Na Fórmula 1, nada de novo: a época arrancou com um passeio no parque para Max Verstappen
Mark Thompson/Getty
A época muda, o destino de 19 dos 20 pilotos da grelha ainda é a mesma: perseguir um neerlandês. Desde o arranque até ver a bandeira de xadrez, Verstappen liderou a corrida inaugural de 2024, no Bahrein, e conquistou o seu 55.º Grande Prémio na Fórmula 1. A Red Bull tomou os lugares da frente, os dois Ferraris vieram logo atrás e no Mercedes que será dele por mais um ano, Lewis Hamilton não foi além do sétimo lugar
A corrida calorenta na noite do Bahrein ia a um quarto da sua vida e no alcatrão aquecia um anticlímax notório. O vaivém de zumbidos com sonoridade cada vez mais eletrónica ia e vinha, os bólides percorriam a pista e 19 tinham uma similitude apesar dos motores e afinações, das cores na carapaça, dos autocolantes dos patrocinadores, tudo lhes ser diferente. Nas imediações da 15.ª volta, descansado da vida, no aborrecimento triunfal de só avistar o cinzentão da pista pela viseira do capacete, já ia Max Verstappen com meio minuto à maior do perseguidor mais próximo.
Desde a partida ao abanar da bandeira ao xadrez, o piloto que pôs a Fórmula 1 a aprender a conjugar o verbo “dominar” em neerlandês liderou a corrida inaugural de 2024 no descanso da extrema solidão. Até quando, de facto, virou para as boxes e parou pela primeira vez, lá passando os olhos por um semblante de outros humanos no circuito de Sakhir, o tricampeão mundial regressou à pista ainda cinco segundos por diante do tipo com quem terá reuniões, briefings e análises de dados com engenheiros nas catacumbas da Red Bull. Virou o ano e essas tertúlias continuarão bem-dispostas.
A Fórmula 1 arrancou esta nova época como terminou a anterior, Verstappen a pontuar sobre a maralha com uma superioridade que nunca pareceu ser beliscada. No final, a vantagem de 21 segundos para o 2.º lugar de Sergio Pérez e de quase 25 em relação ao 3.º posto de Carlos Sainz mantêm a dieta da hegemonia exercida pelo neerlandês e o carro da marca energética que prossegue a dar-lhe asas. As suspeitas de este ser um ano com um pouco mais de competitividade e incerteza, mesmo que doseadas - as sessões de treinos livres aparentam-no, culpa do bluff da Red Bull - foram correspondidos com o riso aos ‘s’ de Verstappen, quando chegou à reta da meta a curvar de lés a lés para celebrar. Também terá sido para se entreter.
Peter Fox - Formula 1
Peter Fox - Formula 1
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O “simply lovely” com o qual reagiu, no final e via rádio, às congratulações de Christian Horner pela “corrida muito profissional”, denotaram os sintomas do tipo de tédio vocal que a banalização da vitória causa nos desportistas. Uma hora, trinta e um minutos e quarenta e quatro segundos depois de partir da grelha, Max Verstappen nunca viu um carro à sua frente. “Inacreditável, hoje correu melhor do que o esperado. Foi muito prazeroso conduzir o carro hoje, foi um grande começo de época, é especial ter estes dias porque não acontecem muitas vezes na carreira”, disse, simpaticamente, o neerlandês já fora do monolugar e a reagir à 55.ª vitória em Grandes Prémios.
Por contraste, o responsável pelo meio frenesim em anos na Fórmula 1 que pôs muito boa gente a ansiar por antecipação, viu tudo isto a 50 segundos. Lewis Hamilton terminou no 7.º lugar, atrás de George Russell, companheiro da Mercedes (5.º), além dos Ferraris de Carlos Sainz (3.º) e Charles Leclerc (4.º) e do McLaren de Lando Norris (6.º). Oscar Piastri acabou logo atrás de Hamilton e à frente do quarentão Fernando Alonso (9.º), com Lance Stroll a fechar a primeira dezena da classificação.
Um alinhamento que deixa pistas sobre o que será crível de esperar para o terço inicial da temporada: enquanto espera a chegada do sir britânico em 2025, a equipa do cavalo sobre o vermelho será a que tentará, pelo menos, dar arrelias à Red Bull (com o espanhol já a esbofetear no imaginário quem na scuderia o pretere a Leclerc para fazer companhia a Hamilton); que Russell vai sendo mais rápido do que o sete vezes rei destas lides; e poderá não ser este ano que a Fórmula 1 cole gente à televisão com uma disputa de título renhida.
Mark Thompson/Getty
No que será o mais longo dos anos da Fórmula 1, a primeira de 24 corridas prenunciou que também pode ter um certo aborrecimento na dianteira da grelha.