Futebol feminino

Jenni Hermoso falou em tribunal sobre o beijo de Rubiales: “Senti-me desrespeitada, não fiz nada para estar naquela situação”

Jenni Hermoso falou em tribunal sobre o beijo de Rubiales: “Senti-me desrespeitada, não fiz nada para estar naquela situação”
Maja Hitij - FIFA

Quase dois meses após a final do Mundial feminino e do gesto do então presidente da federação espanhola, a jogador prestou o seu depoimento sobre o episódio perante a justiça do seu país, dando também a sua versão dos momentos em que terá sido pressionada a sair publicamente em defesa de Luis Rubiales

Faltam 10 dias para a final do Mundial feminino já ter sido há dois meses, diz-se que o tempo ajudar curar tudo, cliché de barriga cheia porque há temas, como o sucedido nesse jogo, incuráveis pelo impacto e pela dimensão que ganham. O beijo não consentido de Luis Rubiales a Jenni Hermoso que roubou a apoteose mediática da conquista do título à seleção espanhola não cessa de ter novidades. Feita a demissão do ex-presidente da federação de futebol do país, demitido, Jorge Vilda, o treinador que gerou tantos anticorpos nas jogadoras, a mais recente repercussão do caso que está justiça de Espanha recentrou a atenção na futebolista que foi posta no olho do furacão por um homem que lhe agarrou na cara para a beijar.

Sendo uma das convocadas pelo Ministério Público espanhol para prestar declarações, Jenni Hermoso fez o seu retrato do momento que virou do avesso a cerimónia de entrega das medalhas no final do Campeonato do Mundo, desde o instante em que Luis Rubiales a aborda no púlpito montado no relvado “A primeira coisa que lhe disse, ao abraçá-lo, foi ‘o que nós conseguimos’, e ele saltou para mim e eu mantive-me firme para nos aguentar. E depois ele disse: ‘Este Mundial ganhamo-lo graças a mim.’”, contou a futebolista segundo a “Telecinco”, canal de televisão espanhol que teve acesso ao depoimento e foi citado pelo “El País”. As palavras seguintes focaram episódio do beijo.

O “seguinte” do qual Jenni Hermoso se recorda são “as mãos dele” na sua cabeça e “não [escutou] mais nada”. Perante o juiz, terá prosseguido o relato: “Em nenhum momento [o beijo] foi consentido. Senti-me desrespeitada, não me respeitou a mim, como jogador, nem enquanto pessoa. Eu estava a viver algo histórico e pensei que isto iria ter consequências. Não fiz nada para me encontrar nessa situação.” De repente, no meio de “tanta emoção e de tanta alegria” pela recém-conquista do primeiro Campeonato do Mundo da seleção feminina espanhola, a jogadora da de 33 anos estava no meio de “algo em nada [fez] para que se concretizasse”.

Os pedregulhos consequentes, a sucederem-se que nem dominó, ainda vão fazendo tombar peças. Há quase dois meses, soube-se que os primeiros efeitos foram os pedidos de Luis Rubiales para que Hermoso prestasse uma declaração pública em sua defesa, além de uma tentativa da parte de funcionários da federação espanhola em colarem a autoria de um comunicado à futebolista do Pachuca, clube do México. Em tribunal, ela terá oferecido a sua versão de ambos os episódios.

Na viagem de Sydney para Madrid que trouxe a seleção espanhola de volta da Austrália para Espanha, uma escala em Doha, no Catar, serviu para Luis Rubiales gravar um vídeo que foi prontamente publicado nos canais da federação, servindo de primeiro semblante de uma espécie de um pedido de desculpa do então presidente, com o intuito de estancar a polémica. Nessa paragem, Rubiales terá clamado por ajuda a Jenni Hermoso, dizendo-lhe: “Sou muito boa pessoa e tu também és, e se ajudares uma boa pessoa…” A jogadora ficou desconfortável: “Estava a ficar muito nervoso, eu não tinha que aparecer em nenhum vídeo, e ele dizia-me - ‘Tens que me ajudar e fazê-lo pelas minhas filhas que estão a chorar no avião’. Ele estava a pedir-me para o ajudar a solucionar um ato que ele provocou. Eu senti que não tinha que ajudar ninguém.”

Logo no dia seguinte à final, a Real Federação Espanhola de Futebol emitiu um curto comunicado com frases supostamente proferidas por Jenni Hermoso, que pouco demorariam a ser desmentidas pelo site “Relevo”, citando, na altura, várias fontes. A futebolista também prestou a sua versão de desmentido, ao recordar o momento em que a então diretora de comunicação lhe apresentou uma declaração já escrita que a entidade lhe queria imputar. “Mostrou-me um papel, e eu não proferi uma palavra do que lá estava. E disse-lhe: ‘Mas tenho de fazer isto porquê?’ Temos de fazer algo, temos que parar isto. E eu: ‘Pois, façam o que quiserem.’ Mas eu não escrevi, nem disse, uma palavra daquilo. Senti-me outra vez obrigada a fazer uma coisa”.

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