Foram 348 corridas (349 se contarmos com a próxima), 21 vitórias, 103 pódios e um título mundial em 2007. E, no domingo, o fim: aos 42 anos, Kimi Raikkonen vai dizer adeus, agora em definitivo, à Fórmula 1, levando com ele as respostas monossilábicas e a atitude de “estou nem aí” que fizeram dele, além de um piloto de excelência, uma das personagens de culto do paddock.
E mesmo nas últimas horas enquanto piloto de Fórmula 1, Raikkonen mantém-se igual a si próprio. Emoções pela saída? Poucas. Planos para o futuro? Menos ainda. Misticismo associado? Eterno.
“Levo boas memórias daqui, boa parte da minha vida foi passada na Fórmula 1”, começou por dizer Kimi, que logo, logo, ao seu jeito, afastou qualquer nostalgia: “Mas isto nunca foi a coisa mais importante da minha vida. É bom que chegue ao fim, estou entusiasmado pela vida normal que vem a seguir”.
As emoções, essas, estarão reservadas à família. “A minha mulher vai estar mais emocionada do que eu”, disse o finlandês nas já habituais conferências de imprensa de antevisão, neste caso ao GP Abu Dhabi, que como já é tradição marca o final da temporada na Fórmula 1. Questionado sobre se há alguma hipótese de todos estes anos depois vermos um Raikkonen choroso ou embargado pelo momento, mais uma resposta à Raikkonen: “Não sei. Duvido, mas nunca se sabe”.
Há esperança, portanto.
O adeus de Kimi Raikkonen, que sai da Fórmula 1 como recordista de provas iniciadas e como ainda o último campeão pela Ferrari, tem sido ofuscado pela luta entre Max Verstapppen e Lewis Hamilton pelo título, nada que pareça afetar muito o finlandês, que nesta última prova se faz acompanhar não só pela mulher mas também pelos filhos, Robin e Rianna. Que parecem ter puxado ao pai, pelo menos na atitude.
“Honestamente, duvido que os meus filhos se importem muito. Há coisas que o pai deles faz que são muito mais interessantes”, explicou o piloto, antes de finalmente mostrar alguma pontinha de emoção: “Mas é bom tê-los cá”.
Um carro especial
Kimi Raikkonen passou as últimas três temporadas na Alfa Romeo e será com um carro com uma decoração especial que vai fazer o adeus. Na pintura do C41 com o número 7 vai surgir uma mensagem onde se pode ler: “Querido Kimi, vamos deixar-te em paz agora”. Uma referência a um dos momentos mais icónicos do nórdico, que aconteceu precisamente em Abu Dhabi, mas já há longínquos nove anos.
Raikkonen era então piloto da Lotus e aproveitou uma corrida cheia de incidentes para se colocar na frente. Para a história ficou então uma comunicação rádio com o seu engenheiro. Quando este tentava dar-lhe informações sobre os carros que seguiam atrás de si, o finlandês gritou: “Deixa-me em paz! Eu sei o que estou a fazer”. E sabia mesmo, porque ganhou a corrida.
E é mesmo em paz que Kimi quer ser agora deixado. Os planos para o futuro, esses, ainda não estão na cabeça do piloto. “Agora a única coisa em que estou a pensar agora é em acabar o ano. Vamos ver o que vem por aí, se fizer sentido fa-lo-ei, mas tenho zero planos neste momento”, sublinhou, dizendo-se “feliz por ter uma agenda menos agitada” nos próximos anos.
Tem alguma questão? Envie um email ao jornalista: tribuna@expresso.impresa.pt