Football Leaks

Testemunho de informático pode fazer cair três crimes de acesso indevido imputados a Rui Pinto

Rui Pinto é acusado de 90 crimes relacionados com o Football Leaks
Rui Pinto é acusado de 90 crimes relacionados com o Football Leaks
Nuno botelho

Declarações prestadas esta quarta-feira indicam que quem fez os ataques ao Sporting em 2015 não conseguiu aceder às contas de correio eletrónico de Bruno de Carvalho, de Jorge Jesus e do funcionário Tiago Vieira

Testemunho de informático pode fazer cair três crimes de acesso indevido imputados a Rui Pinto

Miguel Prado

Jornalista

O testemunho de David Tojal, antigo técnico informático do Sporting, poderá ter feito cair três dos 68 crimes de acesso indevido pelos quais Rui Pinto está a ser julgado, nomeadamente em relação ao alegado acesso às caixas de correio eletrónico de Jorge Jesus, Bruno de Carvalho e Tiago Vieira.

Esta quarta-feira, em tribunal, David Tojal passou em revista vários registos de acesso (“logs”) ao sistema informático do Sporting por utilizadores externos ao clube, nomeadamente a partir de IP situados em Budapeste e Vila Nova de Gaia, tendo confirmado acessos indevidos a várias caixas de correio do Sporting, conforme a acusação, com exceção de três.

Segundo a testemunha convocada pelo Ministério Público, na madrugada de 21 de julho de 2015 foram registadas tentativas de acesso às contas do então presidente Bruno de Carvalho, do treinador Jorge Jesus e do funcionário Tiago Vieira, todas sem sucesso. Dessa forma poderá também vir a cair o crime de violação de correspondência relativo a Bruno de Carvalho.

Da restante análise de “logs” para vários dias posteriores (até o blog Football Leaks começar a publicar documentos do Sporting, como o contrato de Jorge Jesus, e da Doyen, a 29 de setembro de 2015), David Tojal confirmou uma série de acessos conseguidos a partir de fora, mas em nenhuma das listagens constavam os nomes de Bruno de Carvalho, Jorge Jesus e Tiago Vieira.

O antigo responsável informático do Sporting confirmou intrusões nas caixas de correio dos então funcionários Bruno Cardoso, Carlos Vieira (administrador), José Vicente Moura, Manuel Fernandes, Rui Caeiro, Virgílio Lopes, Sancho Freitas, Octávio Machado, Pedro Solano Almeida, Augusto Inácio, Tiago Fernandes, José Laranjeira, Alexandre Godinho, Paulo Henriques e Paulo Antunes Silva. Em alguns casos a 28 de julho, noutros a 4 de agosto, noutros ainda a 21 e a 28 de setembro de 2015.

Do testemunho de David Tojal ficaram dúvidas sobre a duração de um outro ataque, posterior a muitas destas intrusões, que a 22 de setembro bloqueou os e-mails do Sporting. Embora o “site” e outros serviços informáticos tenham permanecido a funcionar, esse ataque “mandou abaixo” o sistema de correio eletrónico. “Foram centenas de comandos lançados ao mesmo tempo e o nosso servidor não teve capacidade de resposta”, declarou a testemunha.

Contudo, a juíza Margarida Alves ficou com dúvidas sobre o real impacto desse ataque, uma vez que os “logs” aos e-mails do Sporting apontam para a recuperação de acessos de funcionários do clube aos seus e-mails horas depois do referido ataque, contrariando a ideia de que o clube ficou vários dias sem acesso ao correio eletrónico.

Recorde-se que a acusação do Ministério Público imputa ao arguido Rui Pinto a responsabilidade por um ataque de DDoS (Distributed Denial of Service), que bombardeou o sistema informático do Sporting com um elevado volume de pedidos que deixou esse mesmo sistema inoperacional. A acusação indica que isso paralisou a utilização do e-mail institucional do Sporting durante 3 dias. Por isso Rui Pinto é também acusado de um crime de sabotagem informática.

David Tojal continuará a ser ouvido em tribunal na manhã da próxima terça-feira. Ainda para a próxima semana está agendada a prestação de depoimentos de várias outras testemunhas cujos e-mails foram visados, entre os quais o ex-presidente Bruno de Carvalho e o antigo administrador Carlos Vieira.

Rui Pinto é acusado de um total de 90 crimes, incluindo um de sabotagem informática ao Sporting, um de tentativa de extorsão à Doyen (em co-autoria com o seu então representante legal Aníbal Pinto), 68 de acesso indevido, seis de acesso ilegítimo e 14 de violação de correspondência.

Tem alguma questão? Envie um email ao jornalista: mprado@expresso.impresa.pt