Futebol internacional

Os bastidores da criação da Superliga: um fim de semana frenético, com telefonemas, desconfianças e um italiano a liderar o processo

Agnelli, presidente da Juventus, o homem que juntou as peças para uma transformação radical
Agnelli, presidente da Juventus, o homem que juntou as peças para uma transformação radical
Daniele Badolato - Juventus FC

Ao longo de meses, alguns dos clubes milionários da Europa, não necessariamente os mais premiados e os que estão em melhor forma na atualidade, desenvolveram uma competição entre eles, à revelia da UEFA. Os dois de Manchester, Liverpool, Arsenal, Tottenham, os dois de Milão, Barcelona ou Real Madrid (por uma vez unidos) são alguns dos nomes envolvidos na nova competição que está muito longe de gerar consenso

Tribuna Expresso

O jornal inglês “The Guardian” segue as pegadas deixadas na lama por alguns dos clubes mais ricos do futebol europeu para perceber o que originou a ideia de uma Superliga. E começa pelo dinheiro, claro está, sendo este, acima de tudo, o fator mais importante para impulsionar uma competição que está longe de ter o apoio dos adeptos, alguns deles antigas glórias desses clubes, como é o caso de Sir Alex Ferguson ou Gary Neville, no caso do Manchester United.

Algo aconteceu durante o fim de semana. Isto porque, segundo o jornal inglês, a UEFA teria conseguido bloquear a criação de uma competição rival da Liga dos Campeões, concordando com uma reformulação da prova mais importante do futebol europeu (até agora). O anúncio iria ser feito hoje. Afinal, parece que a “tal” Superliga vai mesmo avançar. Um executivo disse ao “Guardian” que “coisas que costumam levar anos foram feitas em horas”. “Todos os clubes precisam de dinheiro e, se te dizem que os outros todos estão envolvidos, não queres ficar sem cadeira quando a música para,” disse o mesmo executivo.

Há quem fale de um frenesim imparável, com telefonemas constantes ente clubes e ligas, com desconfianças históricas – essas sim – a virem ao de cima, antes do anúncio, no domingo, que 12 clubes, metade dos quais ingleses, apoiavam a nova competição. Segundo o “The Guardian”, um dos maiores impulsionadores da iniciativa foi o presidente da Juventus, Andrea Agnelli, apoiado pelos clubes da Premier League com donos americanos: Manchester United, Arsenal e Liverpool.

Também os “três grandes” de Espanha parecem ter sido fundamentais para o avanço súbito do projeto. Pondo de parte alguma da rivalidade – mas não toda – Real Madrid, Atlético de Madrid e Barcelona estão mais próximos de uma união do que nunca antes. O dinheiro é capaz de quebrar muitas barreiras e esse parece ser o caso. A urgência da situação também dificultava perdas de tempo com rivalidades.

Na sexta-feira, a UEFA contactou os média para confirmar que o presidente, Aleksander Ceferin, estava prestes a anunciar o novo formato da Liga dos Campeões. A reformulação da prova mais importante do futebol europeu prometia ser “mais competitiva”, com todos os jogos a contarem. O grupo de “fugitivos” tinha de se apressar e foi precisamente isso que fizeram.

No domingo à noite chegou o anúncio de que 12 clubes tinham decidido criar uma Super Liga. “Normalmente a ameaça da criação de uma liga do género tem o intuito de forçar negociações mas essa tática nunca tinha ido tão longe, por uma distância considerável,” disse uma fonte próxima das negociações ao jornal inglês.

As movimentações não têm apenas a ver com uma injeção de dinheiro a curto prazo; trata-se de controlo a longo prazo. Os maiores clubes da Europa – designação discutível – não querem apenas reduzir as dívidas, trata-se de uma tentativa de controlar a Liga dos Campeões em vez da UEFA.

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