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Na montanha-russa da NBA, os Golden State Warriors retomam a sua dinastia: quarto título em oito anos depois da queda aos fundos

Na montanha-russa da NBA, os Golden State Warriors retomam a sua dinastia: quarto título em oito anos depois da queda aos fundos
Elsa/Getty

A equipa de Steph Curry, Klay Thompson e Draymond Green foi à casa dos Boston Celtics vencer por 103-90 no jogo 6 das finais, fechando a série em 4-2. Depois de vencerem os títulos de 2015, 2017 e 2018, saídas e lesões levaram os Warriors às catacumbas da NBA, mas o regresso à forma foi tão inesperado quanto triunfante

Algures em 2018, os Golden State Warriors pareciam uma das máquinas mais perfeitas alguma vez afinadas na NBA. O coração da equipa estava em três rapazes escolhidos e criados naquela organização. Stephen Curry chegou no draft de 2009, Klay Thompson em 2011. Draymond Green, um mago da defesa, foi um achado nas profundezas da 2.ª ronda do draft de 2012.

Foi com eles que os Warriors ganharam as finais de 2015, no ano seguinte bateram um impossível registo de melhor fase regular da história, com 73 vitórias e apenas nove derrotas, tirando aos Bulls de Jordan esse recorde, mas nos playoffs esbarraram com o desejo de Lebron James em levar um título para o seu Ohio natal e foram os Cleveland Cavaliers a levantar o caneco. E se parecia estar ali uma guerra para anos, a chegada de Kevin Durant à Califórnia tornou o duelo numa aparente dinastia.

Durant nunca pareceu fazer parte do núcleo duro emocional dos Warriors, mas o seu talento natural para fazer pontos seria decisivo para mais dois títulos da equipa, em 2017 e 2018, anos consecutivos. Eram imbatíveis. Até que os corpos começaram a cair. Em 2019, chegados a mais uma final, a 5.ª seguida, uma nuvem negra abateu-se sobre Oakland: Durant rebentou um tendão de Aquiles no jogo 5, Thompson o joelho esquerdo no jogo seguinte. Os Toronto Raptors foram campeões e os Warriors estavam delapidados para longos meses.

E a partir daí tudo pareceu desmoronar. No verão seguinte, Durant saiu para os Brooklyn Nets, Thompson tinha uma longa recuperação pela frente, Stephen Curry começou também a lidar com os seus demónios, jogando muito intermitentemente devido a lesões. Nas duas épocas seguintes, os Golden State Warriors foram uma sombra daquela dinastia que se previa, jogando não poucas vezes com cincos iniciais de completos desconhecidos, mas mantendo a confiança no trabalho do treinador Steve Kerr e rezando para um regresso em pleno de Klay Thompson (que em 2020 voltou a lesionar-se com gravidade e não jogou praticamente durante dois anos) e de Stephen Curry. Quando a pandemia travou a época de 2020, os Warriors eram a equipa com pior registo na NBA. Na temporada seguinte também falharam a ida aos playoffs.

Numa liga onde o equilíbrio e a competitividade é tudo, não há muitas segundas oportunidades. Mas os Golden State Warriors trabalharam para ela. Foram pacientes. E depois de dois anos de deserto, a dinastia mostrou que talvez estivesse apenas adormecida para descanso do pessoal. Com a vitória por 103-90 no mítico TD Garden, casa dos Boston Celtics, a equipa agora com casa em São Francisco fechou as finais de 2022 com um 4-2 e assinou o quarto título em oito temporadas, com Stephen Curry a conseguir aquilo que até agora não havia logrado: ser considerado o MVP das finais.

As finais ainda cheiraram a Boston e à sua jovem equipa em alguns momentos: os Celtics venceram o primeiro jogo, chegaram a estar em vantagem por 2-1, mas os Warriors encontraram-se a meio caminho e venceram três jogos seguidos, dois deles no ambiente truculento de Boston. Com o trio de sempre, forjado em Golden State, mas agora mais velho, mais experiente, mais calejado pela vida, pelas alegrias mas também pelas agruras que o jogo dá. Curry, Thompson e Green entram agora no restrito grupo de jogadores com quatro títulos da NBA (Iguodala, que deixou os Warriors e entretanto voltou, também), numa equipa que já não tem Durant, mas teve Andrew Wiggins decisivo na final e que soube fazer crescer rapazes como Kevon Looney ou Jordan Poole.

Já Steve Kerr começa a construir um palmarés de exceção: depois de cinco títulos como jogador, três nos Bulls e dois nos Spurs, o antigo base já leva quatro como treinador - em 2015 foi campeão no seu primeiro ano como técnico principal. Também ele é a cara de um projeto que soube ter cabeça fria para se reerguer.

Esta temporada, os Golden State Warriors começaram como uma incógnita, na fase regular perderam 29 jogos e chegaram aos playoffs apenas com o 3.º melhor registo na conferência oeste. Não pareciam favoritos face a equipas como os Phoenix Suns ou os Milwaukee Bucks, mas a fase a eliminar foi em crescendo: bateram os Denver Nuggets, depois os Grizzlies e por fim os Mavericks de Luka Doncic.

Nas finais, Curry voltou a ser aquele Curry de quando os Warriors soavam impossíveis de bater. Aos 34 anos, ainda vai a tempo de muitos recordes.

“Isto é parte do nosso pedigree de campeão, a nossa experiência. Construímos isto nos últimos 10-11 anos. Significa muito chegar aqui” disse o base, que marcou 34 pontos no jogo que deu o título aos Warriors. “No início da temporada ninguém pensava que pudéssemos estar aqui… é surreal”, frisou também, ele que chegou a estar lesionado antes dos playoffs, mas regressou para carregar no botão play de uma dinastia que estava apenas à espera de recomeçar.

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