treinador. O espanhol aceitou o convite para integrar a equipa técnica de Felix Auger-Aliassime e logo aí avisou o jovem, a quem vaticinam façanhas das grandes no ténis, de qual seria a sua postura caso acontecesse o que Roland-Garros proporcionou, no domingo.

Que “preferia que ganhasse o sobrinho”.

Sem pudores, Toni Nadal repetiu-o antes de Rafael ganhar ao canadiano em exigentes cinco sets (3-6, 6-3, 6-2, 3-6, 6-3) e voltou a dizê-lo na quarta-feira, já depois de mais um ato de superação do señor top spin que prolifera na terra batida. “Já tinha acordado com ele que se houvesse um jogo entre os dois, eu não iria dizer nada que fosse contra o meu sobrinho. Seria ilógico, como familiar e pessoa muito próxima do Rafael, que para mim é mais do que um sobrinho… Não queria ajudar ninguém a vencê-lo”, disse, honesto com sua a rouquidão aguda, num programa da “Cadena Ser”.

Caso Aliassime tivesse desgostado da sua postura, Toni Nadal teria dito “tranquilo, deixo de ser teu treinador”. O espanhol falou do canadiano como “um rapaz dos mais educados do circuito”, revelando como ele “entendeu totalmente” o que, aliás, “já tinha sido acordado”, elogiando-lhe ainda o potencial — “se melhorar dois ou três aspetos, pode lutar para estar no mais alto nível”. Por enquanto, Felix é o 9.º tenista do ranking e 5.º na corrida para as ATP Finals, que reúne os jogadores com melhor pontuação registada em 2022, sem ser por comparação com os pontos obtidos no ano anterior.

Toni Nadal, no último domingo, numa 'box neutra' a assistir ao jogo entre Aliassime e o seu sobrinho.
Andy Cheung/Getty

Lembrando as palavras do sobrinho, que tem dito como este Roland-Garros poderá ser o último no qual joga — na prática, já assumiu ser um jogador lesionado que aprendeu a viver com isso, devido um problema crónico no pé para o qual toma anti-inflamatórios com frequência —, Toni Nadal até brincou com o hipotético cenário que se montou no fim de semana: “Joder, só faltava que o seu último encontro tivesse sido esse [contra Aliassime] e que eu o tivesse ajudado a ganhar”. Para alívio do seu tio, que não gosta de despedidas, Rafa vai adiando o momento do adeus “enquanto está competitivo”.

No dia em que “os problemas voltem de forma mais dura”, o seu antigo treinador “não crê” que Rafa “desfrute de ir todos os dias ao limite”. As palavras soam a mais certeza do que suspeita, dada a proximidade entre ambos e a própria confissão feita pelo tenista ao superar Novak Djokovic nos quartos-de-final de Roland-Garros, com um quarto set onde esteve a perder 2-5: “Não sei o que se irá passar. Falamos depois do torneio”. Enigmático, o espanhol aumentou a aura de saudosismo que o acompanha nesta edição do Grand Slam da terra batida.

Sobre as agruras físicas do sobrinho que é sublime em tudo, mas que nunca escapará ao tempo (fará 36 anos esta sexta-feira), Toni Nadal “já lhe disse em várias ocasiões” que “é uma questão mental”, pois “quando chega ao momento, a sua cabeça está com 100% de predisposição” para dar tudo, haja ou não mazelas para ignorar. Nas meias-finais, Rafa vai defrontar Alexander Zverev, o penúltimo obstáculo na aventura rumo a um 14.º título em Roland-Garros.

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