Depois de Crystal Palace, Botafogo, Molenbeek e do interesse no Benfica, o Lyon torna-se o 4.º clube em que John Textor investe
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O clube francês, desde março à venda, entrou em "negociações exclusivas" com o empresário norte-americano, que adquirirá 66,56% de um dos principais conjuntos gauleses. John Textor, que chegou a negociar a aquisição das ações do Benfica detidas por José António dos Santos, assume querer criar um "ecossistema de clubes de primeira linha"
No início de março, dois dos principais acionistas do Lyon anunciaram a decisão de colocarem as suas participações no clube francês à venda, contratando o banco Raine para que este encontrasse compradores. À produtora cinematográfica Pathé, detentora de 19,38% das ações, e à empresa de investimentos IDG, com 19,85% do clube, juntou-se, depois, Jean-Michel Aulas, acionista maioritário (27,72%) e dono do Lyon desde 1987.
Foster Gillett, investidor norte-americano e filho de George Gillett — co-proprietário do Liverpool entre 2007 e 2010 —, chegou, no começo de junho, a um acordo para a compra, num negócio de €600 milhões. Segundo o "L'Équipe", a proposta contemplava, também, um aumento de capital de €100 milhões.
O projeto de Gillett foi validado e o empresário tinha até 16 de junho para apresentar as garantias bancárias. No entanto, o norte-americano não o fez, tendo-lhe sido dado um novo prazo, o qual vencia nesta segunda-feira. De acordo com o "L'Équipe", Gillett voltou a não demonstrar as garantias bancárias necessárias para o negócio, caindo a possibilidade de comprar a percentagem à venda de um dos mais históricos emblemas gauleses.
Assim, John Textor entrou em cena.
O empresário norte-americano, que ficou conhecido através dos negócios no mundo tecnológico, digital e do entretenimento, é, aos 56 anos, um dos vários investidores baseados em Miami que tem apostado no futebol. Textor é dono de 40% do Crystal Palace, da Premier League, e tem também posições importantes no Botafogo, clube do Brasileirão orientado pelo português Luís Castro, e no RWD Molenbeek, da segunda divisão belga.
John Textor chegou a negociar a compra das ações do Benfica detidas por José António dos Santos, correspondentes a 16% do capital da SAD. A 31 de janeiro, o clube da Luz comunicou o fim desses contactos. Também chegou a ser noticiado o interesse do investidor no FC Porto, mas o norte-americano negou-o.
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Aberta a janela de oportunidade depois de Gillett não ter apresentado as garantias bancárias, a entrada de Textor no Lyon foi efetivada. O clube anunciou ter aberto "negociações exclusivas" para que o empresário adquira 66,56% dos gauleses, tornando-se no acionista maioritário.
Segundo a "Bloomberg", o norte-americano pagará três euros por cada ação, sendo o clube, nos termos deste negócio, avaliado em mais de €800 milhões. Irá ser feito um aumento de capital no valor de €86 milhões, sujeito a aprovação em assembleia-geral extraordinária.
Apesar deste negócio, Jean-Michel Aulas, presidente e proprietário do Lyon desde 1987, irá continuar à frente da gestão da entidade. O contrato de Aulas como CEO foi renovado por "pelo menos três anos", lê-se no comunicado, mantendo-se a atual equipa diretiva "inalterada". O histórico presidente do Lyon passará também a fazer parte da Eagle Football, a holding de John Textor, que gere as operações dos diversos clubes em que o norte-americano investe.
Grande dominador do futebol feminino europeu nos últimos anos, o Lyon acabou de conquistar a Champions pela oitava vez, um recorde absoluto. No futebol masculino, e após um período dourado em que foi sete vezes seguidas vencedor da Ligue 1, entre 2001/02 e 2007/08, os últimos anos têm trazido menos sucesso para o emblema ainda detido por Aulas. Na passada edição do campeonato francês, o Lyon terminou em oitavo.
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Em reação ao negócio, Jean-Michel Aulas afirmou que este "abre um novo capítulo" na história do Lyon, o qual permitirá "acelerar os projetos e aumentar as ambições" do clube. John Textor, também citado pelo comunicado, afirmou que o Lyon será o "epicentro dos investimentos" que tem feito no futebol mundial. O norte-americano definiu o objetivo de "recuperar o Lyon para o mais alto nível", ainda que "respeitando os valores do AND" do emblema, nomeadamente a "promoção da juventude".
À "CBS Sports", Textor assumiu que o seu "plano" é "criar um ecossistema de clubes de primeira linha" que possam "cooperar e partilhar um sistema global de identificação de talentos". O norte-americano aproveitou para vincar a sua "preocupação" com o "domínio competitivo" de "clubes-estado", esperando "demonstrar que abordagens alternativas para a competitividade devem ser exploradas e encorajadas". Um dos principais responsáveis pela perda de competitividade do Lyon em França é o Paris Saint-Germain, financiado por dinheiro do Catar.
John Textor, de 56 anos, é uma figura cada vez mais importante no universo dos empresários norte-americanos que investem no futebol europeu. Neste momento, há investidores dos EUA em clubes como o Liverpool, Manchester United, Arsenal, West Ham, Marselha ou Roma.
Com presença em Inglaterra, Brasil e Bélgica, Textor prepara-se agora para estender a sua influência a França. Dois dos outros acionistas do Crystal Palace — Josh Harris e David Blitzer — estiveram na corrida para comprar o Chelsea e, segundo a "Bloomberg", Textor pretendia adquirir-lhes ações caso o negócio chegasse a bom porto. No entanto, os londrinos acabaram vendidos a um grupo liderado por Todd Boehly, coproprietário da equipa de basebol dos Los Angeles Dodgers.