Daniel Ricciardo, o sorriso da Fórmula 1 que voltou a rasgar-se: “Posso dizer palavrões?”
Clive Mason - Formula 1
Dois anos volvidos, uma corrida da Fórmula 1 é de Daniel Ricciardo. O australiano foi o mais rápido no GP de Monza, onde acabou a falar italiano e a perguntar se poderia deixar cair os filtros do vernáculo no discurso da vitória. Os dois carros da McLaren terminaram a liderar o pódio numa corrida também marcada pelo acidente entre Lewis Hamilton e Max Verstappen
Lewis, Sir Lewis, acabara de regressar ao alcatrão com pneus novos, saído das boxes a zarpar à frente de Max Verstappen, que não é britânico, nem condecorado foi pela coroa neerlandesa, mas era o líder do mundial da Fórmula 1 no momento em que farejava o rasto ao sete vezes campeão. Era tempo de mais uma picardia asfaltada em Monza.
Pouco demorou a que as faíscas entre os dois pilotos, então separados no topo do mundial por cinco pontos, se engalfinhassem. Entrando numa chicane e querendo ultrapassar Hamilton por dentro, Verstappen tentou espremer o carro por dentro da curva onde pouco espaço havia entre o Mercedes do britânico e os limites da pista.
O Red Bull acabou por ser chocalhado ao passar por cima das pequenas lombas postas na fronteira do alcatrão, causando um efeito trampolim que projetou o carro para cima do monolugar de Hamilton, empurrando ambos para a gravilha. Os protagonistas da luta pelo título mais renhida dos últimos anos abandonaram a corrida na 26.ª volta, servindo tudo isto, também, para mais uma vez provar a eficiência salvadora de vidas da auréola (halo) colocada nos carros.
O Grande Prémio de Monza prosseguiu sem os carros e os pilotos mais rápidos na Fórmula 1. Salvaguarda a segurança de ambos, a sua saída de cena terá acionado um tiquetaque de alívio na cabeça de um piloto em particular, que partiu da segunda posição da grelha e praticamente liderou toda a corrida.
Mesmo não sendo "mega rápido", como admitiria no final, nem tendo o mais rápido dos carros da grelha, como é sabido, Daniel Ricciardo foi quem aceleraria pela última vez na meta sem alguém na sua frente. Com berros abafados pelo capacete e a rir-se desalmadamente, o australiano venceu a corrida em êxtase e, 170 corridas depois, deu uma vitória à McLaren.
Seguir-se-ia o espetáculo dentro do espetáculo que é Daniel Ricciardo.
Porque entre o ratatouille de egos, personalidades e feitios que fervilham na Fórmula 1, o australiano há muito que é, ou pelo menos parece ser, o mais descontraído e risonho deles todos. O mais sorridente será certamente e a dentadura risonho de Ricciardo voltou a rasgar-se na cara do piloto.
Clive Mason - Formula 1
Foi a oitava vitória da carreira do australiano, efusivo e elétrico quando saiu do carro. "Posso dizer uns palavrões", perguntou, mal lhe colocaram um microfone à frente e lhe pediram o primeiro discurso após a vitória. "Nunca me fui embora, apenas me cheguei para o lado durante um pouco", disse, antes, quando estava a estacionar o seu McLaren no lugar reservado ao vencedor.
Desde 2018, no Mónaco, que a Fórmula 1 não via Daniel Ricciardo a conquistar um Grande Prémio, então ainda ao serviço da Red Bull. Foi a última vez que se viu algo tão dele, tão cara chapada do piloto de 32 anos — o shoey, que o vê a descalçar uma das botas no pódio, a enchê-la de champanhe e a beber todo o líquido celebrativo quase em um trago só.
Descalçou, logo de seguida, a outra bota para também a atestar de champanhe e a servir a Lando Norris, companheiro de equipa que terminou no 2.º lugar e selou um feito para a McLaren, que há 11 anos não tinha uma corrida com os dois carros nas melhores posições. O 3.º posto ficou com Valteri Bottas, que recuperou 15 posições durante a corrida com o seu Mercedes.