Tempos houve em que Igor Denisov era conhecido por não dar entrevistas. A fama de mau-feitio também o acompanhava, mas em campo era um dos líderes do meio-campo da Rússia que esteve no Europeu de 2012 e no Mundial de 2014, chegando mesmo a envergar a braçadeira de capitão.
No Zenit venceu três campeonatos e fez parte da equipa que ganhou a Taça UEFA em 2007/08. Foram mais de 350 jogos pela equipa de São Petersburgo, a sua cidade natal, antes de continuar a carreira no Anzhi, Dínamo de Moscovo e terminar no Lokomotiv da capital russa.
Retirado desde 2019, a opção por não dar entrevistas parece não ter resistido a algo mais poderoso: a oposição de Denisov à invasão do seu país à Ucrânia. Numa conversa com o jornalista Nobel Arustamyan, publicada no canal de YouTube deste, o antigo médio chamou aos atos da Rússia “uma catástrofe” e um “horror completo”, revelando mesmo que escreveu a Vladimir Putin, nascido em São Petersburgo como ele, para acabar com a guerra que ele próprio iniciou.
“Se calhar vão meter-me na prisão ou matar-me por estas palavras, mas eu digo as coisas como elas são”, atirou o ex-jogador, de 38 anos, que frisou que “ama o seu país” e que não quer deixar a Rússia.
Na carta que escreveu a Vladimir Putin, ainda nos primeiros dias da invasão, iniciada a 24 de fevereiro, o antigo futebolista, que não é o primeiro a expressar as suas opiniões contrárias à narrativa russa (Nadya Karpova, jogadora da seleção feminina, tinha sido a última a denunciar o seu próprio presidente), mostrou-se disponível até a humilhar-se, se isso significasse o fim da guerra.
“Sou um tipo orgulhoso. E disse-lhe mesmo que até me punha de joelhos diante dele para que parasse com tudo”, sublinhou.
De acordo com a BBC, o som da entrevista de Denisov a Arustamyan parece ter sido alterado, surgindo distorcido em partes em que o antigo médio dizia palavras que neste momento valem prisão na Rússia, como “guerra” ou “invasão”.
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