As aspirações de uma equipa de Fórmula 1 exigem uma sintonia que vai desde quem aperta parafusos até quem conduz. A relação entre o ego das mãos que tocam no volante e o da voz que tenta sintonizar todas as mentes que contribuem para que um carro seja um milésimo de segundo mais rápido que o da concorrência é conflituosa.
As engenharias que movem um monolugar a velocidades que mereciam um aviso parecido com o da WWE, mas adaptado ao automobilismo – talvez algo como “proteja-se, não faça isto com o seu carro numa estrada com lombas” –, por sorte, não são afetadas pelas idiossincrasias menos oleadas das forças que trabalham para as moldar.
A Red Bull tem-se feito valer desta falta de proximidade entre a causa e o efeito. Max Verstappen dominou o início do campeonato com vitórias no Bahrein e na Arábia Saudita, dando seguimento à temporada passada, onde ganhou 19 das 22 corridas realizadas. Numa perspetiva coletiva, Sergio Pérez também tem feito o que se espera: ser o melhor dos piores. O problema da equipa é outro.
Depois do diretor da equipa da Red Bull que compete na Fórmula 1, Christian Horner,ter sido investigado devido a um suposto “comportamento inapropriado” face a uma mulher pertencente ao staff, o ambiente nunca mais foi o mesmo. Como resultado, os rumores de que Max Verstappen pode deixar os campeões mundiais de construtores antes do término do contrato (2028) ganham proporção.
A investigação independente levada a cabo pela Red Bull ilibou Horner da acusação que lhe era imputada e levou ao afastamento da queixosa. Acontece que a presença do diretor no paddock deixou de ser pacífica. Jos Verstappen, pai de Max, comentou que “a situação não era boa” e “estava a afastar as pessoas”. O piloto não fez por aliviar as declarações do progenitor e, não as confirmando, também não as rejeitou: “Ele não é mentiroso”.
A mudança deLewis Hamilton para a Ferrari eliminou a definição de impossível da Fórmula 1. Atenta à situação, a Mercedes já olha para a substituição do britânico. Se a aposta num jovem como Kimi Antonelli parece ser vista com bons olhos, a eventual hipótese de contratar Max Verstappen não é de descartar, em especial após as declarações do neerlandês depois do GP Arábia Saudita.
Helmut Marko, conselheiro da Red Bull, pode vir a ser suspenso devido a alegados contactos com a imprensa relacionados com o caso que envolveu Horner. Caso isso aconteça, Max admite deixar a equipa. “É muito importante que ele fique. Sinto que se um pilar tão importante cair, e eu disse isso à equipa, não será bom para a minha situação”, afirmou o campeão do mundo. “A minha lealdade para com ele é enorme”.
Do outro lado da trincheira, Toto Wolff, diretor da Mercedes, disse que “adorava” contar com Verstappen, mas primeiro tinha que desenvolver o W15 durante o muito que falta da época. No primeiro Grande Prémio de 2024, no Bahrain, a Mercedes fez quinto com George Russell e sétimo com Lewis Hamilton, ao passo que, na Arábia Saudita, Russell foi sexto e Hamilton terminou em nono.
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