O destino de Luis Rubiales ainda é uma incógnita. Sucedem-se reuniões, exigências, lamentos e até juras de amor, garantindo a sua inocência, como as da sua mãe, que iniciou uma greve de fome em defesa do filho, o presidente da Real Federação Espanhola de Futebol (RFEF) que beijou a jogadora Jenni Hermoso durante a cerimónia de entrega da taça às novas campeãs do mundo.
Depois dos membros da federação terem exigido a demissão “imediata” do dirigente e de o Ministério Público ter aberto um inquérito que poderia culminar num caso de agressão sexual, a União de Clubes Europeus (UCE), fundada este ano e em representação de 121 equipas, instou Luis Rubiales a abandonar o cargo “com efeito imediato”.
“O ecossistema do futebol por inteiro tem a responsabilidade de seguir códigos rigorosos de conduta profissional e garantir que qualquer forma de assédio será sujeita a uma política de tolerância zero”, pode ler-se no comunicado, citado pelo “The Guardian”.
A UCE congratulou-se com a suspensão de Rubiales levada a cabo pela FIFA, que serve tanto para consumo interno, como externo. Trata-se de uma “resposta inicial adequada”, defende a União de Clubes Europeus.
“Apoiamos incondicionalmente a seleção espanhola feminina nos seus esforços para criar um ambiente seguro, inclusivo e equitativo e encorajamos que aproveitem esta oportunidade para desmantelar a misoginia e o sexismo, tanto nas estruturas de governação, como no campo”, pode ler-se, ainda, no comunicado.
O dirigente tem sofrido pressões provenientes de todas as latitudes e naturezas, nomeadamente do governo espanhol, da FIFA, que o suspendeu provisoriamente, e até das Nações Unidas, a que se juntaram as manifestações nas ruas do país.
Rubiales, um ex-futebolista envolvido em vários casos polémicos desde que assumiu a federação em maio de 2018, esboçou um tímido pedido de desculpas, mas recusou demitir-se, garantindo que o beijo com Jennifer Hermoso foi consentido. A jogadora, atualmente no Pachuca do México, garante que não foi e exigiu “medidas exemplares” contra o dirigente.
Nas últimas horas tem sido partilhado em larga escala um vídeo de Jennifer Hermoso no autocarro da equipa, depois da final do Mundial, rindo-se das comparações entre o beijo de Rubiales e o de Iker Casillas a Sara Carbonero, em 2010, também após a final de um Campeonato do Mundo conquistado por Espanha. As diferenças não podiam ser mais profundas: o guarda-redes e a jornalista tinham uma relação, enquanto no caso que vai marcando a atualidade verificam-se contradições quanto a consentimentos.
Por Hermoso estar-se a rir e a referir-se à história do beijo de uma forma ligeira, acompanhada pelas colegas, que até cantam para ela e para Rubiales, entrando na galhofa, o vídeo tem sido usado para tirar força ao caso contra o dirigente. Independentemente do episódio no autocarro, dificilmente será desvalorizado um beijo indesejado dado pelo chefe máximo de uma entidade a uma ‘funcionária’, enquanto este lhe agarra a cabeça com as duas mãos, garantindo ela depois que não foi definitivamente consentido.
Contra Rubiales está também a sua bagagem, como recorda a “ESPN”. Desde acusações de agressão a uma arquiteta (um caso em que foi absolvido) ao escândalo da Supertaça de Espanha na Arábia Saudita e dos negócios com Gerard Piqué, passando pelas acusações de pagamentos ilegais com dinheiro da federação, que terá custeado ainda algumas festas privadas, assim como as acusações de espionagem ao presidente do sindicato de jogadores espanhol, e de gravar ilicitamente conversas com membros do governo, o rol de polémicas é longo e comprometedor.
A demissão provisória do dirigente, que também festejou a vitória contra a Inglaterra na bancada com a mão nos genitais ao lado da Rainha de Espanha e da filha menor, poderá tornar-se definitiva. Se esse desfecho acontecer, Luis Rubiales perderá o seu contrato dourado: mais de 925 mil euros brutos por ano, a que se juntam regalias habituais como telemóvel, carro e motorista.