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Futebol feminino

O clube mais valioso do desporto feminino está no futebol, é uma criança de 4 anos e foi fundado por mulheres, incluindo Natalie Portman

O clube mais valioso do desporto feminino está no futebol, é uma criança de 4 anos e foi fundado por mulheres, incluindo Natalie Portman
Katharine Lotze
Em julho, o Angel City, primeiro clube fundado por mulheres nos EUA e dedicado apenas ao futebol feminino, foi comprado pelo CEO da Disney por 227 milhões de euros, tornando-se “o mais valioso do desporto feminino”. Isto depois de em apenas quatro anos desde a fundação, em 2020, encher o seu estádio na maioria dos jogos, vender camisolas em 46 países e atrair nomes como Serena Williams, Billie Jean King ou Jennifer Garner a investirem. Julie Uhrman, presidente e co-fundadora, esteve em Portugal e explicou à Tribuna Expresso que não houve grandes truques para tão rápido caso de sucesso: basta tratar o futebol feminino como um negócio, valorizá-lo e contar histórias

Portadora de maneirismos espampanantes, Julie Uhrman dificilmente passa despercebida. Esbraceja com veemência enquanto fala, o tom de voz replica a linha de um sismógrafo, tem altos e baixos constantes a reboque do entusiasmo com que municia as palavras. No conteúdo, não tanto. Aí vigora o repique soado por uma visão positiva das circunstâncias, um otimismo constante ao rebobinar a cassete às origens do Angel City e a trilhar o caminho que antevê para o imberbe clube, ainda nem com idade para espreitar fora da creche do futebol. Mas a norte-americana dedica patavina ao contexto, é aliás esse desprezo que explica muita coisa.

Nas últimas espreguiçadelas da década anterior, Julie Uhrman, dona de um passado desportivo quase nulo, foi arrastada para conversas sobre dar a Los Angeles aquilo de que cidade não carecia, de todo: mais um clube desportivo. Entre basquetebol (Lakers e Clippers), hóquei no gelo (Kings), soccer (Galaxy), beisebol (Dodgers) ou futebol americano (Rams), já havia 11 equipas a operarem nas ligas profissionais dos EUA e a competirem pela atenção de nem quatro milhões de habitantes. Criar outro clube, ainda por cima de futebol, modalidade longe de ser uma prioridade no carinho dos americanos, e para mais apenas dedicado ao jogado por mulheres, fez Uhrman receber 100 ‘nãos’ de possíveis investidores. Nem o chamariz de Natalie Portman ser uma das esperançosas fundadoras parecia ajudar.

O principal investidor, marido de Serena Williams, retirada tenista que ganhou 23 Grand Slams, apareceria para dar o ‘sim’ desejado e empurrar uma reação em cadeia que fomentou o Angel City, clube que seria parido com branco e rosa nas cores. Aos poucos, as peças de dominó foram caindo umas contra as outras: além de Serena, também Billie Jean King, outra ex-tenista, foi cortejada pelo encanto de Hollywood de Natalie Portman, que por sua vez terá atraído a atriz Jennifer Garner a entrar como investidora, papel que Abby Wambach, campeã mundial com a seleção feminina dos EUA, entrou igualmente com dinheiro e algo terá a ver com outras 13 antigas internacionais americanas constarem no cardápio dos acionistas.

Hoje sabem-se os contornos da gestação do clube por culpa do documentário da HBO, mesmo que só a mostrar o que lhe convém, centrado no Angel City, nascido em 2020, mas, tão cedo, já benfeitor destas mordomias de atenção. Essas pretensões, garante Julie Uhrman, sempre atentaram, primeiro que tudo, ao potencial residente em qualquer história. “Queríamos liderar com paixão, propósito e lucro, não era em detrimento do entretenimento. Estamos em LA, tínhamos de criar uma experiência FOMO”, explica-nos, empunhando a expressão ‘Fear of Missing Out’, ou medo de perder um acontecimento. “Se eu conseguir criar algo em que tu queiras estar, seja lá como for, eu ganho, não importa quantas equipas já existam na cidade.”

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