Aplaudiu discurso de Rubiales, mas agora o selecionador espanhol masculino diz que censura “sem paliativos” comportamento do dirigente
Anadolu Agency
Em comunicado, Luis de la Fuente afirma sentir “repulsa” por qualquer “ato de violência machista” e aponta que “as ações protagonizadas por Luis Rubiales não respeitaram o mínimo protocolo que se deve seguir nestes atos de celebração”. Parte do corpo técnico da seleção feminina demitiu-se
Naquela extraordinária Assembleia Geral de sexta-feira, não só porque foi convocada de forma urgente mas porque o que dela saiu foi, de facto, extraordinário no sentido de bizarro e mirabolante, Luis de la Fuente estava sentado na primeira fila, ao lado de Jorge Vilda, selecionador feminino. De La Fuente foi dos que aplaudiu quando Luis Rubiales falou de “falso feminismo”, de “caçada” e quando levantou a voz para dizer que não se demitia.
Dias depois, uma aparente mudança de atitude. O selecionador nacional masculino de Espanha enviou este sábado um duro comunicado à agência EFE, em que critica o presidente da RFEF, censurando o seu comportamento, e pede reflexões.
“Em primeiro lugar desejo manifestar a minha repulsa ante qualquer ato de violência machista. Não há lugar para posturas mornas na hora de enfrentarmos estas situações”, começa por escrever Luis de la Fuente, escolhido por Rubiales para substituir Luis Enrique depois do Mundial de 2022 e uma das pessoas individualmente apontadas pelo dirigente durante o seu discurso, frisando a Liga das Nações que Espanha venceu em junho.
Luis de la Fuente continua, frisando que censura “sem paliativos o comportamento errado e fora do lugar do Presidente da RFEF” e que “as ações protagonizadas por Luis Rubiales não respeitaram o mínimo protocolo que se deve seguir nestes atos de celebração e não são edificantes nem apropriados para uma pessoa que estava a representar todo o futebol espanhol”.
Maja Hitij - FIFA
O treinador de 61 anos, há 10 nas estruturas da federação espanhola, deixa também na declaração o desejo de que “este desagradável episódio acabe o quanto antes”, pelo bem “do futebol espanhol” e que os organismos competentes “resolvam e tomem as decisões pertinentes o mais rápido possível”.
“Lamento profundamente os acontecimentos e, principalmente, que estes estejam a tirar protagonismo ao que é realmente importante: um feito sem precedentes conseguido pelo futebol feminino espanhol e de que todos nos devemos sentir orgulhosos”, diz ainda, apelando também a uma “reflexão” sobre a igualdade.
Parte da equipa técnica feminina sai
A inesperada tomada de posição de Luis de la Fuente segue-se ao comunicado assinado porque quase toda a equipa técnica feminina espanhola, escalões de formação incluídos, que colocou o lugar à disposição. Nesses nomes não está Jorge Vilda, o selecionador campeão mundial a quem Rubiales até ofereceu mais quatro anos de contrato em pleno discurso na assembleia.
Um dos elementos que assina a renúncia é Montse Tomé, presente nas primeiras filas da assembleia, número dois de Jorge Vilda e a quem o presidente da RFEF, também publicamente durante o seu discurso, propôs tornar-se diretora desportiva para o futebol feminino.
O comunicado da equipa técnica feminina, para lá de condenar o comportamento de Rubiales e apoiar Jenni Hermoso, revela que teve de assistir “obrigatoriamente” à assembleia de sexta-feira e que vários elementos femininos do staff foram obrigados a sentarem-se na primeira fila, “expondo a sua imagem e tentando dar a entender à sociedade e às jogadoras que partilhavam a mesma tese que o presidente da RFEF”.
De recordar que Luis Rubiales foi preventivamente suspenso pela FIFA por 90 dias e está a ser alvo de um processo disciplinar depois de ter beijado Jenni Hermoso, com a jogadora a sublinhar que o ato foi feito sem o seu consentimento.