Fórmula 1

Antes do Verstappen vs. Hamilton: oito últimas corridas da temporada em que aconteceu um pouco de tudo

Antes do Verstappen vs. Hamilton: oito últimas corridas da temporada em que aconteceu um pouco de tudo
Grand Prix Photo/Getty

A época de 2021 está a ser animada, Max Verstappen e Lewis Hamilton partem para a último corrida do ano empatados, mas o que não falta na Fórmula 1 são histórias de últimas corridas do ano cheias de eventos, acidentes, reviravoltas e polémicas. Estas são algumas das mais emocionantes

Vamos a factos históricos: a luta pelo título de 2021 já é uma das mais animadas de sempre, com Max Verstappen e Lewis Hamilton empatados em pontos à entrada da derradeira corrida, o que acontece apenas pela segunda vez em mais de 70 anos de Fórmula 1 - a primeira tinha acontecido em 1974.

Além disso, está em jogo um potencial oitavo título para o britânico, que ultrapassaria assim Michael Schumacher na lista dos maiores campeões da história. Para Max Verstappen, que desde a sua estreia em 2015, com apenas 17 anos, tem batido recordes atrás de recordes de precocidade, será uma estreia, em plena era de domínio da Mercedes.

No domingo, em Abu Dhabi, será dia de winner-takes-it-all. Ou seja, quem vencer a corrida, é campeão. Terminar à frente do rival em posição pontuável significa também levar o título para casa. Mas como este Mundial já teve de tudo, polémicas, grandes corridas, corridas que nem aconteceram, incidentes entre os dois favoritos, também aqui há uma exceção e uma exceção que nos levaria a mais um cenário inédito neste 2021: caso Hamilton termine em 9.º e Verstappen em 10.º, mas com a volta mais rápida, os dois terminariam o Mundial empatados - algo que nunca aconteceu - mas o título iria para o neerlandês, por ter mais uma vitória que Hamilton ao longo do ano.

O último Grande Prémio da temporada promete, assim, emoções forte, palpitações, batimentos irregulares. Algo que não é assim tão incomum. Estas são algumas das mais emocionantes últimas corridas da temporada da história da Fórmula 1.

1976 - Dilúvio no Japão

Esta é daquelas que até quem não acompanha Fórmula 1 conhece, já que foi retratada no filme “Rush” sobre a rivalidade entre o boémio James Hunt e o cirúrgico e metódico Niki Lauda. O austríaco chegou a Fuji em três pontos de vantagem para o britânico, isto mesmo tendo falhado duas corridas da temporada, depois do devastador acidente em Nurburgring que deixou Lauda com graves queimaduras e lesões nos pulmões. Lauda chegou até a receber a extrema-unção no hospital, mas era tão obstinado que não só fintou a morte como voltou a correr e lutou pelo campeonato até ao fim.

Mas o carácter forte do então piloto da Ferrari também fazia dele um tipo que se recusava a pensar por algo mais que não fosse a sua cabeça. Lauda só precisava de terminar à frente de Hunt, mas o temporal que se abateu sobre a pista japonesa trouxe reminiscências daquilo que tinha acontecido na Alemanha, onde as pobres condições meteorológicas haviam sido decisivas para o seu acidente. Lauda fez duas voltas, encostou o carro na box e recusou-se a correr. As condições estavam demasiado perigosas, disse. E isso era mais importante que um título.

As portas ficaram assim abertas para Hunt, mas não sem drama: o britânico precisava apenas de um 4.º lugar, liderou boa parte da corrida, mas com o piso a secar os seus pneus de chuva deixaram-no rapidamente em dificuldades. A três voltas do fim furou, veio à box e regressou à pista em 5.º, mas duas ultrapassagens nas derradeiras voltas colocaram-no no pódio. Venceu o seu único Mundial com apenas um ponto de vantagem para Lauda.

Bernard Cahier/Getty

1984 - A margem mais curta de sempre

Tal como este ano, em 1984 também uma das corridas (GP Mónaco) apenas distribuiu meios pontos e foi por meio ponto que Niki Lauda chegou ao terceiro título mundial, batendo o seu colega na McLaren, um então jovem Alain Prost.

Não que o GP Portugal, no Estoril, que fechou a época, tenha sido a mais emocionante das provas, mas meio ponto é ainda hoje a diferença mais curta a decidir um título (um recorde que até pode ser riscado este ano). Lauda precisava de um 2.º lugar em caso de vitória de Prost e acabou por ser um pião de Nigel Mansell à volta 52 que elevou o austríaco à posição que precisava.

GABRIEL DUVAL/Getty

1986 - Malditos pneus

O Mundial chegava a Adelaide, na Austrália, onde durante anos e anos se realizou a última prova da época, e três pilotos podiam ainda chegar ao título: Alain Prost, Nigel Mansell e Nelson Piquet. Mansell entrou no fim de semana como líder e fez a pole. Parecia encaminhado para a glória, já que o britânico só precisava de terminar em 3.º, mas arrancou mal e caiu para 4.º.

Lá na frente, Keke Rosberg liderava, mas a 20 voltas do fim furou um pneu, o que colocou de novo Mansell como virtual campeão. O problema é que esse não seria o único incidente com pneus do dia: logo na volta seguinte também um dos pneus do Williams do dono de um dos bigodes mais portentosos da Fórmula 1 explodiu e Mansell ficou fora da corrida.

Agora era o brasileiro Piquet o virtual campeão, mas a Williams temeu uma repetição do drama e chamou-o à box. Já Prost arriscou e manteve-se em pista. Foi até ao fim, pneus praticamente a chorar pela vida, mas viu a bandeira de xadrez em primeiro, levando assim o título mundial para França.

1994 - Sobrevivência ou mau perder?

A temporada de 1994 ficou indelevelmente marcada pela morte de Ayrton Senna e pela confirmação de um novo talento geracional: Michael Schumacher. O alemão da Benetton tomou as rédeas da temporada, mas na fase final ressurgiu Damon Hill, o britânico que se viu de repente como líder da Williams depois do desaparecimento do brasileiro.

Hill venceu em Suzuka e ambos chegaram a Adelaide separados por um singelo ponto. Schumacher esteve sempre na dianteira, Hill logo à espreita, mas à volta 36 o germânico cometeu um incaracterístico erro, ao sair largo numa da curvas do circuito citadino, embatendo ao de leve no muro. Hill aproveitou a distração e tentou ultrapassagem, com o alemão a reentrar de forma impetuosa em pista, embatendo no carro do filho de Graham Hill.

Schumacher desistiu logo ali, Hill ainda tentou levar o carro até ao fim, em busca do ponto que lhe faltava, mas os danos na suspensão eram demasiados. Desistiram os dois, o alemão não foi sancionado e venceu assim, com muita polémica, o primeiro de sete títulos, por apenas um ponto.

1997 - A vingança da Williams

A última prova do Mundial de 1997 até estava para se realizar no Estoril, mas o atraso nas obras na pista portuguesa (que nunca mais voltaria ao Mundial) levaram a decisão do título para Jerez, em Espanha. De novo Michael Schumacher como protagonista, já na Ferrari, que liderava o Mundial por apenas um ponto face a Jacques Villeneuve, da Williams.

O alemão liderou grande parte da corrida, mas à volta 48 o canadiano tentou a ultrapassagem, que estava prestes a ser concluída com sucesso quando Schumacher, vendo-se a perder posição, deliberadamente atirou o seu carro para cima do Williams do rival. Mas desta vez, ao contrário do que havia acontecido em 1994, a Williams saiu por cima: Schumacher desistiu após a colisão, mas o filho de Gilles Villeneuve continuou, apesar dos danos no radiador. Mesmo com um carro a um ritmo bem mais lento que os restantes, Villeneuve ainda conseguiu terminar no pódio e roubar o título a Schumacher, por três pontos.

2007 - Quando o Ice Man fez uma careta aos dois McLarens

Este foi o ano da chegada de Lewis Hamilton à Fórmula 1 e o britânico esteve muito perto de se sagrar campeão logo na estreia. Hamilton chegou à última prova do ano, no Brasil, com quatro pontos de vantagem para o colega de equipa na McLaren, Fernando Alonso, e sete para Kimi Raikkonen, da Ferrari, mas um problema de caixa de velocidades desde logo hipotecou as hipóteses do jovem.

Vivia-se então uma guerra interna entre Hamilton e Alonso e quem aproveitou foi Raikkonen, que com uma reta final fantástica de campeonato roubaria um título que parecia nas mãos da McLaren. Venceu em Interlagos, o seu colega Felipe Massa foi 2.º e Alonso terceiro. Hamilton, depois de uma corrida azarada, ainda escalou posições até ao 7.º posto, mas Raikkonen era campeão com um ponto de vantagem para o britânico.

Clive Mason/Getty

2008 - “Is that Glock??”

Parecia impossível que uma decisão de título fosse mais emocionante que a de 2007, mas eis que um ano depois o título decidiu-se não na última volta, mas sim na última curva do ano, quando na garagem de Felipe Massa já se festejava.

O primeiro título de Hamilton é também o momento mais cruel da carreira do brasileiro, que pensava ter o Mundial na mão quando cruzou a linha de meta em primeiro lugar, e logo em casa, São Paulo.

Mas 30 segundos depois, a desilusão.

Com a chuva a massacrar a última fase da corrida, Hamilton precisava de um 5.º lugar para ser campeão e era 6.º à entrada da última volta. Timo Glock batalhava então para manter em pista o seu Toyota com pneus macios e já com a reta da meta praticamente à vista foi ultrapassado por Vettel e Hamilton, que se tornou assim aos 23 anos no mais jovem campeão do Mundo da história (um recorde entretanto já batido), com apenas um ponto de vantagem.

As imagens do desespero de Massa no pódio ainda hoje são dolorosas, mais sabendo que o brasileiro, campeão durante 30 segundos, nunca mais conseguiu ficar tão perto da glória.

2012 - Vettel de trás para a frente

Mais uma vez Interlagos a trazer uma emocionante decisão do título, num GP Brasil com chuva, muitos incidentes e um Sebastian Vettel a fazer uma corrida de trás para a frente para bater Fernando Alonso no Mundial.

O alemão foi tocado ainda na primeira volta, caiu para último e daí até final foi um festival de ultrapassagens que o devolveram aos primeiros lugares. Terminou em 6.º e Alonso, então na Ferrari, não conseguiu melhor que o 2.º lugar - e foram apenas três os pontos que separaram os dois no final.

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