Football Leaks

Rui Pinto assume ter sido uma das fontes dos Malta Files

Rui Pinto foi preso em Budapeste em janeiro
Rui Pinto foi preso em Budapeste em janeiro
Rodrigo Antunes/ Lusa

Em prisão preventiva, Rui Pinto assumiu através da rede social Twitter ser um dos denunciantes na origem dos Malta Files, que permitiram à Autoridade Tributária recuperar 9 milhões de euros de impostos

Rui Pinto assume ter sido uma das fontes dos Malta Files

Miguel Prado

Editor de Economia

Rui Pinto, o português que está em prisão preventiva acusado de 147 crimes relacionados com o Football Leaks, revelou ter sido um dos denunciantes dos Malta Files, investigação jornalística conduzida pelo consórcio EIC – European Investigative Collaborations que em 2017 expôs dezenas de casos envolvendo estruturas empresariais em Malta, muitas das quais associadas a estratégias de evasão fiscal.

A revelação de Rui Pinto foi feita esta quinta-feira numa publicação na rede social Twitter, num perfil que lhe está associado e que os seus advogados nunca contestaram.

“De acordo com o último relatório de combate à fraude e evasão fiscal elaborado pela Autoridade Tributária, e citado pelo semanário Expresso na sua edição do passado sábado, foram desencadeadas ações de investigação tributária no âmbito de casos mediáticos como o Swiss Leaks, Malta Files e Panama Papers. Aproveito então para revelar que sou um dos denunciantes dos Malta Files”, pode ler-se na mensagem de Rui Pinto.

Preso preventivamente em Lisboa desde março, depois de ter sido detido em Budapeste em janeiro, Rui Pinto é acusado pelo Ministério Público de um total de 147 crimes, incluindo extorsão na forma tentada, sabotagem informático, acesso ilegítimo e violação de correspondência. A acusação baseia-se na informação recolhida pela Polícia Judiciária e pelo Departamento Central de Investigação e Ação Penal (DCIAP) após queixas feitas em 2015 pelo fundo de investimento Doyen e pelo Sporting, na sequência de ataques aos seus sistemas informáticos que culminaram com a publicação de dezenas de documentos no blog Football Leaks.

Rui Pinto já se defendeu, em interrogatório, admitindo ser um dos denunciantes do Football Leaks, mas não o único. Os seus advogados pediram que na fase de instrução seja declarada a nulidade de dezenas de crimes de violação de correspondência relativos a pessoas (sobretudo do Sporting e da sociedade de advogados PLMJ) que declararam não pretender agir judicialmente contra Rui Pinto. A defesa de Rui Pinto também alega que ele não pode ser julgado em Portugal por tentativa de extorsão à Doyen, já que quando o ataque informático ocorreu Rui Pinto não estava em Portugal e a Doyen também não tem qualquer presença no nosso país. Recentemente, Rui Pinto admitiu que alguns dos seus atos possam ser considerados ilegais, mas criticou o que diz ser “uma perseguição violenta” do Estado português.

Na sua última publicação no Twitter Rui Pinto questiona também o interesse das autoridades portuguesas no combate à corrupção. “Até quando o Ministério Público português vai continuar a ignorar diretivas comunitárias e convenções internacionais como a convenção de Mérida?”, pode ler-se na mesma mensagem. A convenção de Mérida foi assinada nesta cidade mexicana em dezembro de 2003, sendo formalmente designada “Convenção da ONU contra a Corrupção”, tendo levado as Nações Unidas a apontar o dia 9 de dezembro como Dia Internacional de Luta contra a Corrupção.

Os Malta Files foram uma investigação jornalística levada a cabo pelo EIC, de que o Expresso faz parte, em 2017, identificando dezenas de cidadãos e empresas de vários países com sociedades em Malta, muitas delas aproveitando a possibilidade de reduzir a 5% a taxação efetiva dos seus rendimentos.

Um dos artigos então publicados pelo Expresso revelou como 48 sócios portugueses da Deloitte montaram uma estrutura empresarial em Malta para a partir daí distribuir para as suas empresas em Portugal mais de 50 milhões de euros de rendimentos provenientes principalmente de Angola.

A história revelada pelo Expresso levou a Autoridade Tributária a desencadear uma inspeção que permitiu ao Estado recuperar, em 2018, um total de €9 milhões junto dos sócios portugueses da Deloitte, que em face da iniciativa do fisco voluntariamente decidiram pagar aquele montante e evitar que o processo chegasse aos tribunais.

A arrecadação destes €9 milhões na sequência dos Malta Files foi o maior resultado conseguido pela Autoridade Tributária no âmbito das ações especiais que o fisco desencadeou após uma série de investigações jornalísticas, superando inclusive a receita fiscal conseguida nos processos tributários resultantes dos Panama Papers e do Swiss Leaks. A Autoridade Tributária não detalhou quaisquer resultados associados ao Football Leaks.

Tem alguma questão? Envie um email ao jornalista: mprado@expresso.impresa.pt