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António Félix da Costa: “Ao fim de 20 e tal anos de carreira ainda estou a experienciar coisas novas e adoro a sensação”

António Félix da Costa: “Ao fim de 20 e tal anos de carreira ainda estou a experienciar coisas novas e adoro a sensação”
DPPI
O piloto de 30 anos deu a Portugal mais uma vitória nas 24 horas de Le Mans, a primeira no seu palmarés, ao triunfar na categoria LMP2 em equipa com Will Stevens e Roberto Rodríguez. À Tribuna Expresso, fala de desilusões passadas em La Sarthe, de como a última volta em Le Mans pode durar uma eternidade e de novos objetivos: no próximo ano pode vir uma mudança de escuderia e a hipótese de lutar pela vitória à geral

Aquelas lágrimas no final, quando o carro cruzou a meta, só podem dizer uma coisa: vencer em Le Mans foi definitivamente o concretizar de um sonho?
É um sonho de criança, de qualquer piloto mesmo. Vemos pilotos até da Fórmula 1 a deixarem o campeonato durante um ano ou dois para tentarem fazer esta corrida, como foi o caso do Fernando Alonso. Há filmes, há documentários sobre esta corrida, muitas histórias míticas. E depois as lágrimas não foram só disso: foi a minha 5.ª tentativa de tentar ganhar esta prova, ficámos em 2.º há três anos, no ano passado íamos à frente e tivemos um problema... são muitos anos a ficar perto e quase a sentir que tínhamos tudo para o fazer, mas é uma corrida de 24 horas. E tanta coisa se pode passar que está fora do teu controlo que só se acredita mesmo quando se cruza a meta.

Como foi gerir aquele nervosismo no final?
O problema - que na verdade foi um bom problema - é que nós fomos líderes desde a primeira hora. E isto quando chegas ali a 10 horas do fim, a cinco horas do fim e começas a pensar que tudo pode acontecer e que a corrida já é nossa a perder, não nossa a ganhar, mas nossa a perder. Eu sou muito de pensamentos positivos, mas nos últimos três ou quatro anos houve histórias do carro líder parar na última volta. Por isso até o carro cruzar a meta eu não queria acreditar. Eu estava no rádio - foi a primeira vez que ganhei uma corrida na vida sem estar a guiar - ouvia o carro e o engenheiro a dizer ao meu colega de equipa: "Ok, última volta". Mas mesmo assim são três minutos e meio que parece que demora uma hora. E tu só rezas para que o carro aguente essa última volta. Quando o carro cruza a meta então vieram uma série de pensamentos e uma descarga de adrenalina e um alívio enorme. Depois, estar ali com tantos mecânicos, com colegas de equipa, a minha família, todos os que já viveram as deceções e as vitórias juntamente comigo... eu ver que toda a gente está assim com uma mossa na garganta igual à minha torna tudo incrível.

Houve um sentimento de “é a nossa vez” depois de 2021, em que fizeram pole e andaram muito bem até terem uma saída de pista que estragou tudo?
Sim, houve muito trabalho. Tínhamos ficado em 2.º em 2020, no ano passado fizemos a pole, íamos à frente com umas primeiras quatro horas muito semelhantes à corrida deste ano, em que entreguei o carro ao meu colega também na frente. Em 24 horas há muita coisa que nós pilotos e equipa podemos fazer mal, mas também estás dependente de outros 61 carros que estão em pista e que podem acertarem-te. Pode haver um furo, seja o que for. Há tantas variáveis que não consegues controlar que a corrida só acaba mesmo no fim. Foi um acumular de todos esses sentimentos, de termos estado perto e sentir que isto já devia ter sido nosso no passado, mas também todos os azares.

Dizias que esta foi a primeira corrida que ganhaste sem estares no carro. Nos desportos coletivos diz-se que quem está no banco sofre muito mais, porque quem está lá dentro está tão mergulhado no jogo ou na competição que não tem espaço para o resto. Sentiste isso naquele final de corrida?
É, exatamente isso. Senti isso, sem dúvida. Obviamente que eu tenho muita confiança nos meus colegas de equipa e o que estava no carro [Will Stevens] é muito experiente, já esteve na Fórmula 1. Sabia que ou tínhamos um problema mecânico no carro ou nada ia acontecer, tinha a certeza. Mas é estranho na mesma, não estares em controlo da situação. São nervos diferentes. Quando estás no carro estás a sentir o carro, fora dele é um sentimento de impotência enorme. Mas, olha, adorei sentir isso! Ao fim de 20 e tal anos de carreira ainda estou a experienciar coisas novas e adoro essa sensação.

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