Football Leaks

Football Leaks. Nélio Lucas queria “ouvir cantar” Aníbal Pinto para apanhar Rui Pinto. Aconteceu na estação de serviço da A5

Secretismo. Nélio Lucas na única vez em que se deixou fotografar nos escritórios da Doyen Sports Investments, em Londres
Secretismo. Nélio Lucas na única vez em que se deixou fotografar nos escritórios da Doyen Sports Investments, em Londres
FOTO Stéphane Lagoutte/REA/4see

Em outubro de 2015 o inspetor-chefe da Polícia Judiciária, Rogério Bravo, recebeu um e-mail no qual o então presidente da Doyen, Nélio Lucas, defendia a necessidade de atrair o advogado Aníbal Pinto para um encontro que permitisse "ouvir cantar" este último, e descobrir quem seria o autor do blog Football Leaks. Mas Bravo declarou em tribunal nem se recordar desse e-mail. "Não sei o que é isso. Nem me lembro de o ter recebido, estava em cópia", declarou

Football Leaks. Nélio Lucas queria “ouvir cantar” Aníbal Pinto para apanhar Rui Pinto. Aconteceu na estação de serviço da A5

Miguel Prado

Jornalista

Em outubro de 2015 o inspetor-chefe da Polícia Judiciária, Rogério Bravo, recebeu um e-mail, com o seu endereço em cópia, no qual o então presidente da Doyen, Nélio Lucas, defendia a necessidade de atrair o advogado Aníbal Pinto para um encontro que permitisse "ouvir cantar" este último, e descobrir quem seria o autor do blog Football Leaks.

Mas Rogério Bravo declarou em tribunal nem se recordar desse e-mail. "Não sei o que é isso. Nem me lembro de o ter recebido, estava em cópia!", declarou o inspetor-chefe da PJ especializado na área de cibercrime.

No e-mail Nélio Lucas defendia a importância de realizar um encontro com o seu advogado, Pedro Henriques, e o advogado Aníbal Pinto (representante de Rui Pinto, ainda sob a identidade Artem Lobuzov), monitorizado pela PJ, porque esse seria "o ponto mais sólido para chegar ao verdadeiro artista".

Rogério Bravo, confrontado com esse e-mail (que a defesa de Aníbal Pinto usa para sustentar a tese de que este foi alvo de uma cilada), afirma que essa postura de Nélio Lucas era natural para "alguém que queria identificar a fonte da informação (divulgada na internet) e responsabilizá-la".

O inspetor-chefe confirmou ter acompanhado no terreno o encontro na estação de serviço na A5 que juntou Nélio Lucas, Pedro Henriques e Aníbal Pinto. Rogério Bravo acompanhou a diligência no exterior do restaurante Pans & Company, numa posição mais recuada, enquanto dentro do espaço estavam dois inspetores da PJ, próximo da mesa onde Aníbal Pinto acabou por revelar que já tinha representado o autor de Football Leaks num processo anterior relacionado com um banco das ilhas Caimão.

Foi essa informação que permitiu à PJ associar a identidade Artem Lobuzov a Rui Pinto, que então estava na Hungria, onde viria a ser detido em janeiro de 2019.

Confrontado com o facto de uma das inspetoras da PJ ter assumido que assinou o relatório dessa operação na A5 sem o ter lido, e que se o tivesse lido não assinaria, Rogério Bravo disse lamentar o sucedido. "Nunca vi uma coisa dessas na minha carreira", comentou ainda Rogério Bravo sobre a assinatura de um relato de uma diligência sem ler.

Rogério Bravo disse ainda que a inspetora, antes de ser chamada como testemunha, afirmou que não queria vir testemunhar no julgamento de Rui Pinto.

O inspetor-chefe afirmou ainda, em jeito de balanço, que a PJ fez "um bom trabalho para entregar aquelas duas pessoas ao Ministério Público".

Rui Pinto está a ser julgado por 90 crimes, incluindo um de tentativa de extorsão à Doyen, este em co-autoria com Aníbal Pinto.

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