Em outubro de 2015 o inspetor-chefe da Polícia Judiciária, Rogério Bravo, recebeu um e-mail, com o seu endereço em cópia, no qual o então presidente da Doyen, Nélio Lucas, defendia a necessidade de atrair o advogado Aníbal Pinto para um encontro que permitisse "ouvir cantar" este último, e descobrir quem seria o autor do blog Football Leaks.
Mas Rogério Bravo declarou em tribunal nem se recordar desse e-mail. "Não sei o que é isso. Nem me lembro de o ter recebido, estava em cópia!", declarou o inspetor-chefe da PJ especializado na área de cibercrime.
No e-mail Nélio Lucas defendia a importância de realizar um encontro com o seu advogado, Pedro Henriques, e o advogado Aníbal Pinto (representante de Rui Pinto, ainda sob a identidade Artem Lobuzov), monitorizado pela PJ, porque esse seria "o ponto mais sólido para chegar ao verdadeiro artista".
Rogério Bravo, confrontado com esse e-mail (que a defesa de Aníbal Pinto usa para sustentar a tese de que este foi alvo de uma cilada), afirma que essa postura de Nélio Lucas era natural para "alguém que queria identificar a fonte da informação (divulgada na internet) e responsabilizá-la".
O inspetor-chefe confirmou ter acompanhado no terreno o encontro na estação de serviço na A5 que juntou Nélio Lucas, Pedro Henriques e Aníbal Pinto. Rogério Bravo acompanhou a diligência no exterior do restaurante Pans & Company, numa posição mais recuada, enquanto dentro do espaço estavam dois inspetores da PJ, próximo da mesa onde Aníbal Pinto acabou por revelar que já tinha representado o autor de Football Leaks num processo anterior relacionado com um banco das ilhas Caimão.
Foi essa informação que permitiu à PJ associar a identidade Artem Lobuzov a Rui Pinto, que então estava na Hungria, onde viria a ser detido em janeiro de 2019.
Confrontado com o facto de uma das inspetoras da PJ ter assumido que assinou o relatório dessa operação na A5 sem o ter lido, e que se o tivesse lido não assinaria, Rogério Bravo disse lamentar o sucedido. "Nunca vi uma coisa dessas na minha carreira", comentou ainda Rogério Bravo sobre a assinatura de um relato de uma diligência sem ler.
Rogério Bravo disse ainda que a inspetora, antes de ser chamada como testemunha, afirmou que não queria vir testemunhar no julgamento de Rui Pinto.
O inspetor-chefe afirmou ainda, em jeito de balanço, que a PJ fez "um bom trabalho para entregar aquelas duas pessoas ao Ministério Público".
Rui Pinto está a ser julgado por 90 crimes, incluindo um de tentativa de extorsão à Doyen, este em co-autoria com Aníbal Pinto.
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