Fórmula 1

O domínio de Verstappen, o adeus de Hamilton à Mercedes e os outros: aí está a época mais longa de sempre da Fórmula 1

O domínio de Verstappen, o adeus de Hamilton à Mercedes e os outros: aí está a época mais longa de sempre da Fórmula 1
BEN STANSALL

A época de 2024 arranca este fim de semana, extraordinariamente a um sábado, no GP Bahrain, a primeira de 24 corridas marcadas para este ano, um recorde. Max Verstappen vai em busca do 4.º título mundial e não há ninguém mais favorito que o neerlandês da Red Bull, numa temporada que será a última de Hamilton na Mercedes antes da transferência bombástica para a Ferrari

É já daqui a poucas horas que os motores começam a roncar na qualificação (16h, Sport TV4) para o GP Bahrain, a primeira de 24 provas do calendário de 2024 da Fórmula 1, a época mais longa de sempre da disciplina rainha do desporto automóvel. De Sakhir, a 2 de março, até Abu Dhabi, a 8 de dezembro, haverá um favorito contra quem ninguém se atreve a apostar, a despedida de Hamilton da Mercedes e muita gente à procura de um lugar para 2025. Até lá, estas são as questões para responder em 2024.

Menos domínio de Max Verstappen? Sim, talvez, mas…

Vamos fazer um pequeno exercício de retrospetiva, como no início de temporada de uma série de televisão. Previously on 2023: Max Verstappen venceu 19 das 22 corridas do ano, 10 delas de forma consecutiva, um recorde da Fórmula 1. Amealhou 575 pontos, mais do dobro do vice-campeão mundial, o colega de equipa Sergio Pérez e mais 121 do que na época anterior, sagrando-se campeão com ainda cinco corridas por disputar - mais só mesmo Michael Schumacher em 2002 (seis corridas), nos anos de domínio do alemão na Ferrari.

É difícil encontrar uma temporada com diferenças tão acentuadas. Em 2023, aliás, a Red Bull só não ganhou no mui particular circuito citadino de Singapura (venceu Carlos Sainz, da Ferrari), com Pérez a vencer as duas restantes corridas que Max Verstappen não dominou com uma limpeza quase antológica.

Se estes números serão menos impressionantes em 2024? É possível. Com o regulamento técnico em vigor a entrar nas duas últimas temporadas - grandes mudanças vão chegar em 2026 -, é natural que as restantes equipas se aproximem mais da Red Bull. Mas haverá luta acesa no Mundial de pilotos? Dificilmente. Mesmo que os testes de pré-época não permitam leituras muito ambiciosas, o carro da equipa austríaca continua a parecer sólido face concorrência em termos de performance, mesmo que para 2024 o desenho do RB20 seja diferente dos anos anteriores, piscando o olho até ao falhado conceito da Mercedes da última temporada, nomeadamente nos diminutos sidepods. Conseguir fazer funcionar uma ideia com a qual outros desesperaram será o derradeiro golpe de mestre da Red Bull. E algo muito desmoralizador para os rivais.

Os treinos livres em Sakhir deixaram algumas dúvidas quanto ao comportamento do Red Bull em voltas rápidas. A confirmar, ou não, já na qualificação desta sexta-feira. Mas mesmo que não haja um domínio absoluto naquele casamento perfeito entre talento, máquina e fiabilidade, Max Verstappen parte para o arranque da nova temporada de Fórmula 1 como o único alvo a abater, o favorito incontestado. Aos 26 anos, o neerlandês pode chegar ao quarto título mundial, o que o colocaria no mesmo patamar de Alain Prost e Sebastian Vettel e com apenas com Fangio (5), Hamilton e Schumacher (7) no seu horizonte.

Verstappen a caminho do 4.º título mundial? É possível
MARTIN KEEP

E os outros?

Aos outros cumprirá a tarefa de, pelo menos, tentar roubar mais um par de corridas à Red Bull. E depois dos testes de pré-época que também aconteceram no circuito de Sakhir parece ser a Ferrari a equipa mais preparada para o fazer.

O espanhol Carlos Sainz foi o mais rápido nos testes de há uma semana, mas de velocidade o Ferrari nunca teve razões de queixa. Faltará acertar o ritmo de corrida e a fiabilidade, mas Charles Leclerc lançou frases encorajadoras, elogiando a consistência de um carro que, diz, “é bom de guiar”. Uma evolução, já que o monegasco garante que os testes do ano passado foram os piores desde que chegou à Ferrari.

Também Lewis Hamilton e George Russell apontaram melhorias no W15 - há um ano, o W14 não valeu nem uma vitória à Mercedes, pela primeira vez a seco de vitórias desde 2011. Ferrari e Mercedes partem assim para 2024 com mais esperanças do que há um ano - mas ainda assim aparentemente longe de beliscar a Red Bull.

Na primeira metade do pelotão estarão também seguramente a McLaren e Aston Martin, que tiveram temporadas divergentes em 2023. A McLaren começou como uma das piores equipas da grelha, visitando inesperadamente os últimos lugares da classificação. Os upgrades trazidos para o GP Áustria transformaram o panorama: Norris e Oscar Piastri conseguiram até final da época nove pódios e a McLaren pareceu, em muitas corridas, a única equipa capaz de dar alguma luta a Max Verstappen.

Já a Aston Martin fez o percurso inverso: com um carro construído com know-how vindo da Red Bull, Fernando Alonso fez pódio em seis das primeiras oito corridas, mas a equipa de Silverstone não conseguiu acompanhar o desenvolvimento dos rivais, caindo muito em termos de desempenho na segunda metade da época. Agora, McLaren e Aston Martin parecem em condições de lutar com a Mercedes pelo 3.º lugar entre os construtores.

Na 2.ª metade da grelha, a renovada Visa Cash App RB F1 Team, antiga AlphaTauri - e para efeitos de facilidade, vamos chamar-lhe RB - parece na linha da frente. Depois de anos e anos liderada pelo veterano Franz Tost, a RB terá Laurent Mekies, ex-Ferrari, como chefe de equipa e uma maior relação com a casa-mãe da Red Bull. Entre os pilotos, mantêm-se Daniel Ricciardo e Yuki Tsunoda. Os testes da última semana e os primeiros quilómetros oficiais em Sakhir, na quinta-feira, foram prometedores - Ricciardo foi mesmo o mais rápido na primeira sessão de treinos livres, ainda que de pneus macios. Mas o segundo treino deixou dúvidas.

Do outro lado da medalha, a Haas e a Kick (antiga Alfa Romeo) parecem destinadas à luta pelo último lugar e a Alpine demora a dar o salto. Entre as cinco equipas com menos ambições, o equilíbrio será, muito provavelmente, nota dominante.

O último ano de Lewis Hamilton na Mercedes

A Fórmula 1 tende a esperar pelo verão para lançar as grandes bombas, mas este ano não foi de modas: ainda nem sequer se ouviam os primeiros gritos dos motores e já era oficial uma das mais impactantes transferências da história. Lewis Hamilton, sete vezes campeão mundial, seis delas pela Mercedes, será piloto da Ferrari em 2025, iniciando este fim de semana uma esquisita travessia dentro de um carro que ele e toda a gente já sabe que será seu rival daqui a um ano. Não é comum.

Este evento sísmico irá baralhar a dança de cadeiras na Fórmula 1, daí que é impossível dizer que só terá efeitos práticos na próxima temporada, numa grelha em que mais de metade dos pilotos não tem contrato para 2025. Assim, com a saída de Hamilton, abre-se um apetecível lugar na Mercedes e Carlos Sainz já sabe que tem de encontrar volante para a próxima época - dependendo também da época de 2024, será um ativo desejado por equipas à procura de mudanças. Na Red Bull, Sergio Pérez começa a temporada pressionado para diminuir diferenças para Verstappen.

George Russell, companheiro de equipa de Hamilton na Mercedes assegura que está farto de receber chamadas de interessados em ficar com o lugar do britânico, o que não é de admirar. Em 2026, os novos regulamentos podem abrir a porta a mais competitividade e ao fim do domínio da Red Bull. Fernando Alonso, do alto dos seus 42 anos e que esta temporada deverá chegar às 400 corridas de F1, mais um recorde, é um dos nomes falados, mas muito boa gente vai tentar andar bem esta temporada para se imiscuir entre as hipóteses - e, por isso, a época 2024 talvez não vá ser tão aborrecida quanto se está à espera.

Hamilton está de saída da Mercedes. Em 2025 será piloto da Ferrari
Peter Fox - Formula 1

Novas regras

Não é que seja uma nova regra, mas ainda há muito boa gente a questionar-se o porquê dos GP Bahrain e GP Arábia Saudita da próxima semana se disputarem a um sábado e não no habitual e histórico domingo. Isto acontece porque o Ramadão tem início a 10 de março, um domingo, e o GP Arábia Saudita teria assim obrigatoriamente de se correr no sábado anterior. Como tem de existir, de acordo com as regras da FIA, pelo menos sete dias de diferença entre duas corridas de Fórmula 1, o GP Bahrain também teve de ser antecipado.

Num ano sem grandes alterações, novidade para 2024 é outra antecipação: a da utilização do DRS, que passa a estar ativo à 2.ª volta de cada corrida (e após saída do Safety Car de pista) e não à 3.ª, como era regra até aqui. A questão poderá não ser de somenos para os adversários de Max Verstappen: nos últimos anos, quantas vezes já estavam a mais de um segundo do neerlandês à 3.ª volta de uma corrida? As oportunidades para ultrapassar poderão aumentar, dando mais emoção aos arranques.

Mudanças também na programação dos fins de semana com corridas de sprint, que em 2024 serão seis (GP China, GP Miami, GP Áustria, GP Estados Unidos, GP São Paulo e GP Catar). Ao contrário da época passada, a qualificação para o sprint vai disputar-se à sexta-feira, depois de uma única sessão de treinos, e não ao sábado de manhã. A corrida de sprint mantém-se ao sábado, antes da qualificação para a corrida propriamente dita, de domingo.

O DRS poderá ser ativado mais cedo em 2024
NurPhoto

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