Futebol feminino

A federação cedeu e 15 das 23 campeãs do mundo voltaram à seleção espanhola com a nova treinadora, que não convocou Jenni Hermoso

Montse Tomé, antiga adjunta do demitido Jorge Vilda e nova selecionadora de Espanha, ao lado de Pedro Rocha, o presidente interino da federação
Montse Tomé, antiga adjunta do demitido Jorge Vilda e nova selecionadora de Espanha, ao lado de Pedro Rocha, o presidente interino da federação
AFP7

Pouco antes de Montse Tomé, nova selecionadora de Espanha, falar no anúncio da primeira convocatória após a conquista do Mundial (adiado devido à renúncia de 39 jogadoras e respetivas exigências), soube-se que a federação cedera às exigências das futebolistas. Como tal, 15 das 23 campeãs do mundo foram chamadas, além de outras que tinham rejeitado a seleção antes do Campeonato do Mundo

A primeira convocatória da selecionadora feminina espanhola de futebol, Montse Tomé, incluiu 15 das campeãs do Mundo, após 21 das 23 terem renunciado na sequência da ‘polémica’ com Luis Rubiales.

Tomé, que era adjunta do técnico Jorge Vilda, demitido no meio de um processo de reestruturação após o beijo de Rubiales a Jenni Hermoso, anunciou esta segunda-feira a sua primeira lista, com 15 regressadas que tinham admitido não estar disponíveis.

“Sim, falei com as jogadoras, com aspetos de ordem profissional. O que foi dito fica entre nós”, declarou a selecionadora.

Na lista para os jogos da Liga das Nações, ante Suécia e Suíça, estão nomes como Aitana Bonmatí e Alexia Putellas, duas das grandes figuras, mas também Athenea del Castillo, única campeã no ativo que não tinha declarado indisponibilidade (Claudia Zornoza retirou-se da seleção em definitivo), e ainda Mapi León e Patri Guijarro, que tinham falhado o Mundial.

Em sentido contrário, a capitã da equipa que conquistou o torneio, Jenni Hermoso, ficou de fora, depois do ‘turbilhão’ lançado no seio do futebol espanhol, ao denunciar o beijo não consentido do então presidente da Federação (RFEF), nas comemorações do título.

“Tudo o que se passou durante estes dias é muito desagradável. Por isso, estamos ao lado delas e acompanhamos o seu sentimento quanto ao que viveram. Sou respeitosa e quero estar quanto antes com as jogadoras, para poder preparar os jogos. Isto apanhou-nos de surpresa, mas tenho a sorte de estar rodeada de gente muito profissional”, declarou Tomé.

Rubiales foi, entretanto, suspenso, demitiu-se do cargo de presidente, e está sob o olho da justiça, desportiva e cível, com mudanças também na estrutura federativa, desde logo pela saída de Vilda, um caso precipitado pela denúncia da capitã.

“Estamos com a Jenni, e com todas as jogadoras, em tudo. A melhor forma de ajudá-las é estar próxima e ouvi-las. Quisemos proteger Hermoso da melhor forma, e foi esta. Contamos com Jenni, trabalho com ela há cinco anos e ainda joguei contra ela”, explicou Montse Tomé.

Assim, a primeira lista de “uma nova etapa”, uma expressão que frisou a selecionadora, parece incluir os nomes mais fortes e, à exceção de Hermoso, só conta ausências por motivos de lesão, e não por indisponibilidade ou outros fatores ligados à ‘polémica’.

“Nenhuma jogadora me pediu para não ser convocada. (...) Trabalhei com Jorge Vilda, mas não sou Jorge Vilda. As jogadoras conhecem-me, sei o que pensam de mim. Sinto-me bem e preparada”, explicou a nova treinadora principal, que foi hoje apresentada antes de divulgar a lista e fez questão de reforçar que apoia Hermoso em vários momentos da conferência de imprensa.

Antes de ser anunciada a lista em Las Rozas, a RFEF tinha emitido um comunicado em que instava as campeãs do mundo a “juntar-se à mudança” que pretende levar a cabo no organismo e no futebol espanhol, garantindo “um ambiente seguro” para esse regresso.

“É evidente que federação, sociedade e jogadoras estão alinhadas num mesmo objetivo: a renovação e o início de uma nova etapa em que o futebol seja o grande beneficiado por todo este processo”, pode ler-se no documento.

Ao todo, 39 jogadoras, entre elas a quase totalidade das campeãs do mundo, exigiram mais mudança à RFEF, declarando-se indisponíveis para regressar a menos que estivessem reunidas novas condições, num manifesto publicado na última semana.

Das 23 convocadas, 20 tinham assinado o documento.

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