Julgamento Rui Pinto. Inspetor da PJ admite ter pedido ajuda à Doyen

José Amador explicou que pediu ajuda ao advogado da Doyen para agilizar junto das autoridades russas a identificação de um IP
José Amador explicou que pediu ajuda ao advogado da Doyen para agilizar junto das autoridades russas a identificação de um IP
Rui Gustavo
As sessões de julgamento num tribunal funcionam segundo certos ritos e formalismos. É tradicional, por exemplo, que o coletivo de juízes chegue com atraso e seja o último a entrar. Enquanto esperavam, advogados e o arguido-advogado conversavam animadamente sobre as novas da covid 19 quando se deu o primeiro bruaá na sala: "O Vieira retirou o Costa da comissão de honra". Anibal Pinto, o advogado que está a ser julgado pelo crime de tentativa de extorsão não perdeu a oportunidade: "Será que vai indemnizar o Costa. Ha ha ha!. E quando se cruzou com Rui Pinto cumprimentou-o com o máximo de entusiasmo que as regras de distanciamento social permitem.
A boa disposição foi passando com o depoimento da principal testemunha da terceira sessão do julgamento que tem como principal arguido do processo: Rui Pinto, que neste processo surge como um hacker que tentou extorquir dinheiro e entrou nos sistemas informáticos da Doyen, da PLMJ e do Sporting.
José Amador, inspetor da PJ que investigou o o caso desde o início, explicou como chegou à identidade de Rui Pinto e provocou alguma estupefacção na sala quando admitiu ter pedido ajuda ao advogado da Doyen para interceder junto das autoridades russas para identificar o IP do email que a empresa tinha recebido com a tentativa de extorsão. "Nunca tinha ouvido uma coisa destas, espero que a PJ não esteja ao serviço da Doyen", disse já na rua Aníbal Pinto.
O inspetor Amador, que tem mais de vinte anos de experiência explicou que quando recebeu a queixa de Nélio Lucas, líder da Doyen, lembrou-se de outro caso parecido que também envolvia Anibal Pinto. Um caso de desvio de fundos de um banco que acabou arquivado com a desistência de queixa por parte do banco. "Eram histórias iguais".
Segundo o policia, o e-mail usado para a tentativa de extorsão estava ligado a um IP localizado na Russia e, "os pedidos levam muito tempo" a PJ terá decido pedir ajuda a Pedro Henriques, advogado da Doyen para interceder junto das autoridades russas sentido de o identificar. "Isso é habitual?: perguntou a juíza. "Não", admitiu o inspetor. A sessão foi então interrompida e a procuradora que estava a conduzir o interrogatório não voltou ao assunto.
Já no fim da sessão, Anibal Pinto deixou no ar a hipótese de voltar ao tema.
Depois da interrupção, José Amador descreveu como a PJ montou uma operação numa estação de serviço para monitorizar o encontro entre Anibal Pinto, advogado de rui Pinto e Pedro Henriques, advogado da Doyen. O inspetor disse que o encontro foi vigiado mas não foi filmado porque "o magistrado do MP não autorizou, infelizmente ".
Foi depois desse encontro que a PJ terá percebido que a dupla Aníbal e Rui Pinto estava envolvida no caso.
Apesar de ter desistido da alegada tentativa de extorsão - Rui Pinto pedia uma "generosa doação " entre os 500 mil e um milhão de euros - o caso prosseguiu mas José Amador não teve tempo para explicar como o veio a deter na Hungria.
A sessão foi interrompida e será retomada na segunda-feira com a audição da mesma testemunha.
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