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Francisco Neto e as campeãs da Europa: “Temos é de ser muito fortes na nossa forma de jogar, é a única coisa que conseguimos controlar”

Francisco Neto e as campeãs da Europa: “Temos é de ser muito fortes na nossa forma de jogar, é a única coisa que conseguimos controlar”
Eurasia Sport Images

Na véspera do segundo jogo da fase de grupos do Europeu (20h, RTP1), o selecionador nacional reconheceu o poderio ofensivo das neerlandesas, que "estão cheias de jogadoras talentosas", e deu conta do desafio que lançou às portuguesas: tirarem a bola à seleção dos Países Baixos e tentarem "valorizá-la"

Tribuna Expresso

As ausências na seleção dos Países Baixos terão influência?

"Claro que não. Também já perdemos jogadoras das 23 que tínhamos escolhido, não acho que seja por aí. Pela profundidade do plantel e qualidade, são jogadoras que realmente têm jogado, mas quem acompanha e fez o histórico dos últimos 10 jogos dos Países Baixos sabe que rodam a equipa com muita qualidade e não deixam de ser competitivas por causa disso.

Claro que nos agarramos ao 11 que iniciou o jogo contra a Suécia, mas não é desculpa. Como não é desculpa para Portugal a ausência das nossas jogadoras, vai ser na mesma uns Países Baixos super competitivos, individualmente cheias de jogadoras talentosas, com uma experiência internacional muito grande, campeãs da Europa e vice-campeãs do Mundo. Vai ser um jogo muito complicado."

Estão mais avisados em relação a Portugal ou vão entrar sobranceiras?

"Uma equipa campeã da Europa e vice-campeã do Mundo, numa fase final, isso não existe. Ninguém entra... Mesmo equipas do ranking mais próximo daquelas que encontrámos, todas se respeitam imenso e entram muito fortes nos jogos, a quererem criar logo grande impacto e é isso que acreditamos que os Países Baixos vão querer fazer, e nós também queremos entrar hiper motivados e focados."

Miedema a Martens na frente de ataque: vão mudar a estratégia da seleção nacional?

"Quem nos acompanha há oito anos sabe que nunca mudámos nada nesse sentido, de maior reforço [defensivo] em função das adversárias. Queremos, acima de tudo, manter a nossa matriz e procurar ser competitivos e organizados nesse momento de organização defensiva, porque sabemos que individualmente a seleção dos Países Baixos tem jogadoras que podem fazer a diferença. Mas nunca iremos preparar isso em função de uma ou outra jogadora porque não sabemos qual será o onze, não faz sentido indicarmos às nossas jogadoras algo muito específico em função daquilo que não controlamos.

Temos é de ser muito fortes na nossa forma de jogar, esse é o nosso controlo, é a única coisa que vamos conseguir controlar assim que começar o jogo. Depois, estrategicamente, temos de ter as nossas armas e colocar em prática aquilo que delineámos."

Marcaram 48 golos na fase de qualificação

"No dia em que dependermos da qualidade individual das jogadoras é o dia em que não conseguiremos ser competitivos. Não é por não a termos, é por não podermos depender daquilo que é hoje estarem umas e amanhã poderem estar outras. Ninguém tem sucesso na continuidade com isso. Se calhar, amanhã o segredo é termos mais bola do que a Holanda. Sabemos que não é fácil, mas quanto mais tempo a conseguirmos ter, menos oportunidades de golo e menos vezes a Holanda chegará ao nosso meio-campo. Foi esse o desafio que lançámos às jogadoras: conseguirmos tirar-lhes a bola, termos a bola algum tempo, conseguirmos geri-la e valorizá-la, gerindo o nosso jogo.

Quando não a tivermos, trabalharmos o máximo para a recuperar em zonas que nos agradem e o mais longe da nossa baliza. Nem sempre vai ser possível, mas temos de ter as nossas competências quando assim não for. Felizmente, as nossas jogadoras entendem isso de forma natural. O nível vai subir e temos de estar preparados para ele."

Como tem trabalho a parte emocional devido aos primeiros 5' contra a Suíça?

"Isso é o que, de uma forma natural, as pessoas têm dito. Disse no final do jogo às jogadoras e volto a dizer: não acho que tenha sido emocional. Foi o primeiro remate, foram dois erros posicionais, não foi por entrarmos nervosos, não é justificativo. Tínhamos bola, não criámos erros, não havia esse nervosismo. Sinceramente, foi mérito da Suíça logo no primeiro golo e, depois, uma bola parada e fruto de um erro posicional.

Acho que as jogadoras deram uma resposta incrível por conseguirem mostrar aquilo que mostraram, mesmo na primeira parte, em que não era fácil conseguir segurar e ter a maturidade para, não jogando tão bem nem criando tantas oportunidades, suster a equipa adversária e empurrá-la, lentamente, para o campo dela. É sinal de uma mentalidade e maturidade construídas por elas, e entre elas, há muito tempo.

Quem foi aquele balneário ao intervalo, a forma com que comunicavam umas com as outras... É sinal de uma mentalidade forte, com muita maturidade, fruto do que tem sido o trabalho que têm feito. Elas têm aceitado o desafio, ao longo dos últimos oito anos, de jogarem contra as melhores seleções do mundo. Amanhã [quarta-feira] será mais um passo, mais um desafio, mais uma exposição a um nível de exigência altíssimo e sabemos que temos de estar à altura desse desafio."

O selecionador fez anos durante a semana. O melhor presente é a vitória?

"A ser para alguém, é para o Luís Marques, o meu adjunto que faz anos amanhã. Esta equipa tem personalidade, tem caráter, o que quero amanhã é que sejamos competitivos e que as jogadoras desfrutem. Se isso acontecer, tenho a certeza que vamos sair do jogo muito felizes. Sempre que isso acontece, conseguimos resultados que nos permitem dependermos apenas de nós. Quando isso acontece, elas são muito fortes e conseguem retirar prazer do jogo. Se, no final, formos melhores do que a Holanda, iremos celebrar os três pontos; se a Holanda for melhor, vamos dar-lhes os parabéns."

As jogadoras estão todas disponíveis para ir a jogo?

"Treinaram todas, mas faltam mais de 24 horas para o jogo e muita coisa pode acontecer. Mas, fisicamente, estão todas aptas. Hoje em dia há muitas coisas que não controlamos, mas todas fizeram o treino até ao final e vamos preparar o jogo com todas as jogadoras."

Inglaterra ganhou 8-0 à Noruega

"É Campeonato da Europa, é exigência máxima, todas as equipas aproveitam os erros do adversário e aconteceu-nos contra a Suíça. Pareceu-me que foi isso com a Noruega, ao mínimo erro a Inglaterra conseguiu concretizar. É o nível onde estamos inseridos, é uma exigência altíssima e temos de acompanhar esse nível."

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