Lewis Hamilton diz que vai “cumprir um sonho de criança: guiar de vermelho Ferrari”, Toto Wolff diz que “não guarda rancores”
NurPhoto
Depois das emoções das últimas horas, Lewis Hamilton comentou a ida para a Ferrari, que lhe dá a oportunidade de cumprir mais um sonho, lembrando sempre o papel da Mercedes no sucesso da sua carreira. Toto Wolff, chefe da equipa alemã, revelou que soube da saída do piloto apenas no dia anterior ao anúncio e, embora compreenda a opção, aponta que tudo poderia ter sido feito de outra forma
É daquelas coisas que não dá para definir, mas que um amante do desporto automóvel sabe perfeitamente o que é: o vermelho Ferrari. Não mais claro ou mais escuro, mais carregado ou leve. É o vermelho Ferrari.
Por esse vermelho tão particular muitos começaram a correr, olhando para ele como o derradeiro objetivo. Lewis Hamilton demorou, mas também ele, tal como Fangio, Lauda, Prost, Schumacher, Alonso ou Vettel, vai sentar-se no carro mais mítico da história da Fórmula 1.
Com a poeira finalmente a assentar e depois da surpresa ter dado lugar à certeza e à aceitação de um novo paradigma a partir de 2025, Hamilton pronunciou-se, finalmente. Num texto que publicou nas suas várias redes sociais, o britânico fala de “uns dias malucos”, com “toda uma variedade de emoções”, que consegue finalmente colocar em palavras, começando por se dirigir à Mercedes e aos “incríveis 11 anos na Mercedes”, casa onde chegou em 2013 e com quem ganhou seis dos seus sete títulos mundiais.
“Mas chegou agora a altura de começar um novo capítulo na minha vida e vou juntar-me à Scuderia Ferrari em 2025. Sinto-me muito sortudo por ter atingido feitos com a Mercedes que enquanto miúdo só podia sonhar e agora tenho a oportunidade de cumprir outro sonho de criança: guiar de vermelho Ferrari”, escreve ainda o piloto inglês, de 39 anos.
Hamilton desta vez não vai ficar de fora do Ferrari
Dan Istitene
Para quem questiona a sua saída da Mercedes, Hamilton lembra os dias em que deu “o salto de fé para o desconhecido” quando assinou com a equipa alemã, numa fase em que o Mercedes não era um carro ganhador. “Sei que muitas pessoas não o perceberam na altura, mas estava certo e é a sensação que também tenho agora. Estou entusiasmado para ver o que esta nova oportunidade me vai trazer e o que podemos fazer juntos”, escreve ainda o recordista de corridas ganhas na Fórmula 1, com 103.
De acordo com a imprensa italiana, o contrato de Hamilton com a Ferrari pode chegar aos 100 milhões de euros por ano, entre vencimento, bónus, publicidade e direitos de imagem, com a scuderia também a comprometer-se em apoiar os projetos sociais do britânico. Mas sobre isso, Hamilton só quer pensar daqui a um ano, já que o seu foco está, diz, “na próxima temporada”, ainda com a Mercedes.
“Estou tão entusiasmado que nunca e quero ajudar a Mercedes a vencer de novo. Estou 100% comprometido com o trabalho que tenho de fazer e determinado em acabar a minha parceria com a equipa em grande”, aponta.
Mercedes compreende, mas questiona timing
Quinta-feira foi um dia atribulado em Brackley, local a hora e meia de Londres onde está a fábrica da Mercedes. Toto Wolff, diretor da equipa, foi obrigado a confirmar aos seus trabalhadores numa reunião de última hora que, sim, Hamilton estava mesmo de saída e que 2024 será o último ano de uma relação que foi a mais bem sucedida da história da Fórmula 1. E não demorou também a dar as suas explicações à imprensa.
Apesar de Wolff sentir o peso dos rumores há vários dias, garante que foi apenas na quarta-feira que Lewis Hamilton, no habitual pequeno-almoço que ambos fazem no final de cada mês para discutirem questões da equipa, em casa de Toto, em Oxford, o avisou que iria denunciar a opção de mais um ano de contrato, terminando assim a ligação à Mercedes em 2024. E que iria para a Ferrari.
Toto Wolff com Lewis Hamilton, uma parceria de sucesso
Icon Sportswire
“Quando assinámos contrato com o Lewis optámos por acordar algo a curto prazo e por isso o que aconteceu não é uma surpresa. Talvez o timing”, confessou o austríaco que lidera a Mercedes, que diz conseguir “compreender” a decisão do piloto: “Precisava de um novo desafio, de um ambiente diferente e esta era a última oportunidade para o fazer. O sonho de todos os pilotos é correr no carro vermelho”.
Ainda assim, Wolff confidenciou aos jornalistas algum desconforto com a situação e que “no futuro” ele e Hamilton ainda falarão sobre “se isto não podia ter sido feito de outra maneira”. O responsável da Mercedes frisa, no entanto, que não guarda “qualquer rancor” a alguém que considera um amigo. “Construímos esta relação nos últimos 10 anos e ele teve de enfrentar uma situação muito complicada, de decidir onde iria correr. Respeito a dificuldade da situação”, lembrou.
Sobre o que será a temporada de 2024 e a situação caricata que é a possibilidade de um piloto que vai para um rival estar na posse de informação sensível da Mercedes, Wolff diz que “nada vai mudar” para a próxima temporada e que não tem “qualquer dúvida sobre a integridade do Lewis” no capítulo da partilha de informações. “Queremos que esta seja uma temporada bem sucedida para os dois pilotos e para a Mercedes”, rematou.