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Caros, velhos e feios: a liga portuguesa e o desprezo pela contratação interna

Caros, velhos e feios: a liga portuguesa e o desprezo pela contratação interna

Tomás da Cunha

Analista e comentador de futebol

O analista e comentador Tomás da Cunha escreve sobre um país em que é mais fácil adorar um jovem colombiano ou croata que tem uns highlights pomposos do que um português de Famalicão ou de Braga e de como os adeptos nacionais olham injustamente para os jogadores da liga como maus negócios

Já que não há bola a rolar, precisamos de falar de um fenómeno que se repete ano após ano: o desprezo pela contratação interna e o esforço para encontrar defeitos. Na perspectiva de adepto, é mais fácil adorar um jovem colombiano ou croata que tem uns highlights pomposos do que um português de Famalicão ou de Braga. O encanto pelo desconhecido faz parte da silly season, mas cria uma desconfiança exagerada no reforço que já está cá dentro.

Pedro Gonçalves, disse-se na altura, chegava ao Sporting por um valor altamente excessivo. Ugarte também. Quando for transferido por muitos milhões, a visão negocial passará a ser excelente. Ricardo Horta junta o pior dos dois mundos: não é apenas caro, também já vai para velho porque não dá para o vender mais tarde. Todos sabemos que o futebol português precisa de exportar talento e que as finanças não sobrevivem sem esses encaixes financeiros, mas a cantiga do clube-empresa já está demasiado entranhada no adepto. Até agosto, quando os golos e as vitórias começarem a contar, o rendimento desportivo parece um extra na lógica de mercado.

O jogador caro é o jogador que não corresponde dentro de campo. Há clubes vendedores que consideram ter ficado a ganhar no momento da transferência, mas isso pode mudar facilmente. Além disso, em muitos casos a convicção para trazer um determinado alvo – mesmo que seja por um preço “inflacionado” - que encaixe nas ideias do treinador ajuda a aumentar o aproveitamento. Veja-se os exemplos de van Dijk e Alisson, no Liverpool, para se ficar com uma ideia de como a avaliação na altura da compra pode ser mentirosa.

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