Fórmula 1

Dizem que é o novo Verstappen, mas ele gosta mais de Hamilton: Arvid Lindblad vai tornar-se um dos mais jovens pilotos da história da F1

Dizem que é o novo Verstappen, mas ele gosta mais de Hamilton: Arvid Lindblad vai tornar-se um dos mais jovens pilotos da história da F1
James Sutton - Formula 1

O pai é sueco, a mãe tem origens na Índia e ele nasceu em Inglaterra. É com essa bandeira que, em março de 2026, Arvid Lindblad vai fazer a estreia na Fórmula 1 com apenas 18 anos e sete meses na Racing Bulls, equipa satélite da Red Bull. Diz-se que é o talento mais especial a sair da academia da equipa austríaca desde Verstappen, mas o jovem desvaloriza as comparações. E até parece gostar mais do compatriota Lewis Hamilton

Na Red Bull, tudo funciona como uma espécie de baralho de cartas: caindo uma delas, há imediatamente consequências nas duas equipas que o gigante das bebidas energéticas tem na Fórmula 1.

E o baralho, sabe-se, abana com muita frequência. Yuki Tsunoda, que assumiu o segundo carro da equipa principal à segunda corrida de 2025, já tem guia de marcha assinada e no próximo ano será despromovido à condição de piloto de reserva e testes da escuderia. O japonês tinha substituído Liam Lawson, que durou duas corridas na Red Bull e que, por sua vez, tinha tomado o lugar de Sergio Pérez, contratado por a equipa não confiar totalmente em Alex Albon, que tinha assumido o lugar naquele carro em 2019, depois de Pierre Gasly ter sido dispensado apenas alguns meses depois da saída de Daniel Ricciardo. Difícil acompanhar? É normal. A maldição do segundo carro da Red Bull é real.

Ainda sem terminar a temporada de 2025, Max Verstappen já sabe que terá o sétimo colega de equipa desde 2018, numa autêntica debulhadora de pilotos. A poucos dias do GP Abu Dhabi, onde o neerlandês ainda tem hipóteses de garantir o 5º título consecutivo, a Red Bull anunciou que Isack Hadjar vai transitar da Racing Bulls, a segunda equipa dos austríacos, para o tal embruxado segundo carro, uma decisão que premeia a excelente época de estreia do francês na Fórmula 1, onde surpreendeu principalmente em momento de qualificação, mas também ao tornar-se no 5º piloto mais jovem de sempre a conseguir um pódio, no GP Países Baixos.

A passagem daquele a quem já chamaram de Petit Prost para a Red Bull abriu um lugar na Racing Bulls, que a estrutura ofereceu a outro piloto que vai granjeando comparações também elas pesadas, seja com Max Verstappen ou com Lewis Hamilton. Arvid Lindblad tem apenas 18 anos e contando que estará à partida do GP Austrália do próximo ano, a 8 de março de 2026, será o 4º piloto mais jovem a correr na Fórmula 1, com 18 anos e sete meses, apenas atrás de Verstappen (17 anos, 5 meses e 15 dias), Lance Stroll (18 anos, 4 meses e 26 dias) e Kimi Antonelli, que esta temporada fez o seu primeiro Grande Prémio com 18 anos, 6 meses e 20 dias. 

Lindblad corre atualmente no Mundial de Fórmula 2
James Sutton - Formula 1

Filho de pai sueco e de mãe com origens na Índia, Arvid Lindblad é visto entre antigos pilotos e imprensa da especialidade como um dos maiores talentos do desporto automóvel para os próximos anos. Johnny Herbert, vencedor de três corridas na Fórmula 1 nos anos 90, assegura que está aqui o homem capaz de bater Verstappen. E o portal “The Race” diz que Lindblad é a maior esperança a sair da academia da Red Bull desde o neerlandês. Não é coisa pouca. 

Arvid nasceu no condado de Surrey, colado à zona metropolitana de Londres, e cedo deu uma guinada aos desejos do pai, que lhe comprou uma moto de motocross aos três anos. Aos cinco, Lindblad tentou pela primeira vez as quatro rodas, numa pista de karting local, e foi aí que se ligou umbilicalmente à velocidade. Dois anos depois já competia, com o pai a servir de mecânico nas suas viagens pelo Reino Unido.  

Aos 13 anos, os desempenhos em competições internacionais no karting chamaram a atenção de Helmut Marko, o homem que supervisiona o programa de jovens pilotos da Red Bull. E Portugal assistiu ao casamento que se seguiu. “Lembro-me perfeitamente de estar num hotel a tomar o pequeno-almoço com o meu pai e o telemóvel dele tocou. Era o Dr. Marko, a pedir para termos uma reunião”, contou o jovem à BBC, em abril de 2024. A reunião teria lugar horas antes do GP Portugal de 2020, em Portimão, quando Lindblad se tornou um protegido da Red Bull. 

Desde esse momento até à estreia na Fórmula 1 irão passar menos de seis anos. O primeiro contacto com monolugares aconteceu em 2022, na Fórmula 4 italiana, sendo escolhido, no ano seguinte, para a equipa Prema, estrutura que formou pilotos como Esteban Ocon ou Charles Leclerc. Nesse mesmo ano venceu o GP Macau no sempre exigente Circuito da Guia, onde só sobrevivem sem ir à parede os mais afoitos.

Britânico vai correr pela Racing Bulls em 2026, um dos mais jovens da história a fazê-lo
Mark Thompson

O ano de 2024 confirmaria as suspeitas do prodigioso talento saído das mãos de Lindblad, que se tornou o mais jovem piloto de sempre a vencer uma corrida na F3, logo na estreia, no Bahrein, com apenas 16 anos e seis meses. Nesse mesmo ano, em casa, em Silverstone, venceu a corrida sprint e a corrida principal no mesmo fim de semana, algo que nenhum piloto da categoria havia conseguido até então. Rápido e consistente, uma combinação nem sempre comum, este ano venceu a Formula Regional Oceania, anteriormente conhecida por Toyota Racing Series, competição na Nova Zelândia que revelou alguns dos principais talentos que hoje correm na Fórmula 1, como Lance Stroll, Lando Norris, Liam Lawson ou Franco Colapinto. Na F2 é neste momento 7º, mas a vitória na corrida sprint do GP Arábia Saudita valeu-lhe novo recorde: aos 17 anos e 254 dias, também é o mais jovem de sempre a vencer no campeonato que é o último degrau da escada antes de chegar a Fórmula 1.

O primeiro Arvid Lindblad

Ainda que o percurso fulgurante e debaixo da asa da Red Bull lhe valha mais comparações com Max Verstappen, Arvid Lindblad assume sentir uma maior conexão com Lewis Hamilton. “É possível que seja um pouco controverso o que vou dizer, dada a minha posição, mas por ter crescido em Inglaterra e por ser alguém de cor, o Lewis Hamilton foi o piloto com quem me senti mais ligado. Ele começou a correr na Fórmula 1 no ano em que nasci, assim que, irracionalmente, sinto essa ligação. Para ser honesto, sempre fui muito fã dele”, sublinhou na revista oficial da Red Bull, que terá perdoado a audácia do seu jovem prodígio.

Lindblad surpreendeu nos treinos livres do GP México, com um excelente 6.º tempo
Mark Thompson

Questionado, em abril deste ano, pelo portal GPblog sobre a insistência em lhe chamarem “o próximo Verstappen”, Lindblad optou pela resposta fleumática: “Não penso muito nisso, estou só focado em correr. Quero ser o primeiro Arvid Lindblad.” 

Em junho, a Red Bull garantiu que ainda antes dos 18 anos a FIA lhe concedesse uma autorização especial para obter a superlicença, necessária para correr na Fórmula 1. E os primeiros testes foram impressionantes. Em Silverstone, com a Racing Bulls, foi 14º nos treinos livres, e mais de arregalar ainda foi o desempenho com o Red Bull nos treinos livres do GP México, terminando com o 6º tempo na primeira sessão, ganhando aí inestimável experiência para o grande desafio que virá em 2026: tentar sobreviver no lago dos tubarões de pressão constante que é conduzir um carro com a chancela da Red Bull no Mundial de Fórmula 1.

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