Uma diferença que se esbate - e um golo histórico para Portugal
Hernâni Pereira/FPF
Portugal e Alemanha voltaram a encontrar-se 17 anos depois e, ao contrário desse longínquo ano de 2004, não estamos aqui para falar de uma goleada sofrida: a seleção nacional perdeu por 3-1, é certo, mas deu luta e marcou pela primeira vez ao poderoso rival, em jogo de qualificação para o Mundial 2023. A diferença é hoje muito mais estreita, não só nos números, mas também na ambição
A derrota frente à Alemanha no São Luís de Faro, a primeira nesta fase de qualificação para o Mundial de 2023, não desmente aquilo que, na verdade, não se pode desmentir - a evolução da competitividade da seleção nacional feminina, que a cada ano vai tornando mais estreita a diferença para as grandes potências europeias, que começaram nisto, em força, muito mais cedo que nós.
E a diferença não se vê só nos números. Mas vamos a eles: esta terça-feira, Portugal defrontou pela primeira vez em 17 anos a Alemanha, uma das equipas mais poderosas do mundo, número 3 do ranking, duas vezes campeã mundial. Nos dois últimos encontros, no já longínquo apuramento para o Europeu de 2005, Portugal perdeu por 13-0 e 11-0. No total, em jogos oficiais, a seleção nacional tinha 41 golos sofridos e zero marcados e só derrotas. Esta terça-feira, Portugal perdeu por 3-1, marcou pela primeira vez à Alemanha e, apesar da derrota, que será sempre uma derrota, está tudo mais perto.
Mas, como estava a dizer, isto não é apenas uma questão de números: é também uma questão de ambição e de atitude e nisso, depois de um início em que tremeu, Portugal foi gigante em Faro, terminando o jogo a arriscar e por cima da Alemanha. Ainda faltam alguns passos para chegar lá ao Olímpo das Alemanhas, dos Estados Unidos, das Suécias e das Holandas, talvez isso ainda leve o seu tempo, mas que já se pode sonhar com uma ida à Austrália e à Nova Zelândia, isso pode-se.
Já seria de esperar que a Alemanha entrasse a dominar. Portugal ainda colocou o pézinho de fora nos primeiros minutos, a tentar ter bola e a pressionar, mas rapidamente as jogadoras alemãs tomaram conta do jogo, com Portugal a tentar manter coesa a defesa e a espreitar alguns ataques rápidos.
Depois de algumas ameaças, o primeiro golo alemão apareceu aos 15’, por Leah Schuller, de cabeça após um canto. A partir dos 20 minutos começou o período mais complicado para Portugal, talvez o único em que a situação pareceu verdadeiramente não controlada: Huth marcou aos 23’ num remate à entrada da área e aos 28’ Leupolz aproveitou uma bola que ressaltou em Diana Gomes para fazer o 3-0. Pelo meio, Patrícia Morais salvou umas, Carole Costa e Diana Gomes outras. Portugal sofreu e temeu-se por momentos que os números crescessem.
Hernâni Pereira/FPF
Mas o golo de Portugal mudou a face do encontro. Aos 34’, Ana Borges, experiente como poucas, arrancou uma grande penalidade e estava nos pés de Carole Costa a história: um primeiro golo à Alemanha em jogos oficiais. O remate foi ao poste, mas talvez uma força daquelas desconhecidas que os céticos terão dificuldade em explicar levou a bola a embater nas costas da guarda-redes Merle Frohms. E entrou. Não terá sido o golo mais ortodoxo, mas contou e contou para a história da seleção nacional feminina.
Com o golo, Portugal perdeu o medo. Passou a estar muito mais tempo no meio-campo alemão e a seleção que lidera o Grupo H de qualificação para o Mundial viu-se, pela primeira vez, pouco confortável.
Que seria o sentimento em boa parte do 2.º tempo, em que Portugal equilibrou a balança, embora tenha pertencido à Alemanha o grosso das oportunidades, com Patrícia Morais em grande plano a salvar várias bolas de golo.
Aos 65’, Francisco Neto lançou Kika, num claro sinal da ambição de Portugal, na vontade de encurtar ainda mais as distâncias. E os últimos 15 minutos seriam de mais Portugal, mesmo com a Alemanha a meter gente fresca na frente. Tatiana Pinto esteve perto, aos 88’, e Fátima Pinto já nos descontos também assustou as alemãs, ao ganhar de cabeça na área à central adversária, coisa que se calhar, nos tais idos de 2004, seria impossível de ver.
Há poucas derrotas que tragam um sorriso e esta também não será uma dessas - Francisco Neto disse no final, aliás, estar "triste com o resultado". Mas dá pelo menos o sinal necessário para Portugal saber que já não falta tudo para lá chegar. No grupo, a seleção nacional mantém-se em 2.º lugar, com 13 pontos, um lugar que lhe permite disputar o playoff.