O primeiro título europeu da época vai ser disputado esta quarta-feira (20h, TVI) por duas equipas em momentos opostos, mas que baseiam muito do seu jogo na forma como pressionam o adversário. Saiba o que esperar de uma partida que se prevê disputada ao centímetro, com ritmo alto e muita velocidade… ou não fosse entre duas equipas inglesas
Nunca uma Supertaça Europeia foi disputada por duas equipas inglesas, mas hoje, a partir das 20h, é o que vai acontecer, curiosamente entre os dois últimos emblemas de Inglaterra que venceram o troféu. O Liverpool ganhou a Liga dos Campeões e o Chelsea conquistou a Liga Europa, mas passados poucos meses as duas equipas vivem momentos bem distintos.
Enquanto os reds têm um projeto estável, com Jürgen Klopp como figura principal e um plantel que praticamente não sofreu alterações, não sendo por isso de esperar grandes mudanças em relação à época 2018/19, os blues viram sair o seu treinador, Maurizio Sarri (para a Juventus), bem como Eden Hazard, a sua principal figura (para o Real Madrid).
Para piorar a situação, o Chelsea está impossibilitado de ir ao mercado, por ordem do Comité Disciplinar da FIFA, após 29 casos de transferências de jogadores menores que violaram os regulamentos. Frank Lampard, ídolo do clube, é o novo técnico, o que acarreta algumas dúvidas: que futebol quer jogar o novo Chelsea e como planeia construir o seu futuro a curto prazo?
Matthew Ashton - AMA
Além da pré-época, as equipas já disputaram a 1.ª jornada da Premier League (e, no caso do Liverpool, também a Supertaça Inglesa, perdida nos penáltis para o Manchester City), o que pode dar algumas pistas em relação ao que será o jogo desta noite. O conjunto de Klopp venceu por 4-1 o Norwich, num encontro sem dificuldades de maior, e a equipa de Lampard foi goleada, por 4-0, em Old Trafford, diante do Manchester United.
Organizado num 4-2-3-1 no momento ofensivo e num 4-4-2 sem bola, o Chelsea mostrou, à semelhança do que havia feito nos jogos amigáveis, algumas boas intenções, mas ainda várias lacunas nos processos coletivos.
Talvez para tentar aproveitar algum do trabalho deixado por Maurizio Sarri, Lampard não abdica de tentar ter bola e construir desde a sua defesa, momento do jogo no qual Jorginho é essencial. O médio defensivo é a referência da construção dos blues, mas o central Zouma, sobretudo ele, deu pouca segurança nesse momento, e a equipa nem sempre apresentou a fluidez necessária.
Os problemas principais são, contudo, defensivos. Em organização, o Chelsea procura pressionar desenfreadamente, mas muitas vezes fá-lo sem as referências necessárias e acaba por ser batido, deixando os jogadores mais recuados muito expostos.
Há demasiados acompanhamentos individuais, o que leva a que se abram espaços importantes para o adversário explorar. A imagem em baixo representa um de muitos exemplos do encontro do último fim-de-semana, perante o United.
Já em transição defensiva, no momento da perda da bola, a equipa de Lampard também sentiu dificuldades, sendo que quase todos os golos do United procederam deste tipo de situações. A equipa somou demasiadas perdas, também devido à pouca qualidade individual dos seus jogadores, e aí Jorginho e Kovacic, os dois médios centro, não têm o perfil necessário para estancar as investidas dos rivais.
Kanté, que começou no banco, pode ser titular em virtude disso mesmo, e Pulisic, também ele suplente utilizado no último jogo, é uma possibilidade para o lugar de Barkley, na esquerda, de forma a dar mais qualidade no momento com bola.
A boa notícia é que o resultado de 4-0 foi francamente enganador, uma vez que o Chelsea até acertou duas vezes nos postes durante a primeira parte, e esteve várias vezes por cima do jogo. A má… é que o Liverpool é capaz de ser a equipa que melhor contra-ataca no mundo, e se as debilidades se mantiverem, Salah, Firmino e Mané (já deverá começar de início) dificilmente perdoarão.
Andrew Powell
Os campeões europeus, bem ao estilo do Gegenpressing tornado famoso por Klopp (sobre o qual pode saber mais no vídeo em baixo), vão procurar condicionar a construção do Chelsea desde cedo, provavelmente tentando anular Jorginho, de forma a que tenham de ser os centrais a assumir a iniciativa.
Quando essa primeira fase de pressão for ultrapassada, os reds serão mais pacientes, mas sempre à espera do momento da recuperação para colocar velocidade no jogo e tentar servir os seus extremos.
Com bola, o Liverpool tem desenvolvido a sua abordagem ao jogo, tornando-se uma equipa mais capaz de desposicionar os seus adversários e explorar os espaços certos nos timings correctos. As variações do centro do jogo são uma constante e algo para o qual Lampard tem de estar preparado.
Um possível ponto a explorar por parte do Chelsea é a baliza do seu rival, uma vez que Alisson se lesionou na primeira jornada e o reforço Adrián vai ser o titular. O guarda-redes espanhol tem a difícil tarefa de substituir o internacional brasileiro que, além das suas qualidades entre os postes, transmite uma segurança ímpar a toda a sua equipa… que perdeu a Liga dos Campeões 2017/18 muito pelos erros de Karius.
O favoritismo é claro, mas num jogo tudo pode acontecer, sendo a única garantia a de que o ritmo será alto e os dois conjuntos vão procurar dificultar muito a vida de quem tem bola, que terá pouco tempo para pensar.