Futebol internacional

O tempo passou rápido enquanto Toni Kroos foi passando a bola

O tempo passou rápido enquanto Toni Kroos foi passando a bola
Baptiste Fernandez/Getty

O médio alemão tem 31 anos e esta sexta-feira anunciou que não jogará mais pela seleção germânica. Foram 11 anos e 106 internacionalizações que Kroos "gostava que tivessem sido 109", não se despediu com um Europeu conquistado, mas, em 2014, ainda ganhou o Mundial com a Alemanha. A partir de agora, quem fica a perder é a bola

Toni Kroos é um tipo dos tipos que estão em campo para a bola poder ser cegamente confiante em alguém, é exagero engavetá-lo como um espécime em extinção, terá sempre de haver gente cujos pés são os olhos que o bem mais precioso num campo de futebol abdica de ter, mesmo que os pés sejam meros utensílios de jogo para o futebol que se começa a jogar na cabeça.

O alemão é dos futebolistas dessa estirpe, a quem se gaba e admira o que lhe irá dentro da cabeça para dentro de qual vislumbramos, apenas, o que ele mostra no campo - porque se a prática é o resultado da teoria, então Kroos é dos jogadores mais bem pensantes que houve para ver na última década.

Já o víamos antes desse lote temporal e continuaremos a vê-lo algures por Madrid, no Real onde amansa jogos à sua vontade quase há oito anos, mas não o voltaremos a ver a jogar com o branco da Alemanha em vez da branquela camisola do clube espanhol.

Toni Kroos garantiu esta sexta-feira que "não haverá outra" vez que suceda às 106 vezes em que jogou pela seleção germânica, portanto a última foi a que lhe deu uma derrota (2-0) contra a Inglaterra, nos oitavos-de-final deste Europeu onde, à saída, o médio esperava que "tivessem sido 109 internacionalizações".

FRANK AUGSTEIN/Getty

O alemão só tem 31 anos, é um jovem na grande ordem das coisas, mas um adulto em vias de ser etiquetado de velho pelo olhar curto do futebol, diz ele que "já tinha tomado a decisão de parar depois deste torneio há muito tempo", que pretende "ser mais marido" para a mulher e mais "pai dos três filhos". Por consequência, mais órfã ficará a bola quando for tempo de ser pontapeada entre seleções nacionais.

Não voltará a ter - será mesmo, hoje que os futebolistas vão e voltam dos deveres internacionais? - os tais pés que calçam as mesmas chuteiras, ou pelo menos do mesmo modelo, há anos e anos enquanto resistem à voracidade das novas coleções e cores que as marcas lançam sempre com pressa; esses pés que executam passes como muito passes.

Toni Kroos já saiu do Europeu e ainda é, por exemplo, o médio que maior número de passes certos (353) deu no torneio, é também quem mais os tentou entre centrocampistas, o centro de qualquer campo será sempre a morada predileta do alemão que, por lá, ajudou a Alemanha a conquistar o Mundial de 2014, no Brasil.

Futebol de seleções acabou de ficar sem uma das maiores constâncias passadoras que já teve, porventura a maior que tem desde a retirada dos pequenos espanhóis (Xavi, Iniesta, Xabi Alonso), ou do italiano com pinta de pintor (Andrea Pirlo), relativos a uma geração que já se vai despedindo.

O que é bom tende a parecer que passa mais rápido e Toni Kroos foi passando a bola quase sem se dar pela passagem do tempo.

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