“A relação tem sido tensa durante anos”: jogadores do Canadá recusam jogar em protesto contra a federação e em defesa da equipa feminina
Guillermo Legaria
Com a evolução do futebol no Canadá, os jogadores querem mais, mas acima de tudo melhor. Descontentes com os passos que a própria federação tem dado, a equipa nacional masculina recusou jogar contra o Panamá em protesto. Entre as necessidades que enumeraram, estão questões com os prémios do Mundial do Catar e a igualdade salarial entre as equipas masculina e feminina
Já em preparação para o Mundial 2022, que se joga no final do ano, a seleção do Canadá tinha encontro marcado com a do Panamá no passado domingo, mas o encontro acabou por ser cancelado quando os próprios jogadores do Canadá se recusaram a jogar devido a uma disputa laboral com a federação do país que inclui a exigência da igualdade salarial entre eles e a equipa nacional feminina.
Os primeiros sinais de descontentamento por parte dos jogadores surgiram na passada sexta-feira e sábado, quando a equipa, que se prepara para a primeira presença no Campeonato do Mundo masculino desde 1986, se recusou a treinar.
Numa carta endereçada ao país, os jogadores enumeraram tudo aquilo que precisam, pensando no futuro da modalidade no Canadá. Começa pela revisão e transparência do “Canadian Soccer Business Agreement”, de 2018, e por uma liderança capaz de otimizar o atual momento do futebol no país e gerar receitas através de patrocínios.
Os jogadores exigem ainda 40% do dinheiro do prémio do Campeonato do Mundo, um pacote de viagens para amigos e familiares durante a competição e "uma estrutura equitativa" com a equipa nacional feminina que "partilhe as mesmas comissões de jogo dos jogadores, percentagem do dinheiro do prémio ganho nos respetivos Campeonatos do Mundo da FIFA e o desenvolvimento de uma liga doméstica feminina".
A lista de necessidades termina com o pedido de integração de mais antigos jogadores e jogadoras da seleção em posições de liderança dentro da federação.
"Queremos trabalhar em conjunto com a nossa organização, mas a relação tem sido tensa durante anos. E agora, a Canada Soccer [federação] desrespeitou a nossa equipa e pôs em risco os nossos esforços para elevar os padrões e fazer avançar efetivamente o jogo no Canadá", lê-se na declaração, sendo que os jogadores se referem ao acordo de 2018 que, segundo eles, compromete o futuro da modalidade.
Não muito longe, os sindicatos das equipas nacionais masculina e feminina dos EUA anunciaram um acordo de igualdade salarial, incluindo a atribuição de um prémio monetário para o Campeonato do Mundo. Os jogadores do Canadá defendem uma percentagem igual de prémios em dinheiro e taxas de jogo iguais.
“Em março, iniciámos discussões contratuais com a Canada Soccer. Devido aos executivos atrasarem o processo e tirarem férias, o processo de negociação foi desnecessariamente prolongado. A Canada Soccer esperou até à noite de 2 de junho para apresentar uma proposta arcaica e o secretário-geral e presidente da federação só se disponibilizaram pela primeira vez para estabelecerem contacto com os jogadores no dia 4 de junho às 16 horas”, afirmaram.
Kevin Light
A equipa feminina do Canadá está em sexto lugar no ranking mundial e ganhou a medalha de ouro nos Jogos Olímpicos do ano passado. No seguimento da carta publicada pelos jogadores da equipa masculina, as jogadoras da equipa feminina publicaram também uma carta aberta, solicitando a igualdade salarial.
"Temos sido claras ao longo destas discussões (e antes) que estamos à procura de um acordo com a federação que proporcione igualdade salarial aos membros da nossa equipa relativamente à seleção masculina. A seleção feminina não aceitará um acordo que não ofereça igualdade salarial", lê-se.
Os próximos jogos da equipa masculina são contra Curaçau, quinta-feira, e Honduras, a 13 de junho. Ainda não se sabe se os jogadores pretendem continuar o protesto ou irão entrar em campo. O que se sabe, de acordo com uma declaração da federação, é que ambas as partes estão a tentar chegar a um acordo.