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Futebol feminino

Nunca houve tantas mulheres a treinar seleções nacionais, mas o padrão cultural ainda as afasta dos bancos

Nunca houve tantas mulheres a treinar seleções nacionais, mas o padrão cultural ainda as afasta dos bancos
Gualter Fatia

Em 2024/2025, a Federação Portuguesa de Futebol terá oito mulheres entre treinadoras principais e adjuntas nas diversas seleções femininas. Em 2020 eram apenas três. Ainda assim, e mesmo que os números estejam a aumentar, são poucas as mulheres que arriscam investir numa profissão onde a valorização profissional ainda é escassa e as oportunidades diminutas

Quando Mónica Jorge chegou à FPF para um estágio, no dealbar deste século, ser mulher era por ali um papel solitário. Assim o foi durante longos anos. De 2000 até 2007, a atual diretora da FPF para o futebol feminino era a única treinadora mulher nos quadros da instituição, até à chegada de Susana Cova.

“Éramos muito poucas, duas, três. Mesmo no país éramos poucas treinadoras, havia pouca comunicação, as nossas seleções não estavam num patamar tão alto e o número de praticantes era muito baixo. Não íamos a fases finais de Europeus, não tínhamos a Liga BPI, portanto havia pouco estímulo para as mulheres”, explica a ex-selecionadora nacional de 2007 a 2012, ano em que passou a dirigente.

Duas décadas de crescimento depois, período em que Portugal marcou presença em Campeonatos da Europa e no último Mundial e aumentou significativamente o número de praticantes, o cenário já não é tão solitário para uma mulher que queira ser treinadora, ainda que muito falte fazer. Nas seleções nacionais femininas, da seleção A até às sub-15, há oito treinadoras, quatro principais e quatro assistentes. Nunca o número de mulheres a treinar na federação foi tão alto. Em 2020, antes da pandemia, eram apenas três.

Este verão, Inês Aguiar e Francisca Martins assumiram as sub-16 e sub-15, respetivamente, juntando-se a Marisa Gomes, selecionadora nacional das sub-19, e Beatriz Teixeira, nas sub-23, que transitam do ano anterior. Susana Bravo, Rita Gonçalves, Inês Rasquilha e Joana Tilly fazem parte do grupo de técnicas assistentes das diferentes equipas nacionais. Portugal tem hoje equipas de formação em todos os escalões, outra das marcas da evolução.

O processo para aqui chegar não foi apenas orgânico, até porque falta muita base. A preocupação com o reduzido número de treinadoras no futebol, que continua a ser um mal e uma realidade - nas equipas da Liga BPI, por exemplo, há apenas três treinadoras principais, no Benfica, Sporting e Famalicão -, tornou-se um plano. Mónica Jorge sublinha que “nos últimos quatro, cinco anos” houve uma necessidade maior de ter “mais mulheres no processo”, não só na federação mas também nos campeonatos nacionais: “Tivemos de alterar alguns padrões, para podermos ter um bocadinho mais de representatividade.”

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