Futebol feminino

Desconvocada greve na Liga Espanhola feminina: jogadoras garantiram salário mínimo em crescendo para as próximas três épocas

Desconvocada greve na Liga Espanhola feminina: jogadoras garantiram salário mínimo em crescendo para as próximas três épocas
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Depois de 18 meses de infrutíferas reuniões, bastaram 13 dias entre convocação e desconvocação da greve. As jogadoras profissionais da Liga F garantiram, para as próximas três temporadas, um salário mínimo de €21.000, €22.500 e €23.500. O acordo prevê uma revisão em função das receitas comerciais

Na ressaca do título mundial da seleção espanhola e das ramificações que espirraram do caso Rubiales, as futebolistas da liga espanhola, a Liga F, convocaram no primeiro dia de setembro uma greve para as duas primeiras jornadas do campeonato. Duas semanas depois, a greve foi levantada: logrou-se um acordo em 13 dias que não foi possível alcançar em 18 meses de negociações. As jogadoras profissionais garantiram, para as próximas três temporadas, um salário mínimo de €21.000, €22.500 e €23.500 anuais.

Futebolistas – representadas por cinco sindicatos (FUTPRO, AFE, Futbolistas ON, CCOO y UGT –, clubes e a Liga F chegaram assim a acordo na quarta-feira, escreve o “El País”. O acordo prevê uma revisão salarial nesses mesmo anos, que, em função do crescimento das receitas comerciais, pode elevar as cifras para €23.000, €25.000 e €28.000.

O acordo não chegou a tempo da primeira jornada, que se devia ter disputado entre 9 e 10 de setembro. Antes, conta o diário já referido, as jogadoras contavam com um salário mínimo de €16.000. Os patrões e clubes exploraram as fissuras na unanimidade das jogadoras, pois nem todas estavam OK com o feroz braço de ferro, mas acabaram por ceder à tal sugestão evolutiva proposta pelo Servicio Interconfederal de Mediación y Arbitraje FP, que tratou de fazer a ponte entre ambas as partes. Os representantes das jogadores queriam já €21.500.

Este foi mais um passo na solidificação da profissionalização do futebol espanhol, que ainda tem carências importantes e que não é condizente com o estatuto de seleção campeã do mundo. Ou seja, a luta não assenta apenas na remuneração das jogadoras.

Assim, com um desfecho que aproximou as jogadoras das suas exigências e os adeptos dos estádios, a Liga F arranca esta sexta-feira, com um Valência-Real Madrid.

E por cá, como estamos?

A Liga BPI, a principal divisão portuguesa, conta apenas com Benfica, Sporting e SC Braga como clubes inteiramente profissionais. Clubes como Famalicão também contam algumas futebolistas profissionais.

Em fevereiro, o Sindicato dos Jogadores Profissionais de Futebol enviou à Federação Portuguesa de Futebol uma proposta de acordo coletivo de trabalho para o futebol feminino. O tema caiu em saco roto muito rapidamente e nem as jogadoras, sobretudo as principais que estavam prestes a lograr a presença no primeiro Campeonato do Mundo, usaram a plataforma que dispõem para colocar o tema na praça pública. Foi como se não tivesse acontecido.

O documento previa a garantia “de todos os direitos já estabelecidos nas relações laborais para o futebol masculino”, assim como apontava para a fixação de prémios e salários mínimos, o que ganha outra expressão agora em Espanha.

Quanto a remunerações, o sindicato sugeriu três salários mínimos nacionais na Liga BPI. A proposta de contrato coletivo visa a implementação de prémios a pagar por cada clube em função do tempo em que as jogadoras estão ao serviço da entidade.

Nos vários pontos do documento estava inscrita ainda a intenção de proteger as jogadoras em casos de gravidez e maternidade. “Pretende-se conjugar os direitos já consagrados na gravidez e maternidade a qualquer trabalhadora em Portugal, com as melhores práticas internacionais no futebol feminino”, podia ler-se na proposta.

Exigia-se também uma clarificação das “proibições legais” relacionadas com o assédio sexual e moral. A entidade liderada por Joaquim Evangelista propunha que cada clube criasse um “protocolo de prevenção do assédio”.

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