Esta sexta-feira era o vai ou racha. Montse Tomé, a nova selecionadora nacional de Espanha depois da saída de Jorge Vilda, vai durante a tarde anunciar as convocadas para os compromissos das novas campeãs mundiais com a Suécia e Suíça, nos dias 22 e 26, a contar para a Liga das Nações feminina. Mas com que jogadoras?
Depois do caso Rubiales, que beijou inapropriadamente Jenni Hermoso na final do Mundial, o castelo de cartas do futebol feminino espanhol ruiu. Com a recusa inicial do presidente da Real Federação Espanhola de Futebol em se demitir, várias dezenas de jogadoras renunciaram à seleção até chegarem mudanças estruturais no organismo. Com Rubiales fora e Jorge Vilda, o criticado selecionador nacional, também demitido, a via de regresso de muitas destas jogadoras, onde se incluem todas as campeãs mundiais, poderia abrir-se.
Mas não é isso que vai acontecer.
Durante a tarde, quando tiver de apresentar uma lista de convocadas, Montse Tomé não lerá nela o nome de Aitana Bonmati, Irene Paredes, Alexia Putellas, Olga Carmona ou da maioria das que ajudaram a forjar o primeiro título mundial espanhol. Em comunicado lançado esta tarde, a posição da maioria das jogadoras que recusaram a seleção mantém-se: as mudanças não foram suficientes.
Das campeãs mundiais, apenas Athenea del Castillo e Claudia Zornoza não assinam o comunicado, rubricado por outras 18 jogadoras espanholas. Zornoza anunciou mais tarde que iria renunciar à seleção, algo que já havia decidido antes do Mundial, mas mostrando apoio às colegas.
No texto, as jogadoras afirmam que nas últimas semanas houve reuniões com a RFEF em que as futebolistas expressaram de forma “clara e contundente” as mudanças que queriam ver na federação. E exigem “a reestruturação do organograma do futebol feminino”, a “restruturação do gabinete da presidência e secretaria geral”, “a restruturação da área de comunicação e marketing” e da “direção de integridade” e, por fim, a “demissão do presidente da RFEF”, agora nas mãos de Pedro Rocha, depois da saída de Rubiales.
“Até agora, e tal como transmitimos à RFEF, as mudanças que aconteceram não são suficientes para que as jogadoras se sintam num lugar seguro, onde se respeitem as mulheres, se aposte no futebol feminino e onde podemos dar o nosso melhor em termos de rendimento”, lê-se ainda no comunicado.
Reunião de três horas e conflitos finais
De acordo com o portal Relevo, tudo ficou definido numa longa reunião que aconteceu na quinta-feira à noite e demorou mais de três horas. Nela, a maioria das participantes, entre campeãs mundiais e outras jogadoras que se juntaram ao protesto, mantiveram a sua posição. As críticas visaram, como se denota pelo comunicado, essencialmente os responsáveis das áreas de integridade, comunicação, marketing e a própria cúpula do futebol. O Relevo diz que Rafa del Amo, líder do futebol feminino da RFEF, é um dos citados pelas jogadoras, apesar de ter sido dos primeiros a apresentar a demissão depois da célebre Assembleia Geral em que Rubiales recusou demitir-se e apontou dedo às “falsas feministas”.
Andreu Camps, secretário geral da RFEF, é visto ainda como uma extensão de Luis Rubiales, alguém demasiado ligado à anterior gestão e com quem as jogadoras tiveram desencontros durante a crise de “Las 15”, grupo de jogadoras que após o Euro do ano passado exigiram mudanças, mostrando-se indisponíveis para serem chamadas à seleção. Algumas delas, como Aitana Bonmati ou Ona Batlle, regressaram ainda a tempo de serem chamadas para o Mundial, mas nomes importantes como Mapi León ou Patri Guijarro não se mostraram disponíveis para voltar.
Um comunicado estaria pronto para ser tornado público na manhã desta sexta-feira, mas divergências de última hora acabaram por atrasar o processo. Duas das jogadoras que venceram o Mundial acabariam então por não se juntar às colegas.
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